Farid Chenoune e a moda masculina

23.11.1998

Para confirmar que a moda masculina virou assunto corrente, está no Brasil o escritor francês Farid Chenoune, autor de “Des Hommes et des Modes – Deux Siècles d’Élegance Masculine” (Dois séculos de elegância masculina – dos homens e das modas) e do recém-lançado “Les Dessous de la Femininité – Un Siècle de Lingerie” (Por baixo da roupa feminina – um século de lingerie). A convite do Senac, Chenoune fala hoje no Centro de Educação e Moda do Senac sobre a cultura masculina da elegância, tema em que se especializou quando decidiu escrever seu 1º livro.

Formado em Letras, Chenoune lecionava francês e literatura para crianças enquanto colaborava com artigos sobre moda para o jornal “Libération” e a revista “VogueFrança. Percebeu que praticamente não havia literatura disponível sobre moda masculina e passou 5 anos pesquisando o tema até lançar “Des Hommes et Des Modes” em 1993. “O mercado masculino era virgem”, conta.

A história do homem de Chenoune começa no século 18, quando a Inglaterra passa a ocupar o lugar da França como pólo de referência de elegância. “O interessante é que na Inglaterra esta referência partia tanto da realeza quanto dos homens do campo, que usavam redingotes (do inglês “riding coat”) de lã enquanto até então predominava a seda na França”, explica. Com um humor quase britânico, ele diz que enquanto o homem vem do macaco, essa nova elegância vinha do cavalo, isto é, das roupas de equitação. Assim, os salões de chá passaram a ser pisoteados por botas de equitação, levando este costume para além do campo. “Já no começo do século 19, esses endereços mundanos eram frequentados por gente que usava bota mas não tinha o cavalo na porta”, conta, a exemplo do que acontece hoje com a influência esportiva: não é preciso praticar esportes para poder usar tênis.

Aos 49 anos, Chenoune diz-se fascinado pelas possibilidades de estudo que a moda oferece: “Através da história do vestuário, podemos avaliar de vários aspectos da sociedade, como a mudança do poder político que ocorreu naquela época – era o absolutismo francês contra o liberalismo inglês“.

Segundo Chenoune, a moda masculina até hoje se apóia em imagens clássicas do passado como a de Beau Brummell, Lord Byron e Oscar Wilde, que ocupam uma imaginária galeria da elegância. E cita a grife americana Ralph Lauren como exemplo: “Ele não vende roupa e sim um conceito fundamentado em 2 modelos – o do caçador à Hemingway e o da América urbana à Fitzgerald – que estavam adormecidos no inconsciente masculino”.

Para ele, há uma infatilização do mundo adulto. “A crise na transmissão dos valores faz com que o novo tenha mais valor do que o antigo; assim o homem de 40 anos passa a copiar o de 15 anos, enquanto antes a relação era oposta”. Chenoune alerta para a pseudo democracia do vestir. “Dizem que hoje as pessoas se vestem como querem, mas na verdade as grifes impõem um estilo que é submissamente seguido”. E exemplifica: as camisas que traziam o monograma bordado com as iniciais do dono, hoje ostentam o logotipo da marca.

Na palestra de hoje à tarde, Chenoune vai mostrar como a cultura clássica da elegância masculina tem se transformado, seja por mudanças sociais seja por evoluções técnicas. Ele acredita que o interesse acadêmico sobre moda masculina cresça bastante nos próximos anos, já que há muito a explorar. Ele mesmo já prepara outros livros: um sobre travestis, um sobre a vida nos clubes noturnos e outro sobre playboys.

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo

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