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Tim Blanks aconselha: diga sim!

10.10.2012

Tim Blanks está no Brasil – mas se engana quem acha que ele veio ao país pra relaxar no Fasano tomando uma ou duas caipirinhas após a maratona das Semanas de Moda internacionais. Ele veio divulgar os perfumes da Escentric Molecules, marca da qual é embaixador. Blog LP já havia conversado com Geza Schön, perfumista da marca, então aproveitou a oportunidade de conversar com o editor do Style.com sobre… moda! E, em especial, sobre crítica de moda – assunto importante principalmente depois de toda a polêmica gerada pelo desfile de estreia de Hedi Slimane. Quer saber a opinião de Blanks? Leia a conversa abaixo!

Qual é o papel de um crítico de moda pra você?
É engraçado… Se você pensar em outras arenas criativas, como cinema, literatura, teatro ou televisão, elas já têm critérios de crítica estabelecidos por serem levadas a sério como forma de arte há anos. Pra mim, parece que moda nunca foi levada tão a sério assim. Nunca houve uma estrutura crítica rigorosa ao redor da moda. Por ser considerada uma arte aplicada, a verdadeira crítica de moda vem das pessoas que compram e usam as roupas. Tipo: isso funciona [e eu vou usar], isso não. Então, pra alguém como eu, que senta numa sala de desfile e vê essas mulheres passando e vestindo tudo, não posso chegar e escrever “blablablá” – não sou eu quem vai vestir aquelas peças. Quer dizer, eu até poderia, se fosse uma drag queen

Mas existem críticos de moda bons?
Óbvio que existiram ótimos críticos de moda, gente como Kennedy Fraser, do “The New Yorker”, que é provavelmente a 1ª jornalista de moda que eu li. Ela não escrevia de acordo com um “guia” de crítica de moda, como acontece com o teatro ou a arte. É engraçado porque você mencionou Hedi Slimane sendo muito difícil com Cathy Horyn, dizendo “como ela pode escrever isso sendo do ‘The NY Times’?” Mas Clement Greenberg era crítico de arte do mesmo jornal e acabou alavancando a carreira de Jackson Pollock por ter sido muito duro com ele. Isso acabou construindo a reputação de Pollock. E quando veio Andy Warhol e a pop art como formas rejeitadas de expressionismo abstrato, Clement odiava tudo! Dizer que “Cathy Horyn é do ‘The NY Times’ e não deveria escrever nada disso” é uma absoluta besteira! Críticos difíceis existem desde sempre. O que eu diria é: moda não tem um modelo a ser aplicado, devido a falta de objetividade. Você não pode se afastar e dizer “esse é o modelo ideal pra moda”. Não dá pra falar “esse é o design ideal” como você falaria “Shakespeare é o melhor escritor que já existiu”. Em moda, talvez, eu diria que Cristóbal Balenciaga era o melhor estilista, mas alguém viria e falaria “não, era a Coco Chanel“. Modelos não se aplicam…

Qual é o seu jeito de criticar?
O jeito que faço crítica de moda é informando as pessoas e entretendo-as. Quero que elas se sintam como se estivessem lá, assistindo ao desfile. Sempre me perguntam porque escrevo sobre a trilha do desfile, por exemplo. Mas o estilista escolheu a música pra acompanhar as roupas, escolheu o cenário, trabalhou com o cara da luz – faz parte da performance! É tudo digno de nota. Costumo descrever a coleção relacionando-a com o momento atual da sociedade ou ligando com o trabalho passado do estilista. Gosto de ser bastante abrangente em relação às referências também. Tenho uma certa aversão a críticas porque não passei 6 meses ou duas semanas desenvolvendo aquela coleção. Não passei 3 anos gravando aquele CD ou 80 meses fazendo aquele filme. Então por que eu deveria sentar e, em dois minutos, escrever que aquela coleção é uma m*rda? Tem vezes que não é bom mesmo – mas eu não seria maldoso.

