Lagerfeld e Valentino no último dia da Semana de Paris Outono-Inverno 2002/03

13.03.2002

A banda pop-rock francesa Vive la Fête tocou ao vivo no desfile da Chanel para deixar bem claro o que o estilista alemão Karl Lagerfeld deseja para sua cliente: juventude e alegria de viver, que é o que ele deve estar sentindo desde que emagreceu e ficou praticamente um homem pela metade (o livro em que ele promete contar tudo sobre a dieta está previsto para abril). Foi o grande momento do dia nesta temporada de prêt-à-porter outono-inverno 2002/03 que termina hoje em Paris.

O clássico tailleur Chanel ganha versão moderna com saia mais curta, de preferência em couro ou tweed paetado, evasê ou pregueada, com barrigueira matelassada do mesmo tecido. O cardigã, outra herança de mademoiselle Chanel, é curto e seco, usado com blusa de musseline e laço no decote. Tudo vem sob um longo colete de lã, trazendo uma nova proporção ao look. Para arrematar com muito estilo, Lagerfeld inventa o que ele chama de “bota dupla”, que vem com uma polaina reta do mesmo material (de novo tweed ou couro). Esta bota 3/4 de cano largo, aliás, apareceu também em passarelas de jovens mais radicais, como o macedônio Marjan Pejoski, que faz o cano de sua bota de chamois ter praticamente o comprimento de todo o pé.

Já para a noite os vestidos são vaporosos, com barrados pesados de grandes cristais. É uma sensualidade sutil que contrasta com pequenas jaquetas tipo aviador. Nesse momento, Lagerfeld abre sua cartela de cores incluindo, além do preto, marrom e beges, o vinho, o verde e o azul. Aqui, é claro, o sapato muda de figura. Pode ser uma sandália com camélia ou o escarpin azul metálico com incrível salto-gaiola, que sobe até o calcanhar, em ouro. As bolsas pequenas, de ombro, aparecem mais. Vêm com os ícones da Chanel desenhados em branco sobre o tecido preto ou matelassadas de couro com franjas.

Pela manhã foi a vez de Valentino, outro darling do jet set internacional, que pediu para as modelos andarem rápido na passarela, apesar do generoso salto fino. O grande trunfo desta coleção é sua sabedoria ao trabalhar o dourado, um tom que está em ascendência entre os fashionistas. Tanto na maquiagem do olho quanto nas botas e roupas, ele se mistura ao preto e resulta harmonioso, sem os excessos que o dourado tem tanta facilidade para cometer. Couro, tweed, brocado, tafetá, paetês e rendas reluzem como ouro – ouro fino porque a Valentino Lady não quer ostentar o luxo em que vive.

Os tailleurs são debruados com pele e, como Chanel, adoram uma blusa de musseline com laço no decote. O laço também é um recurso para atrair os olhos para a silhueta Império, principalmente nos vestidos de noite como o de tafetá preto com manguinha bufante em point d’esprit usado pela brasileira Isabeli Fontana.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo

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