Livro de André Leon Talley traz histórias de Anna Wintour e já está entre os mais vendidos!

02.06.2020

Foto Divulgação

André Leon Talley foi diretor criativo da “Vogue” americana e braço direito de Anna Wintour

Por Jorge Wakabara

André Leon Talley era peça de um universo fashion que já estava out pré-Covid-19. Um mundo onde “O Diabo Veste Prada“, o livro e o filme, soava como uma fábula encantadora da vida real. Como protagonista desse mundo,  era o braço direito da diretora toda poderosa Anna Wintour, da “Vogue” América. Eles se conheceram em 1983 e ele foi escolhido por ela para ser seu diretor criativo quando ela assumiu a revista em 1987 – e, apenas com uma breve pausa entre 1995 e 1998 (na qual ele trabalhou para a “W” em Paris), fez parte da equipe de Wintour até 2013, sendo seu fiel escudeiro por décadas, sempre juntos.

Hoje a sustentabilidade e a representatividade têm papel crucial na moda, e as palavras de ordem são propósito e papel social. Picuinhas e disputas de poder soam passé, a menos que… venham da boca de André Leon Talley, o contador de histórias deliciosas que decidiu que não tinha revelado o bastante em seu primeiro livro, “ALT: A Memoir” (2003), nem no documentário “The Gospel According to André” (2016). O novo livro de Talley, “The Chiffon Trenches: A Memoir” (2020), está na lista de mais vendidos de não-ficção capa dura do “New York Times“. Dá para chutar o motivo: a divulgação boca-a-boca gira em torno das revelações a respeito de sua relação com Wintour. E o título, bem sugestivo, pode ser traduzido como “trincheiras de chifom“. Soa como o que os americanos chamam de “tell-all”. É guerra?

Foto Divulgação

“The Chiffon Trenches” teve seu lançamento antecipado de setembro pra agora e já está na lista dos livros mais vendidos do “New York Times”

Embora já estivesse afastado do dia-a-dia da “Vogue“, talvez o maior estímulo para o “apontar as armas” tenha sido a dispensa de André das entrevistas de tapete vermelho do famoso Met Gala e do podcast da revista em 2018. Ele ficou magoadíssimo e não esconde isso nas entrevistas que tem dado. A partir daí, escorrega para fofocas bobas do tipo “reuniões com ela não duram mais que oito minutos” e outras mais pesadas como “nunca foi realmente apaixonada por roupas, só se importa com poder” ou “comer não era importante pra ela, então aprendi a lidar com isso”.

Talley e Anna Wintour estavam sempre juntos (aqui em 2007) – ele foi um dos primeiros homens negros a ter lugar garantido na primeira fila dos desfiles

A parte surpreendente é que Wintour em si leu um rascunho e só pediu que ele removesse detalhes mais privados sobre seus filhos. Por outro lado, Talley afirma que o livro “não é sobre Anna Wintour”. Bom, realmente não é só sobre ela… Sobra para outros também, como Karl Lagerfeld e Miuccia Prada.

Talley também consegue se encaixar nas novas narrativas. Ele foi um dos primeiros negros a ocupar um lugar na cobiçada primeira fila dos desfiles. Nunca chegou a levantar bandeiras abertamente – alguns o acusam de isentão, inclusive. O fato é que, em um passado de pouquíssima representatividade, ele era um dos personagens principais do mundo da moda: “Conquistei meu espaço não porque eu era um homem negro, articulado, bonito e magro – veja as fotos da época. Nunca pensei em ser ‘o’ homem negro na minha profissão até recentemente”.

Olha ele e Naomi Campbell bem jovenzinhos em 1991!

Assim como “O Diabo Veste Prada” fez sucesso e hoje os fashionistas o apreciam em pegada quase camp (tem gente que sabe as falas do longa de cabeça!), é possível que a verve de Talley siga pelo mesmo caminho: ah, o doce sabor do escapismo… E melhor: talvez essa obra também ultrapasse o papel. Ele já está estudando pelo menos quatro propostas de adaptação para série em serviço de streaming.

Obs.: Caro leitor, sinto lhe decepcionar. Daqui não sai um tell-all. E você nunca saberá se é porque os segredos são picantes demais para um best seller… 😉

Jorge Wakabara foi editor-chefe do site Lilian Pacce de 2009 a 2019

Tags:                          

Compartilhar