What’s Beauty?

26.08.1997

Divulgação

Capa do livro “What´s Beauty?”

Na moda, os anos 90 são a síntese do século, a busca ansiosa e angustiante pelo novo, a atitude liberal que aceita e destaca belezas “fora de padrão” provocando a sociedade com tipos como as magricelas (waif) que substituíram as supermodelos e que devem ser substituídas por corpos mais pesados e atléticos nas próximas estações. “What’s Beauty?”, livro lançado recentemente nos Estados Unidos, reúne vozes e visões de especialistas internacionais de moda e beleza que procuram definições mais contemporâneas de o que é beleza, incluindo prefácio da atriz e modelo Isabella Rossellini. A autora Dorothy Schefer, ex-editora das revistas americanas “Vogue” e “Mirabella”, divide o livro em oito tópicos – Inocência, Luxúria, Artifício, Graça, Ícones, “Edge”, Sagacidade, Cenas -, para mostrar que a beleza “personifica e reflete as questões sociais e culturais de nossos dias”.

A compilação de casos e definições apresentados no livro reúne um elenco bastante glamouroso e sincero. A atriz Anjelica Huston conta que, aos 12 anos, ouviu o pai e a mãe falando que ela jamais seria uma beleza e decidiu: “Vou me fazer bonita. Posso não ser uma perfeição física, mas vou me imaginar maravilhosa.”

Sem se preocupar sobre o caminho que nos trouxe aos anos 90, o livro traz uma visão fragmentada da beleza contemporânea que vive a desafiar os conceitos tradicionais de beleza fazendo surgir estéticas que contemplam tanto a cirurgia plástica e um ideal apolíneo quanto a anorexia e androginia. No capítulo “Edge”, Richard Buckley comenta como o “estar à frente” perdeu o sentido: “Antes, ‘edge’ era um termo usado para descrever coisas ou pessoas consideradas de vanguarda ou fora da sociedade estabelecida. Hoje, é apenas mais um elemento de marketing para vender roupa, música, arte e beleza”. Estéticas como o desconstrutivismo, o grunge e a heroína-chic, que surgiram contra a ostentação e glamourização dos anos 80, a princípio consideradas antimoda, foram tão rapidamente incorporadas que, segundo Buckley, se tornaram apenas uma tendência a mais que não tem nada a ver com a saudável proposta de estilo individual.

Segundo Schefer, “ninguém imaginou que a heroína-chic fosse se espalhar tanto, sendo adotada até pelo mainstream apesar de corresponder a um look da nova geração”. O livro foi publicado antes da polêmica em torno dessa estética que dominou as revistas de moda (inglesas principalmente) nos dois últimos anos, foi reavaliada após a morte do fotógrafo Davide Sorrenti aos 20 anos, de overdose de heroína em fevereiro, e mereceu suspeitos protestos do presidente americano Bill Clinton (segundo ele, os estilistas e editores de moda estavam promovendo o uso de drogas para vender mais roupa).

“Ao contrário do que os jovens pensam hoje, não é verdade que as pessoas eram mais bonitas e os tempos mais glamourosos nos anos 70. Naquela época, nós sonhávamos com o estilo e as estrelas dos anos 30 e 40, como Garbo, Dietrich e Gary Cooper”, conta Bob Colacello no capítulo “Luxúria”. Jornalista da “Vanity Fair”, ele trabalhou com Andy Warhol na “Interview” à época, onde escreveu em 71 que “a beleza é a maior droga de todas” em artigo sobre o filme “Morte em Veneza”, de Visconti. Em “Ícones”, Elsa Klensch, da CNN, declara: “Ainda buscamos o glamour, mas de uma maneira mais realista. Marylin Monroe não teria êxito hoje porque riríamos diante de sua obsessão em ser sexy e glamourosa”. Segundo Liz Tilberis, diretora da “Harper’s Bazaar”, a beleza mostrada pelas revistas e anúncios nos anos 70 e 80 era um fake: “As modelos usavam um rosto sem expressão. Temos sorte. Hoje gastamos e consumimos muitos produtos de beleza, mas o look é de não-produção”.

Além de tentar redefinir o que é beleza, o principal objetivo do livro é ajudar a combater o “problema mais horrível deste século”, a Aids, revertendo parte de suas vendas para a organização Beautycares/Haircares, que arrecada dinheiro para os profissionais desse meio que contraíram o vírus HIV.

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo

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