Semana de Paris Outono-Inverno 2002/03

12.03.2002

“Ela é uma lady na sala de visita e uma prostituta no quarto”, avisa o estilista Marc Jacobs sobre a mulher de sua coleção outono-inverno 2002/2003 para a Louis Vuitton, marca que está comemorando o resultado positivo das vendas do último ano, apesar da crise desencadadeada com o 11/09. Ou seja, desde que lançou sua linha de prêt-à-porter assinada pelo estilista americano, Louis Vuitton virou objeto de desejo.

E você entende a explicação de Jacobs quando vê formas e costuras de lingerie antiga em vestidos, tops e sutiãs de alpaca, usados de dia com jaquetas e calças de couro de motociclista (com detalhes em matelassê) ou com amplas parkas. A inspiração esquimó vai surgindo suave até chegar aos casacos para a noite, como o modelo areia com fitas e bordado na barra, debruado de vison. As cores são muito suaves: rosê, bege, cru, cinza e um pouco de preto.

A nova linha de jóias traz pingentes de aviãozinho e pulseiras com o famoso monograma LV. As bolsas entram discretas, em pequenos formatos, como a de paetê marrom com monograma. Os sapatos seguem a mesma linha: botas de couro ou pele, sem salto, ou sapatilhas tipo Chanel de cetim – aqui é o único momento de cor do desfile, em versões em vermelho e roxo. Delicada e feminina, a mulher Vuitton realmente parece uma lady em sociedade.

A inglesa Vivienne Westwood está em boa forma nesta estação. A estilista que deu a cara punk aos Sex Pistols trabalha elementos renascentistas de maneira própria e contemporânea na coleção batizada Anglophilia. O nome, segundo ela, surgiu porque a Inglaterra é conhecida especialmente por três coisas: “Seus tecidos, sua literatura e seus jardins”.

Franzidos e drapeados compõem uma sinuosa silhueta com vestes secas e curtas, que se abrem em pedaços graças a zíperes estratégicos. Ela mistura dois ou três materiais na mesma peça, como tweed, lã tropical, seda (com estampa de minirosas) e algodão (especialmente nas camisas brancas shakespeareanas). O look de calça cigarrete de tweed, baggy na cintura, com corset de babados de renda sobre camisão branco mostra como construções impecáveis em tecidos nobres podem ser elegantes sem escorregar na peruice gratuita.

Marjan Pejoski, o estilista que criou o vestido-cisne usado pela cantora Björk na cerimônia do Oscar ano passado, resgata elementos folclóricos da Macedônia, sua terra natal. Ele cria patchworks de couro, lã e chamois em motivos que variam entre folhas e flores a cenas eróticas extraídas de antigos livros chineses. A borboleta voa por toda a coleção, em bordados e crochês. Mas o grande destaque são as incríveis aplicações de vitrais, que arrematam cavas, decotes e tops. Cores: bege, rosê, cru e verde floresta.

Outro nome novo que vale a pena ser observado cada vez mais de perto é o do alemão Bernard Whillhelm. Para reforçar sua proposta de que a moda deve de fato andar na rua e ser algo cotidiano, ele usou o noticiário ao vivo de uma rádio alemã na trilha do desfile, criando um estranha sensação. Enquanto a platéia ouvia notícias sobre assaltos, atentados, bombas e violência, as modelos andavam pela passarela com atitude infantil e confortáveis vestidos de moletom, de preferência branco com aplicações de dinossauros coloridos, num clima “Land Before Time“. Espécie de Marcelo Sommer em Paris, Whillhelm coloca seus amigos pra desfilar, criando um clima bem streetwear.

Lilian Pacce para o Estado de S.Paulo

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