Exposição de Issey Miyake em Paris

01.10.1998

Não são só os novos modelos primavera-verão 99 que atraem a fashion net a Paris nesta temporada de lançamentos. Dia 13/10, a Fundação Cartier de Arte Contemporânea abre para o público uma exposição homenageando um dos grandes criadores deste século: o japonês Issey Miyake.

A proposta de “Issey Miyake Making Things“, que fica em cartaz até janeiro de 99, é mostrar a importância da pesquisa no trabalho de Miyake, concentrando-se nos últimos 10 anos. Miyake é um dos poucos criadores que consegue fundir naturalmente os conceitos de moda e arte, sem transformar a roupa numa “wearable art“. Ele, aliás, costuma modestamente preferir o termo “designer” a “criador” sob o argumento de que forma, função e estética são indissociáveis. Segundo Hervé Chandès, curador da Fundação, “ele é o Picasso de nossa época”. “É a conciliação perfeita entre a vida e arte; ele reinventa a noção de criador”, diz Chandès, 42 anos.

Suas peças revelam a cada coleção um caráter inusitado seja na forma, na matéria ou nas cores, independente das tendências comerciais de mercado. Artesão da tecnologia, Miyake é (con)centrado no equilíbrio entre futuro e tradição e não economiza tempo para atingir o resultado desejado: algumas idéias passaram 3 anos em “laboratório” até serem aprovadas. Foi ele, por exemplo, quem conseguiu industrializar os plissados que fizeram a fama de Mariano Fortuny na virada do século – e que agora são moda nos shopping centers. O resultado foi tão surpreendente que se transformou numa espécie de segunda marca, chamada Pleats Please (pregas, por favor), que ele reinventa a cada temporada com tecidos hi-tech e, desde 96, em parceria com artistas como Yasumasa Morimura, Nobuyoshi Araki, Tim Hawkinson e Cai Guo-Qiang – 200 destes modelos estarâo expostos à entrada.

Vestir um Miyake não implica apenas uma atitude. É preciso interagir com ele. A cada movimento do corpo corresponde um movimento muito particular da roupa. Numa estação, elas reagem ao andar num balanço vertical que lembra a batida ritmada de uma bola de basquete. Noutra elas espicham-se e adaptam-se ao volume do corpo, independente de seu tamanho. Noutra ainda elas brilham e se amassam como papel alumínio – batizadas de Star Burst (explosão de estrelas).

Os modelos Star Burst resultam de um processo em que lâminas de prata, ouro ou cobre são prensadas a quente sobre a roupa já pronta, seja ela de algodão, feltro ou jérsei. Terminado o processo, a roupa fica fina como uma folha de metal e é transformada em molde para a reprodução em escala. Faz parte da nova coleção que acaba de chegar às lojas européias e estará exposta na sala-laboratório, que mostra de fato como Miyake faz as coisas. Ali também aparece a série “Just Before” (verão 98), que mostra a roupa como um bloco. Feita de malha stretch circular, é tecida numa máquina tradicional reprogramada com a mais avançada tecnologia, sempre com o espírito de que “é preciso reciclar materiais existentes na pesquisa de expressões novas e estimulantes”.

“Temos que levar em conta as consequências do processo de criação numa época em que os recursos naturais do universo estão cada vez mais limitados; nesta coleção tentamos criar um modelo totalmente diferente a partir de uma forma essencialmente básica, criando a impressão de uma nova textura de tecido”, explica Miyake sobre o Star Burst. “Gostaria de provar que, ao vestir esta roupa, a mulher pode intervir e participar do processo de criação.”

Miyake exerce este papel há 30 anos e, como se pode ver, deu à roupa uma nova dimensão. “Ele é 100% engajado com o trabalho e seu diálogo tanto com a equipe quanto com os artistas é de colaboração mútua”, conta Chandès. É este conceito que permeia Making Things, apresentando suas peças de forma lúdica e dinâmica, como símbolos de liberdade, movimento e renovação contínua, onde a imaginação se conjuga com o bem-estar e a tecnologia de ponta.

A montagem interage também com arquitetura de Jean Nouvel. O edifício da Fundação é usado como um cenário onde as roupas ora transformam ora são transformadas pelo ambiente, como no vitral formado pelas Pleats Please. Entre as formas de exposição está o “jumping mobile“, uma instalação composta de 25 modelos que se movimentam de várias maneiras – um móbile que seria aprovado até pelo mestre Calder. Em novembro, a Fundação lançará o livro da exposição.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo

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