Categorias: Moda

O Brasil nunca foi ao Brasil?

07.10.2011

Silvana Garzaro/DivulgaçãoPhillip Lim: “O Brasil precisa construir sua história de moda”

O Pense Moda ocupou o MuBE durante 3 dias em sua 5ª edição com assuntos que vão desde a força de consumo da classe C até a rapidez que já está no nome do fast-fashion. E se o objetivo é colocar pra pensar as cabeças que podem formar uma nova geração na moda brasileira, exemplos como o de Cécile Coutlot e Phillip Lim podem servir, não como base literal, e sim como inspiração. Isso porque, como fica claro no discurso de cada um dos convidados internacionais, o sucesso de um mercado está muito ligado à cultura do lugar onde se encontram. “Nos EUA a indústria da moda ainda é jovem, não é como em Paris, onde existe muita história. O Brasil é como nós, precisa criar sua história de moda ainda – e pra isso deve se basear nas tradições de seu país, na cultura popular“, aconselhou Phillip Lim.

“Não dá pra pensar numa mulher de sedução misteriosa, se a mulher brasileira é alegre na cama, sem mistério”, observou André Torreta, da Ponte Estratégia, consultoria com foco na classe C. É nesse ponto que se encontram as palestras internacionais com as mesas de discussão brasileiras do evento. Celso Loducca, Rony Rodrigues , Humberto de Biasi e André lembraram à plateia que essa classe emergente é um bom retrato do que é o Brasil de fato. “A classe C sempre foi como é, mas só agora ela passou a ser respeitada pelas marcas, que agora tiveram que se render por causa de seu poder de consumo”, disse Loducca.

Silvana Garzaro/DivulgaçãoMesa sobre o poder de consumo da classe C: Rony Rodrigues, André Torreta, Leticia Malta, Celso Loducca e Humberto de Biasi

E a empresa que quiser acompanhar esse crescimento financeiro precisa se adequar, no que pode ser um bom movimento pra fazer com que a moda feita por brasileiros exista de fato pros brasileiros. “Precisamos prestar atenção nas nossas próprias referências”, lembrou André, seguido por Rony: “Pesquisas mostram que essa parcela da população sequer conhece nomes que todos nós achamos que conhecemos”, que depois citou uma pesquisa onde Clodovil disparou na frente de Alexandre Herchcovitch como a referência de estilista pros brasileiros. Alexandre, por sua vez, foi perguntado sobre esse mercado emergente em outro momento, numa sabatina, e afirmou não pensar nele na hora de fazer seu trabalho.

Ao mesmo tempo, o estilista, cuja marca faz parte da InBrands, assina colaborações com redes como a C&A, e tem mais de 20 produtos licenciados em seu nome, incluindo copos de requeijão. Atravessando o Atlântico, há o exemplo da Lanvin com sua comentada parceria com a H&M, que não fugiu dos temas abordados por Cécile Coulot em sua palestra. A gerente de acessórios femininos da marca – eles representam 50% da produção lá dentro – lembrou que, no caso de Alber Elbaz, foi feita uma seleção de peças icônicas da etiqueta que foi produzida pela rede sueca em outros materiais e longe dos quarteirões da alta-costura de Paris. A Lanvin topou democratizar a marca nesta ação conjunta, mas Cécile acredita que “fast-fashion não é criação, e sim atenção às tendências“. O discurso de Phillip Lim é parecido, mas a preocupação do chinês criado nos EUA – ele se descreve como alguém que gosta de “romancear a realidade” – vai além da simples origem deste tipo de moda: “Espero que as coisas mudem. Tudo está muito rápido: você põe tanto numa roupa e ela acaba em 3 meses. Não é bom nem pro meio ambiente, porque é apenas consumo, nem pra educar as novas gerações a respeito das roupas”.

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