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“Camaradas Fashion é ruim mas vale a pena”

26.10.2009

Um dos filmes mais chamativos da Mostra Internacional pros fashionistas é um documentário: “Camaradas Fashion” trata de um recorte específico do cenário de moda da Alemanha Oriental na década de 80. O filme passou no primeiro dia da Mostra mas tem sessões também no dia 27/10, às 22h10, no Cine Bombril 2, e no dia 28/10, às 16h20, no Unibanco Arteplex 5. O jornalista Felipe Gutierrez, que é um dos repórteres do programa “Profissão Repórter”, não se considera fashionista – mas assistiu ao doc! É ele quem assina o texto abaixo:

“Chic, Charming and Durable (Chic, Charmoso e Durável) – ou simplesmente CCD – era o nome da grife de um grupo nos anos 80. Os desfiles eram apresentações parecidas com um show burlesco, uma mistura de teatro, performance e desfile, mostrando peças extravagantes e meio góticas feitas com materiais não convencionais como plástico para embalar morangos. Bem, até aí, nada demais. Em 1984, época em que a marca foi criada, deveria haver milhares de iniciativas semelhantes. A diferença é que a CCD era cria de uma molecada da Alemanha Oriental, onde um regime comunista decadente, centralizador e autoritário restringia a vida dos seus cidadãos e fazia tudo que podia para encher o saco de qualquer um que fosse minimamente fora dos padrões deles.

Reproduçãocamaradas-fashion-1Materiais alternativos em ‘Camaradas Fashion’

‘Camaradas Fashion’ gira em torno desse grupo que inventou uma moda diferente e contestadora nesse cenário opressor. As peças eram realmente curiosas – meio flamboyant, mas ao mesmo tempo sinistras e dark. E era preciso ser corajoso pra tocar um projeto como aquele na época. Como as imagens de arquivo mostram, a polícia secreta podia prender qualquer um que eles julgassem dissidentes. E o que aconteceu com esse molecada? A cabeça da CCD, uma estilista chamada Sabine von Oettingen, ainda é estilista. Um maquiador e cabeleireiro genial, Frank Schaffer, ainda é maquiador e cabeleireiro. O diretor, que era modelo, virou diretor. O mais curioso: um fotógrafo dessa avant-garde berlinense se converteu. Virou muçulmano, se casou e vive na Índia.

Reproduçãocamaradas-fashion-2Mais uma cena do documentário

Quanto a qualidade do documentário: as cenas de arquivo (da polícia e dos desfiles) e as fotos salvam o filme. O resto é um desastre. Espectador não é idiota e não gosta de ser tratado como idiota. É só prestar atenção que qualquer um percebe um diálogo artificial, um encontro encenado, um depoimento forçando a barra. Mas o diretor provavelmente não pensa assim. Uma pena, porque ele tinha um material incrível na mão.”

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