Não há como falar na ditadura brasileira sem mencionar o nome de Zuzu Angel, estilista que desafiou o regime militar com seu trabalho após o desaparecimento de seu filho. Morta em uma emboscada em 1976, até hoje suas criações compõem retalhos de uma história de resistência num período triste pro Brasil. Por isso amanhã, 1º/04 – data que marca 0s 50 anos do golpe militar -, é inaugurada a “Ocupação Zuzu” no Itaú Cultural, em SP, com curadoria de Valdy Lopes Jr e Hildegard Angel, filha de Zuzu e criadora do Instituto Zuzu Angel no Rio.
Em entrevista pra Lilian no “GNT Fashion” de hoje, às 22h, Hilde conta como tudo aconteceu: “Fui procurada pelo Itaú Cultural pra montar uma grande exposição que contasse a vida, a obra e a luta da Zuzu. Mas o prazo que eles propunham, 8 meses, era mínimo na minha concepção. Até que surgiu a ideia de marcar a estreia pra esta data, que simboliza os 50 anos do golpe militar. Aceitei de cara, faria até em 2 dias se fosse preciso! Isso é muito significativo… Corrobora o sacrifício da minha mãe, do meu irmão e da minha cunhada”.
Em 3 andares estão dispostos vestidos, quadros de bordados e estampas, fotos, cartas e documentos que traçam um panorama da vida de Zuzu, que se destacou por valorizar a brasilidade em suas criações numa época em que o padrão era copiar a moda de Paris. Em 1971, com o assassinato do filho Stuart, membro do grupo militante MR-8, ela instrumentalizou sua moda, usando-a pra expor a crueldade do regime militar. No mesmo ano organizou um desfile-protesto no consulado do Brasil em NY com vestidos bordados e a pomba da paz em luto, o sol atrás das grades, meninos com roupas de presidiários, soldadinhos de chumbo. Com a presença de correspondentes estrangeiros, o desfile foi divulgado no mundo todo, atraindo a atenção pra sua luta.
Zuzu foi assassinada em uma tocaia em 1976 na saída do túnel que atualmente leva seu nome no Rio. Quando Hildegard começou a juntar as peças pra exposição, passou a receber doações inesperadas, de admiradores desde então. Um filme do desfile-protesto, que nunca chegou a ser transmitido, está entre as pérolas da exposição, assim como o vestido feito com uma toalha de mesa, os modelos estampados (Zuzu assinava seu nome na auréola do tecido), o modelo encomendado pela atriz Joan Crawford e, é claro, o vestido preto que virou símbolo de seu luto pela morte do filho, usado com um cinto de crucifixos.
A expô é imperdível e fica em cartaz até 11/05 – não por acaso, dia das Mães. De 5ª a domingo (de 14h às 20h) rola performance dirigida por Karlla Girotto: modelos e atrizes vestindo réplicas das criações de Zuzu lêem trechos dos textos e cartas presentes na exposição. Essa mesma performance também acontece no espaço da frente do SPFW no dia 2/04, às 17h. Veja mais aqui na galeria!
“Ocupação Zuzu”
De 01/04 a 11/05, 3ª a 6ª feira de 9h às 20h e sábados, domingos e feriados de 11h às 20h
Entrada gratuita
Itaú Cultural: av. Paulista, 149, Bela Vista, SP
Informações: (11) 2168-1777
