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Suzy Menkes revela: “Sou uma blogueira”

26.10.2016

Habemus Suzy Menkes! A editora de moda, uma das mais respeitadas do mundo, modelo pra quase todos os jornalistas da área, está no Brasil pra participar do evento Fio da Meada, que faz parte das comemorações dos 50 anos do shopping Iguatemi SP, e também tem aproveitado pra dar um giro pelo SPFW – foi na Patricia Viera, no Reinaldo Lourenço, na Lolitta… A gente encontrou com ela pra bater um papo sobre o tão falado see-now buy-now, sobre o que a tem interessado na moda brasileira entre as coisas que ela viu e sobre… blogueiros. Confira!

Tivemos alguns exemplos de see-now buy-now na temporada internacional como Tommy Hilfiger e Burberry. Qual é a sua opinião sobre os resultados dessas coleções na passarela?
Sou a favor de mudar as regras, mas acho que você tem que ter segurança de estar mudando pra algo melhor. Não estou bem certa se é esse o caso. Claro que é muito importante reagir ao fato de que muita gente quer comprar algo já, que não quer esperar por 6 meses. Mas ao mesmo tempo há coisas maravilhosas feitas à mão com muito amor e carinho, é um outro lado da temporada internacional. Então não acredito na ideia de apenas uma regra pra todas as marcas, o que é apropriado pra cada uma deve ser levado em consideração.

Entrevistamos Li Edelkoort, que veio pra cá também por causa do Fio da Meada, e falamos sobre a energia nas roupas, sobre como o see-now buy-now esvazia essa energia. O que dá essa energia pras roupas?
Quando comecei a trabalhar com moda, eram apenas poucas pessoas vendo as roupas. Você ia pra um local fechado, com pouca gente, pra ver o desfile. Agora a moda se abriu, não é mais pra pouca gente, é pra todos. Sou da velha escola que acredita que as coisas mais bonitas da moda são as produzidas devagar, lindos trabalhos feitos à mão. Será que você pediria a um artista: “OK, trabalho legal, mas agora você tem uma nova agenda pra mostrar seu trabalho, vai ter uma mostra em fevereiro, outra em março, mais uma em junho, e uma em julho, e ainda uma em setembro e outra em novembro”? Você não pediria, porque sabe que o artista teria um colapso. Mas é isso que acontece no mundo da moda.

Você acha que em algumas marcas esse movimento de cunho mercadológico é mais possível e, em outras, não é?
Nós na indústria temos sido muito maus colocando tantas marcas numa mesma categoria. É muito clara a categoria onde a Chanel se encontra, mas ficou tudo muito “no mesmo lugar” agora. Qualquer marca que desfile na temporada de moda internacional acaba na mesma categoria que uma Chanel! Isso não é certo.

Sabemos que você gosta do mundo da joalheria, e inclusive já escreveu livros sobre isso. Você conhece a joalheria brasileira?
Uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei foi passar no Ara [Vartanian]. Ele acabou de abrir uma loja em Londres, e tem fãs como Naomi Campbell e Kate Moss. E não é só por causa dos clientes famosos, ele tem algo muito especial. Um trabalho muito minucioso e bem brasileiro de manufatura que é algo que está quase perdido. Acho que o Brasil devia ficar orgulhoso desses trabalhos manuais.

Você já veio ao Brasil antes, e agora está assistindo a alguns desfiles. Quais marcas chamaram a sua atenção?
Reinaldo Lourenço é um estilista interessante porque ele já está estabelecido, faz uma moda esperta e ao mesmo tempo mostra coisas novas. Os plissados, por exemplo, que é algo que todo mundo no olho do furacão da moda está fazendo, e é um plissado muito esperto. E ao mesmo tempo vejo coisas em um lugar oposto, como a Lolitta, que é claramente pra uma mulher bem jovem. É difícil pra mim analisá-la, não conheço o trabalho dela. Pareceu-me meio praia, mas não o tipo de praia que você espera do Brasil, é mais coberto, mais esportivo. Ver as modelos em uma livraria, me pareceram um pouco como bailarinas. Achei instigante. E estou ansiosa pra ver o Oskar [Mestavaht, da Osklen], admiro o trabalho dele. Ele tem uma reputação no mundo inteiro na área de sustentabilidade.

Você vai ficar até o fim do SPFW?
Não, e vou ver mais algumas coisas fora do evento, quero ver as coisas do Alexandre Herchcovitch e também estou curiosa pra olhar sapatos e bolsas daqui. E quero ver o que as pessoas estão usando nas ruas, e o que elas usam quando parar de chover! [Estava chovendo no momento da entrevista]

Nessa temporada o assunto dos blogueiros voltou à baila, como se ainda fosse 2013, a época do seu artigo “Circus of Fashion”, que ficou muito famoso. Qual é a sua opinião sobre os blogueiros hoje, ela mudou de 3 anos pra cá?
Gostaria de deixar claro que nunca me coloquei naquele artigo do “New York Times” contra os blogueiros, nunca me referi aos blogueiros quando falei das pessoas que estavam do lado de fora dos desfiles se mostrando. Não era um texto contra eles. E acho que qualquer pessoa da moda que hoje diz que os blogueiros não escrevem direito ou que falam inverdades está dizendo uma bobagem; temos bons blogueiros e blogueiros ruins, assim como jornalistas bons e ruins, faz parte. A ideia dos blogs em geral tem sido muito boa pra moda. Aproxima as pessoas, gera comentários. E vamos perceber o óbvio: no mundo digital, você não pode continuar a enxergar as coisas do jeito que eram antes. Mesmo em 2013. O mundo mudou. Se você não entende isso… Escrevo faz muitos anos, escrevi por quase 25 anos no “International Herald Tribune”, que era impresso, e agora estou na “Vogue” como editora internacional escrevendo online pra 19 “Vogues” de diferentes países. A Condé Nast está lançando a “Vogue” Arábia, então vão ser 20 ao redor do mundo! Sem a internet eu não seria capaz de fazer isso, portanto… sou uma blogueira.

!!!
É verdade. Se você for um blogueiro ou tiver qualquer outro tipo de função que envolva escrever sobre moda, o importante é que a informação esteja certa, que você olhe ao redor com os olhos bem abertos; e na minha opinião o seu texto não deveria ser sobre você querer usar ou não esse vestido. Deveria ser uma análise sem envolver o seu gosto pessoal pra moda, na medida do possível.

Pra terminar: quais são as tendências pra primavera-verão 2017?
A primavera-verão 2017 vai ser bem gráfica, com muitas linhas retas das mais diversas maneiras. Algo bem geométrico. Acho que todos nós ficamos um pouco cansados de todo esse floral em estampa digital que tem aparecido nas nossas roupas já há um par de anos. Não diria que esse grafismo parece mais moderno, mas certamente é uma imagem diferente, e é forte. É um pouco difícil porque a maior parte das pessoas, homens e mulheres, tem formas redondas. Então se você faz essas linhas retas, elas precisam ser muito bem feitas. E plissado, também temos visto em tantos lugares e de tantos jeitos diferentes!

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