Repetto é dança – e não é dinheiro!

19.06.2013

A Repetto chega ao Brasil com direito a apresentação pra convidados nessa última terça, 18/06, do grupo Cisne Negro no shopping Cidade Jardim e presença do presidente Jean Marc Gaucher. É nesse shopping que a loja se instala, com uma bagagem histórica charmosíssima: de Brigitte Bardot a Michael Jackson e passando por Serge Gainsbourg, a marca conquistou celebridades por toda sua história que começou em 1947 . E continua sendo a preferida das bailarinas pra comprar sapatilha de ponta – formam-se filas em Paris pra conseguir uma, dependendo da época do ano! Blog LP conversou com Jean Marc sobre essa relação da Repetto com o universo da dança – confira abaixo!

Por que o Brasil agora?
Há 14 anos a empresa vem expandindo mas o volume de fabricação ainda era pequeno. Fizemos uma grande expansão na fábrica, terminamos isso há um ano e meio, e agora podemos produzir mais. Antes só estávamos na França e alguns países da Ásia, mas agora estamos em mais países da Ásia, Oriente Médio, Brasil – e o próximo passo deve ser os EUA [ele fala de lojas próprias – a marca também é vendida em grandes magazines ao redor do mundo].

É instigante vir pro Brasil antes de ir pros EUA, o mercado brasileiro está realmente bem, não?
Sim, porque é um mercado novo, com gente jovem. A classe média aqui tem crescido bastante, e quando a pessoa está na classe média, ela aspira por algo que a posicione mais próxima da classe alta. Além disso, os brasileiros são mais próximos da cultura europeia do que os americanos.

Conta um pouco sobre a relação entre a dança e a Repetto. Tem clientes que são fãs, mesmo sem serem dançarinas!
Quando você compra um produto de moda e o usa, o que você está mostrando é uma parte da sua personalidade. Repetto é uma marca de dança, esse é o nosso alvo. Tudo o que fazemos está ligado a isso. E quando você vê os valores que rondam a dança, estão a feminilidade, a liberdade, o movimento, a elegância, o charme, o ritmo. É isso que a gente entrega pras mulheres em geral, não só pras dançarinas. Quando o homem compra um sapato, ele o vê em cima de uma mesa ou algo assim, diz “esse está bom”. Possivelmente o escolhido é o mesmo modelo do sapato que ele tinha antes. O de antes era muito bom, ele quer o mesmo. Já a mulher é bem diferente, precisa colocar o sapato no pé, olhar no espelho, ver se o look ficou bonito. Não basta o sapato ser bonito em cima da mesa. Além disso, em SP existem muitas escolas de dança! Acredito que do mesmo jeito que o menino joga futebol, cresce e fica com esse sonho de ser um jogador de futebol, a mulher tem esse sonho de ser uma bailarina, uma dançarina. A gente dá essa atitude com os nossos produtos.

Vocês fizeram uma pesquisa sobre quantas escolas de dança existem em SP, antes de decidir chegar aqui?
Disseram que tem cerca de… mil? Mas, olha, vou te contar uma história: fui abrir uma loja da Repetto em Dubai. Na abertura, pedi pra ter uma apresentação de balé. As pessoas de lá disseram: “não, balé não tem a ver com o país, não existe na nossa cultura”. Respondi que se não tivesse balé, eu não iria na abertura, porque minha marca é de dança, não é uma marca de sapatilhas como qualquer outra. No fim, fizemos 3 apresentações em um dia com meninas que levamos pra lá, porque não existe escola de dança em Dubai, e ficaram todas cheias. Quer dizer: dança é importante pras mulheres.

Vocês não usam celebridades nas campanhas…
Não tem atrizes americanas, esse tipo de celebridade. Olha essa, por exemplo [mostra a foto da propaganda do perfume, que chega no ano que vem no Brasil]. Essa é a primeira bailarina do balé do Opera, de Paris. Ou seja, o que colocamos na frente de tudo é a conexão com a dança. Na Vuitton, a conexão deles é a viagem, a nossa é dança. E acho que, pras mulheres, a nossa é mais poderosa, em todo lugar.

Essa conexão chega em todos os produtos ou só na sapatilha de ponta, por exemplo?
Uma vez fiz um tour pela França com um grupo de dançarinas. Foram festas, apresentações, e de manhã precisávamos pegar o ônibus. As dançarinas pegavam suas bolsas e as usavam como travesseiro. Quando falei sobre a bolsa que eu queria pros designers, expliquei que tinha que ser mole, pra que assim as dançarinas pudessem dormir com elas! Outra coisa é que muitas dançarinas usam o mesmo modelo de bolsa, então ficam todas iguais no chão, uma do lado da outra. O que elas fazem pra diferenciar é deixar a bolsa aberta, mostrando o que tem dentro, e assim ninguém confunde. Então a bolsa tem que ter um zíper bem grande, uma abertura bem grande. Se uma mulher anda pela rua com esse tipo de bolsa, com tudo isso por trás, a atitude dela é diferente.

Qual é a diferença entre estar em um grupo de luxo ou ser como a Repetto, uma marca mais independente sem um conglomerado por trás?
Muitas marcas só querem fazer dinheiro. Começam um negócio, vendem, estão preocupadas com o lucro. E não só lucro: querem dinheiro pra anunciar, promover, mais designers. Depois a pessoa vende a marca. Mas eu não ligo. Não gosto tanto de dinheiro. Nunca levanto de manhã e penso em “fazer dinheiro”! (Risos)

Mas então qual é o motivo? Por que ter uma marca?
Pra ser capaz de fazer algo. Eu gosto disso. Por exemplo, abrir uma escola pra mim é muito importante, como a que temos hoje. No começo era só pra jovens, mas agora ensinamos jovens e adultos a fazer os sapatos, as bolsas. Abrimos só pra pessoas que depois trabalhariam na Repetto, mas há 2 anos, em um certo período anual, estendemos pra outras marcas. Gosto de fazer esse tipo de coisa.

Interessante, porque pensando bem, talvez fazer tudo só pelo dinheiro é algo muito pobre no mercado de luxo.
Só trabalhar pelo dinheiro é besteira. Por exemplo, na França tem muito imposto pra pagar. Então, gente com muito dinheiro precisa se mudar pra outros países. Você vê como é louco? Você fez seu trabalho bem, ganha dinheiro e tem que deixar seu país, seus amigos, tudo só por causa do dinheiro. Pra mim, as coisas importantes são outras.

Tags:              

Compartilhar