O que faz algo não ser bom?
Aí entra, novamente, a questão de objetividade da moda. Já saí de coleções que todo mundo amou e eu não gostei. E também já achei coleções maravilhosas e ninguém mais gostou. E quando leio a Cathy, vejo que ela age do mesmo jeito que eu, mas ela tem um modo muito direto de escrever. Como se ela estivesse sentada no topo de montanha – eu nunca faria isso. Sinto uma arrogância, que é algo que odeio. Acho uma péssima característica. Prefiro analisar as coisas de um ângulo mais humilde e assumir que é meu ponto de vista, minha opinião – talvez não igual a sua, mas estou te falando o que aconteceu. O cabelo era assim, a maquiagem era tal – e assim ajudo o leitor a formar a própria opinião. O problema da moda, claro, é que estou julgando desfiles, e não tem tantas pessoas assim em um. O detalhe é que eles são uma experiência totalmente 3D. Quando você olha as fotos no Style.com, só as vê de frente, em 2DLi Edelkoort diz que a Internet é horrível pra moda, porque as pessoas pararam de ter a experiência 3D – agora é só 2D. No último desfile da Comme des Garçons, a única coisa que Rei Kawakubo disse foi “2 dimensões” e achei que esse foi o comentário dela sobre como vemos a moda hoje: plana, achatada. Aparentemente errei na crítica e serei banido depois disso… Eu queria comunicar a experiência 3D – mas na verdade, isso soa bem arrogante (risos).

O que você acha dessa reação dos estilistas de banir um jornalista de um desfile?
Bom, não fui realmente banido – nem deveria dizer isso, foi muito dramático (risos). Fiquei confuso porque um estilista deveria ser aberto a tudo, e aí você imagina que todas as opiniões são bem-vindas. Hum… Fiquei decepcionado porque amo a Comme des Garçons. Mas acontece com todo mundo – aconteceu com a Cathy. Ela escreve algo e um estilista diz “você não é mais bem-vinda no meu desfile”. Parece um jeito bobo de tentar controlar o que é dito – como Hedi Slimane fez com ela – mas é atirar no próprio pé, não é mesmo? Especialmente se as pessoas começam a falar sobre suas tentativas de controle.

Qual é a sua opinião sobre esse caso específico?
De Hedi e Cathy? Bem, ela escreveu sobre o desfile vendo as fotos online, e o desfile foi uma experiência, foi muito dramático. Nas fotos, parecia plano – e realmente foi – e teve o drama da fila A, o teto que subia e descia… Coisas que foram mais do momento, sabe? Acho que as roupas foram pouco inspiradas e ele não deveria ter tuitado aquilo. E depois do 1º tweet, ele definitivamente não deveria ter twitado o 2º! Quero dizer, cadê o chefe dele? Cadê o CEO? Não acho que ele se ajudou com aquilo. Um fato engraçado: pouco depois de ter publicado meu texto sobre o desfile, ele me mandou um SMS.

E era bom?
[Faz que não com a cabeça e ri] E eu achei tão estranho que na noite de um desfile que as pessoas estavam loucas pra ver… Mesmo que ele estivesse quente do momento, por que perder tempo e escrever um SMS reclamando? Dá vontade de dizer: “Você não tem nada melhor pra fazer, sendo quem você é, nesse ponto da sua carreira? Por que você não sai pra jantar com a Kate Moss?”

E o que você ama na sua profissão?
Eu absolutamente amo minha profissão, é o melhor trabalho que já tive! E o que amo nele é que faço isso há 25 anos e é meio óbvio dizer que moda muda o tempo todo, mas… Amo música. Na verdade, prefiro música à moda. Ouço música o tempo todo, sempre tenho minhas velhas preferidas. E sempre terá uma nova música que você ama. Se você ama música, você ouve o tempo todo e sempre terá algo novo. Ontem ouvi duas ou 3 ótimas, por exemplo… “Elephant”, do Tame Impala e “Ye Ye”, do Daphni, que é o novo projeto do Caribou. E isso foi ontem! Se eu consigo achar 2 músicas que amo em um dia… A cada coleção, vejo pelo menos duas coisas que gosto, e isso me deixa feliz, sabe? Foi assim por 25 anos. Nunca fica cansativo pra mim. E eu diria a qualquer um que quer ser jornalista de moda: faça como eu fiz, que é dizer “sim” a tudo. Nunca diga não e faça tudo que te oferecerem – trabalhe de graça, monte um portfólio… Não seja o tipo de pessoa, o tipo de jornalista que se joga do seu lado durante a Semana de Moda e solta um muxoxo: “Mal posso esperar pra chegar em casa”. Então por que você veio? Vá trabalhar num correio em Idaho ou coisa parecida. Não sente aqui, onde um mundo de pessoas matariam pra ser você e sentar no seu lugar. Pare de reclamar, p*rra. Em moda tem muita gente resmungona… E acho que é porque elas não têm um bom motivo pra estar lá. Tenha um motivo pra fazer tudo o que você faz.

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