O mundo “fake” e sexy de LaChapelle

26.06.1996

Nova York – Quem folheou alguma revista jovem estrangeira nos últimos tempos registrou o impactante colorido dos anúncios dos jeans Diesel, marca hype entre os jovens americanos e objeto de desejo dos ingleses, que ainda não têm acesso à dinâmica loja onde, além de se comprar roupa, pode-se jogar, beber, comer, ouvir música etc. em uma espécie de minishopping teen. O autor das fotos é David LaChapelle, que acaba de ganhar o prêmio de melhor fotógrafo do ano do VH1 Fashion e lançou o livro “LaChapelleLand” (Simon & Schuster, 152 fotos, US$ 50), com direito à exposição que termina sábado em uma galeria no Soho, em Nova York.

O trabalho de LaChapelle, 32 anos, privilegia o humor e a sexualidade em cenários superelaborados, dignos de uma produção de Spielberg. São cenas de drama e de uma artificialidade que vibra pelas cores e pela atitude – escandalosa, inocente, instigante. Em uma de suas poucas imagens feitas em estúdio, por exemplo, uma atriz pornô aparece de biquíni sobre um paredão de cachorro-quente com 800 salsichas minuciosamente temperadas com mostarda. Outra foto mostra a atriz Faye Dunaway – “o último mito de Hollywood”, segundo ele – deitada sobre uma limusine branca, desfalecida, entre fãs e policiais alterados.

Cada imagem de LaChapelle provoca uma reação imediata: só pode ser truque de computador. Mas ele jura que não suporta esse artifício e que tudo o que se vê é de verdade. Quem trabalhou com ele pragueja contra seu perfeccionismo meticuloso. Em uma foto para a revista inglesa “Arena”, ele encaixotou dez modelos nus em duas caixas de acrílico transparente: “Imagine como foi duro para eles ficarem nus e empilhados ali dentro. Era muito desconfortável, mas na foto parecem completamente à vontade”, afirma LaChapelle. “Minhas fotos fazem as pessoas viajarem comigo”.

Nascido em Connecticut, LaChapelle mudou-se para Nova York aos 15 anos, quando trabalhou como office boy do legendário Studio 54, palco de Andy Warhol, Halston, Lisa Minelli… Fez escola de artes em Carolina do Norte, onde mora sua família, e, de volta a NY, aos 18 anos, apresentou suas fotos amadoras para Andy Warhol na revista “Interview”. Encantado com a imagem de LaChapelle, ou de suas fotos, Warhol o contratou.

Foi um encontro perfeito para LaChapelle. Com o artista pop, ele lustrou o que já vinha apreendendo desde a infância, quando sua mãe Helga produzia obsessivamente roupas, acessórios e cenários das fotos da família, a ponto de posarem em frente de carros e casas alheios. Com ela, LaChapelle aprendeu a enxergar a beleza na cultura trash americana e descobriu que direção de arte e (muita) produção fazem a fotografia. “Qual é a vantagem de viajar para lugares exóticos, de natureza exuberante, e transformá-los em algo absolutamente artificial?”, pergunta questionando a imagem mais recorrente da fotografia de moda até o começo dos anos 90, imagem que ele inovou em matérias de moda para revistas como “Details”, “The Face”, “Vanity Fair” e “Vogue” França.

Fashion Shots

** É hoje à noite o desfile de graduação dos alunos de moda da Faculdade Santa Marcelina, que já formou nomes como Alexandre Herchcovitch e Lorenzo Merlino. Propostas que prometem para o outono-inverno 98: Thais Losso, Icarius e Patricia Dedini.

** Reinaldo Lourenço criou quatro roupas para o show de lançamento do novo disco de Daniela Mercury, a partir de amanhã no Olympia. O estilista banca babados e bordados, na onda do novo romantismo, em vestidos de renda branca, veludo vermelho, vidrilhos coloridos e poás-confete. Tudo com bainhas e decotes assimétricos.

** O shopping Iguatemi ganha esta semana sua primeira loja multimarca de grifes importadas. É a filial da butique Eclat – para quem procura autênticos Givenchy (by Galliano), Dior, Valentino, Lacroix, Montana e outros que desfilam pela av. Montaigne em Paris.

** Da série leia o livro, veja a exposição: quem estiver em Londres até o próximo dia 15 não pode perder a exposição “Blumenfeld: a Fetish for Beauty”, no Barbican Center. A mostra traz 350 trabalhos de Erwin Blumenfeld (1897-1969) que recheou capas e páginas de “Vogue” e “Harper’s Bazaar” nos anos 40 e 50 com suas fotos de beleza, moda e still-lifes. Ou então, encomende o livro, maravilhoso, na Freebook ou Tok na Cuca.

** Acaba de estrear no Victoria & Albert Museum, em Londres, a exposição “Fotografia Americana 1890-1965”, a mesma que esteve no MoMA de Nova York. Vale a pena conferir essa trajetória fotográfica e as imagens inesquecíveis de nomes como Dorothea Lange, Walker Evans, Stieglitz e Ansel Adams. Até 26 de janeiro.

** Mais exposição: estréia em fevereiro em Veneza, na Itália, a retrospectiva completa dos calendários Pirelli, de 1964 a 1997. Revolucionário no início, o calendário se transformou em um clássico com seus nus femininos de extrema beleza, que viraram referência no mundo da moda e da fotografia. Nomes como Sarah Moon, Arthur Elgort, Peter Lindbergh e Richard Avedon – autor das versões de 1995 e 1997 –  já assinaram embaixo.

** Para quem quer assinar embaixo de qualquer coisa com muita pompa, a Waterman e a Boucheron estão lançando uma caneta de ouro 18 k e safira por US$ 2,5 mil. São 3.741 exemplares no mundo – soma dos anos em que as companhias foram fundadas: 1883 e 1858.

Lilian Pacce

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