A lavanderia da Flavia Aranha #SB17SP

19.09.2017

Entre ontem e hoje (19/09) acontece o Sustainable Brands São Paulo, primeira edição paulistana desse evento que quer descobrir qual é o padrão de vida que queremos pro futuro levando em consideração a sustentabilidade e a tecnologia. Na parte da manhã e da tarde, aconteceram diversas conversas paralelamente no formato arena e levando em consideração diversos temas, da conectividade à embalagem e energia. Em um deles, focado em finanças, a gente encontrou a estilista Flavia Aranha! Ela, que é um dos nomes mais reconhecidos da moda sustentável brasileira, participou de um papo sobre novas formas de protagonismo social, levando em consideração o seu papel hoje e o que ela planeja pra sua marca no futuro. No meio disso tudo, uma surpresa: tem um volume maior de produção a caminho, viu? Pra quem pensava que marcas ecossustentáveis são sempre um modelo de escala muito pequena, o nosso papo com Flavia vai surpreender. Confira!

Explica pra gente essa história de lavanderia com tingimento natural!
A gente começou a crescer e percebemos que não estávamos mais com capacidade produtiva. Paralelamente, a gente entendeu que o equilíbrio financeiro da empresa é uma soma de todos os projetos artesanais com produtos industriais. Por exemplo: essa calça que estou usando agora. Hoje já consigo tingi-la em lavanderia, o que reduz o preço dela. E o terceiro ponto é essa questão de ter produtos mais acessíveis e assim atingir um mercado maior. Tem um público que gosta e acompanha as nossas ideias, mas que a gente não acessa por conta do preço. Então chegamos à conclusão que precisávamos de uma fábrica sustentável, um lugar pra gente colocar toda a nossa pesquisa. Eu, particularmente, estou estudando química, botânica, virei meio cientista! A estrutura deve abranger tudo isso: necessidade de mercado, possibilidade de aplicar inovação e chegar num preço mais acessível. Procuramos a Bem-Te-Vi [que é uma investidora social] e eles vão investir nessa lavanderia.

Que é um outro termo pra tinturaria, certo?
Isso. Então o projeto inclui reuso de água, a mesma água é utilizada oito vezes nos processos; parceria com o Senai; energia solar… É uma série de tecnologias sustentáveis aplicadas. O processo a gente já sabe como fazer.

Ou seja, o investimento é pra comprar o espaço…
Tudo: pra maquinário, a obra, a reforma que adapta o espaço pra essa tecnologia. Nisso, o maior valor é que a gente acabou com um planejamento novo pra empresa, que pensa em como a gente vai crescer, qual a estrutura que precisamos ter. Então esse investimento é geral, entra na gestão, na viabilização e na parte técnica. Praticamente redesenhamos nosso modelo de negócio de ponta a ponta. A implementação concreta deve começar em fevereiro do ano que vem. Já achamos o espaço… Estamos bem felizes!

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A ideia é que a lavanderia funcione só pra sua marca ou você quer abri-la pra outras, interessadas em processos de tingimento com pigmentos vegetais em grande escala?
Num primeiro momento é só pra gente, até mesmo pra entendermos melhor os processos, a aplicação dessa tecnologia que por enquanto só estamos aplicando no Senai… Essa fase de testes deve seguir por um ano. No segundo ano, pensamos sim em abrir pra marcas que estejam alinhadas com esses valores, um braço de serviço, de parceria; e dessa maneira também vamos potencializar essa estrutura.

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No crescimento sustentável da sua marca, você precisa escalonar o processo produtivo, certo?
Pois é. Quando a gente fala em crescimento, a gente tem que pensar também em como fazer isso se um dos nossos valores, por exemplo, é que a costureira construa a peça do começo ao fim.

Por que esse valor é importante?
A costureira ter esse conhecimento dá pra ela liberdade e autonomia inclusive pra ela decidir se quer ou não trabalhar pra gente. Ela adquire a consciência do tempo que ela levou pra fazer uma peça, consegue fazer a conta e saber se o preço oferecido pro trabalho é justo ou não. No nosso desenvolvimento no ateliê, a gente cronometra a produção da peça do começo ao fim. A nossa precificação parte disso: pegamos um salário, um mínimo de R$ 2.000 trabalhando 5 dias por semana, dividimos por minuto e calculamos a partir dos minutos trabalhados. Quando uma costureira só faz a “reta”, ou só overloque, ou só a galoneira, ou só o bolso, ela não consegue entender o valor do trabalho dela na peça final, não dá pra mensurar. Isso deixa ela amarrada e dependente dos outros processos. Por isso não trabalhamos com facções que setorizam.

Como você percebeu tudo isso?
Ficou muito claro quando fiz um trabalho de mentoria numa oficina de bolivianos. Um deles falou: “Consegui sair [do esquema exploratório anterior] porque tive a esperteza de pedir pra trocar de máquina constantemente e aprendi todas as operações. No que aprendi todas as operações, consegui fazer uma dívida e comprei uma máquina; no que comprei uma máquina consegui sair de lá”. Essa liberdade é um certo controle, se a peça que a gente calculou que demorava 30 minutos acabar demorando 50, o preço vai ser revisto e essa relação vai ser mais justa. E o desafio é crescer com essa cabeça, com esse quase artesanal. Nesse ponto, foi muito importante solidificar a parceria com os institutos Ecotece e Alinha, porque é justamente esse trabalho que eles fazem com as oficinas. Atuam em gestão, precificação, formalização, estrutura técnica. Isso vai se multiplicando, também: conforme vamos precisando de mais, eles também vão expandindo e trabalhando com mais grupos e cooperativas. Então, respondendo a sua pergunta sobre escalonar, a gente cresce em rede, vários pequenos formando um grandão, sem necessariamente ter uma estrutura de uma empresa só. 

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