Um papo com a blogueira que ficou um ano sem compras

19.11.2015

Tudo começou lá em março de 2011, quando Joana Moura resolveu criar o blogUm ano sem Zara” pra falar sobre uma decisão que tinha tomado: passar um ano sem comprar qualquer peça de roupa ou acessório, vivendo só com o que já tinha. A princípio a questão era financeira, mas deixar tudo registrado poderia tornar a experiência menos “desesperadora”… E não é que deu certo?! Hoje o blog continua a todo vapor, com cara e propostas novas, mas a mesma essência, dando dicas de um consumo mais consciente e falando sobre moda pra quem tem uma vida normal. Juntando essa história bem legal que a Jô tem pra contar com o desafio que é passar pela crise econômica do momento, fizemos uma entrevista com ela – confira:

Acompanhamos seus 366 dias sem compras e nos perguntamos qual seria a sensação quando tudo acabasse – então conta, como foi?
A sensação foi de muita vitória. Pra mim esse ano [2011-2012] foi uma conquista enorme, uma prova de que é possível mudar e alcançar coisas que a gente nem imagina. Ao mesmo tempo, me senti meio perdida. Primeiro porque, de um dia pro outro, deixei de ter a bengala do desafio. Podia comprar de novo e isso me deixou um pouco assustada porque não queria voltar pra onde estava um ano antes. Acabei passando uma semana, depois do dia 366, sem vontade de comprar nada.

Pra manter o blog, o foco teve que ser reformulado, né? Como você chegou nessa decisão de continuar?
Depois do 1º ano, o blog continuou mais ou menos com a mesma dinâmica: inspirar as pessoas a usar o armário de formas diferentes. A única diferença é que eu podia comprar. A verdade é que o blog sempre foi uma atividade paralela pra mim. Eu trabalhava numa agência de publicidade e sobrava pouquíssimo tempo pra pensar em novas abordagens. Passei 4 anos assim, levando o blog nas horas vagas, até que no início desse ano resolvi me dedicar integralmente a ele. Com isso, consegui ampliar o conteúdo. Hoje, além da moda do dia a dia, o UASZ fala sobre consciência, consumo inteligente e a ideia é ser um lugar que inspira mulheres a terem uma relação mais leve e inteligente com a moda e com o consumo de forma geral.

O que mudou em você e no seu jeito de consumir depois do ano sem compras?
Hoje me considero uma consumidora muito menos impulsiva e muito mais consciente. Acho que essa consciência veio do processo de 4 anos escrevendo, trocando experiências com as pessoas, pesquisando sobre moda e me auto-analisando. Hoje consumo de uma forma muito diferente de como consumia logo depois do 1º ano do blog. Naquela época fiquei meio mão de vaca, não queria gastar e comprava pensando no preço. Hoje o direcionamento do meu consumo está muito mais relacionado ao custo-benefício, a comprar menos peças, e que elas sejam mais versáteis e de mais qualidade.

Veja mais: A crise pede… Duas bolsas em uma

Recentemente você fez um post com vários truques de styling que aprendeu nos 4 anos de blog. Aproveitando a deixa e a situação econômica, que anda bem crítica, você tem também algum truque ou dica pra driblar essa tal crise?
Pra conseguir comprar de forma inteligente é preciso conhecer o que se tem. Acho que uma bela arrumação no armário é sempre um bom ponto de partida, isso vai te ajudar a entender melhor o seu estilo e comprar peças novas que realmente complementem o que você já tem. Quantas vezes a gente já não comprou alguma coisa por impulso, chegou em casa e ela não combinava com nada, ou era bem parecida com alguma coisa que a gente já tinha e nem lembrava? Acaba até sendo uma boa terapia e um alerta – provavelmente você tem mais roupas do que precisa.

Você se considera uma consumidora de moda inteligente e criativa, certo? Qual a definição dessas duas coisas pra você?
Acho que as duas coisas estão bem relacionadas. Comprar de forma inteligente é comprar o que você realmente vai usar e o que condiz com a sua realidade financeira; usar a moda de forma criativa é pensar fora da caixa pra fazer o melhor uso do que se tem, o que acaba sendo bem inteligente também. Fora isso, acho bacana incentivar as mulheres a descobrirem seus estilos pessoais, sem se incomodar com o que os outros pensam. Muita gente me fala: “Jô, acho isso lindo, mas não tenho coragem de usar.” Acho importante dar esse incentivo e mostrar que não precisa ter medo de tentar coisas novas.

Falando em criatividade, tem que ter muita pra passar um ano todo sem compras! Você sempre teve essa criatividade ou aprendeu a tê-la pela necessidade do momento?
Aprendi e continuo aprendendo. O 1º ano foi muito importante pra me fazer justamente perder o medo de tentar coisas novas. Admito que hoje olho pra trás e penso “Onde eu estava com a cabeça quando montei esse look?” Mas isso foi essencial! Foi o que me fez descobrir do que realmente gosto e o que não combina comigo.

Outro post recente que acompanhei foi sobre os fios de cabelo brancos. Como foi a decisão de assumi-los?
Não chegou a ser uma decisão. Fui deixando, eles nunca me incomodaram muito. Tenho cabelos brancos desde muito nova e eu pintava porque gostava de mudar. Depois que me mudei pros EUA, fiquei com preguiça de ir em salão e, quando dei por mim, estava com a franja toda branca. Na verdade, senti a necessidade de escrever o post porque muita gente vinha me perguntar se era branco mesmo ou se era efeito da foto. Algumas leitoras tinham certeza de que eu estava grávida [e por isso não podia pintar o cabelo]! Aí resolvi deixar clara a minha posição, de que deixar os cabelos brancos aparecerem é uma decisão válida como qualquer outra e só cabe à dona da cabeça. O fato de ter decidido deixá-los como estão não me faz mais ou menos vaidosa do que ninguém, e foi muito legal porque recebi um feedback sensacional das leitoras.

Relembre: Manifesto Detox da Moda

Sua vida deu uma mudada nesse ano, com a ida pra São Francisco. Como foi (e está sendo) a nova rotina por aí? Adaptação, diferenças com o Brasil etc…
Amo mudar. Nasci em Salvador, morei no Rio e em SP. Adoro conhecer lugares novos e fazer deles a minha casa. E está sendo assim com São Francisco. A cidade é encantadora mas, mais do que isso, é uma delícia poder explorar um novo lugar, conhecer novas pessoas, entender a cultura e os hábitos locais.

É fácil se segurar aí com tanto fast-fashion e outlet por perto? Eles fizeram diferença no seu consumo, mais do que quando morava no Brasil?
É engraçado isso. Acho que ficava mais doida com fast-fashion quando elas não estavam do lado de casa, sabe? Quando morava no Brasil, encarava as viagens pra fora como oportunidades de compra – aí você sai desenfreada, comprando porque sabe-se lá quando vai ter aquela oportunidade de novo. Morando do lado você perde esse senso de urgência.

Por último, conta pra gente uma peça coringa, aquela pela qual você tem um apego maior!
Tenho um apego grande às minhas peças superantigas da Maria Bonita Extra. Foram os meus 1ºs “investimentos” de moda, eu era absolutamente apaixonada pela marca na época da Andrea Marques, e cada uma delas me lembra de épocas especiais na minha vida.

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