Kenzo e sua trajetória no mundo da moda

19.06.2008

Leandro Bugni

Kenzo Takada

Kenzo hoje é sinônimo de fragrâncias cobiçadas, aprisionadas em frascos simples e belos.  Mas há mais de três décadas, a grife, era sinônimo de inovação e ousadia, que aliava a tradição milenar japonesa às novas tendências da moda internacional, especialmente de Paris.  Já Takada, o estilista japonês, foi um estudante que, nos fervilhantes anos 60, andava sem muito dinheiro na capital francesa, para onde se mudara a fim de conhecer a moda e os costumes locais.  Nascido no fim dos anos 30, influenciado nos anos 50 por sua irmã que cursava moda, ele adorava desenhar e decidiu cursar moda no Bunka College de Tóquio. Dos garimpos pelos mercados das pulgas de Paris, onde pesquisava tecidos cultivando o estilo multicultural que se tornou sua marca, para a abertura de sua primeira loja foi um pulo.
Ao lado de grandes contemporâneos como Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, ele se tornou rapidamente o estilista japonês mais prestigiado do mundo.  Em 1999, na onda da formação dos grandes conglomerados de luxo, vendeu sua marca para o grupo LVMH, da Vuitton.  Se despediu das passarelas num grande desfile e resolveu descansar e viajar pelo mundo.  Hoje, se dedica à sua grife de design de interiores e à pintura.  E continua viajando.  Aportou no Brasil pela segunda vez na semana passada e realizou o sonho de conhecer a Amazônia.  Convidado especial desta SPFW, ele faz palestra gratuita no Senac Santo Amaro no próximo sábado e promete assistir a vários desfiles durante a semana.
Como o sr. começou na moda?
Eu era muito jovem, adorava desenhar e queria seguir alguma carreira que tivesse a ver com isso.  Minha irmã estudava moda e isso acabou me influenciando.
Como o sr. ‘conquistou’ Paris?
Houve um movimento coletivo dos jovens estilistas japoneses ou cada um tomou a própria iniciativa?
Fui para Paris em 1965.  Pretendia passar só seis meses para conhecer a moda e o estilo de vida dos franceses.  Depois de cinco meses, queria ficar mais. Comecei a procurar emprego e consegui mostrar meus desenhos para o costureiro Louis Ferraud e para a revista Elle.  Eles acabaram comprando os desenhos e me indicaram o caminho das pedras.  Em cinco dias, eu consegui trabalho.  Em 1970, abri minha primeira loja.
Como o sr. deixou a moda?
Em 1999, às vésperas de completar 60 anos.  Achei que seria um bom momento para parar, refrescar minha cabeça e começar uma nova vida.
Como é sua rotina hoje?
Moro em Paris, mas viajo muito.  Estou recomeçando a trabalhar com moda e com decoração de interiores.  E também comecei a pintar com tinta a óleo.
E sua linha de decoração de interiores?  Há um toque japonês nessas criações?
Minha casa, minha decoração e minha moda sempre vão ter algum toque japonês. Acredito que isso faz parte da minha identidade.

O sr. foi um dos primeiros estilistas do mundo a vender a própria marca para um grande grupo, o LVMH.  Como avalia esse processo?
Foi necessário fazer essas parcerias para que também fosse possível adequar a Kenzo ao novo cenário da moda mundial.
Como é ver seu nome em peças nas quais o sr. não se reconhece.  Peças que não foram criadas pelo sr. e não fazem parte de seu estilo e de seu gosto pessoal?
Acredito que o toque de outros estilistas e criadores traz um frescor e nova sensação para a marca.  Por exemplo, no que diz respeito aos meus perfumes, estou muito feliz e orgulhoso com a forma como a grife está crescendo.
O sr. tem uma trajetória de sucesso na moda.  Quais são os pontos altos?
1970 foi um ano memorável porque consegui introduzir minhas idéias, em vez de seguir as tendências daquele período.  Descobri minha verdadeira identidade, que compreende técnicas de corte, cores e estampas japonesas. Antes disso, eu não tinha nenhum interesse específico por tendências étnicas, mas, depois de lançar esse olhar japonês, acabei me interessando também por outras culturas diferentes.
Como o sr. vê a moda hoje?
A moda ficou muito globalizada. É interessante porque em plena era de informação e tecnologia, tudo se torna mais fácil.  Mas, ao mesmo tempo, o desafio é maior, já que você precisa ser diferente dos outros.  Isso faz com que esta época seja muito interessante.
O sr. já conhecia o Brasil?  O que o sr. gostaria de ver aqui?
Sim, estive no Brasil nos anos 70, visitando o Rio e a Bahia.  Encontrei uma cultura muito interessante na Bahia, que acabando influenciando o meu trabalho também.  Mas eu sonhava em conhecer a Amazônia, o que acabo de fazer!  Queria muito conhecer o teatro da ópera de Manaus, por causa de sua história e beleza. É a realização de um sonho!

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo (colaborou Flávia Guerra)

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