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Reciclando quimonos: as 3 heresias de Gustavo Lins

05.10.2010

O trabalho de reciclagem do ateliê de Gustavo Lins em Paris é bem especial: eles fazem, por exemplo, a criação de painéis artísticos a partir de moldes velhos. Mas o mais interessante desse único brasileiro que faz parte do time da alta-costura francesa é a reciclagem de quimonos!

Glauco Sabinoquimono-gustavo-linsQuimonos reciclados

O estilista conta que, entre todos os seus clientes, os que mais entendem sua moda e com quem ele mais gosta de trabalhar são os japoneses: “Eles têm uma educação, um refinamento… Vêm comprar uma peça e a experimentam de 3 formas diferentes, no mínimo. Se a roupa funcionar das 3 formas, eles levam. Há essa noção de proporção e estética”. Essa proximidade com os orientais possibilitou que se estabelecesse, nas palavras dele, “todo um comércio internacional de quimonos”. “No Japão, se ninguém guarda uma herança, ela tem que ser queimada. Então, tenho amigos que salvam esses quimonos para mim. Outros eu compro de algumas lojas que trabalham com peças que iriam para o lixo”, conta.

Quando as peças chegam aqui, Gustavo faz o que ele chama de “3 heresias”. A 1ª é colocar tudo na máquina de lavar – “pra tirar a energia de quem usou a roupa antes”. A 2ª é arrancar as mangas – “pra eu começar a trabalhar no manequim”. E a 3ª – “a pior” – é passar a máquina de costura no quimono. Ele considera essa última a maior heresia, pois um quimono tradicional é inteiramente feito à mão: da tecelagem, passando pela pouquíssima costura, até os bordados. Mas, então, por que ele não faz tudo à mão? “Porque estou no século 21. Já passei um mês fazendo um único vestido, mas um dia Issey Miyake me disse: ‘é uma perda de tempo costurar à mão’. E não é mesmo?”, pergunta.

Glauco Sabinogustavo-linsGustavo Lins

Ele conta que os jovens japoneses são os maiores admiradores dos seus quimonos “reciclados”, que tem um quê de tradição, porém com toda a modernidade da visão de Gustavo. No final do bate-papo, ele conta ainda que na semana passada John Galliano passou por lá fazendo a prova de 2 peças que encomendou. “Parece que ele viu uma amiga usando meu quimono e ficou muito interessado. Foi ótimo. Ele é um homem sempre muito agradável e interessante de se conversar”, revelou.

Glauco Sabino, infohunter do Blog LP direto de Paris

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