Jeans na tela: a arte de Ian Berry

01.04.2015

O inglês Ian Berry, também conhecido como Denimu, tem 31 anos e acaba de passar pelo Brasil pro evento da Vicunha Têxtil com a C&A. Mas ele já voltou pra Amsterdã, onde trabalha, apesar de viver na Suécia e estar de mudança pra Londres na semana que vem! A gente foi atrás dele pra saber mais sobre suas impressionantes obras de arte em jeans, com efeito realista que se assemelha com uma fotografia ou pintura, apesar de na verdade ser um patchwork feito com o tecido. Ele vende suas obras na galeria Catto, em Londres, onde está com uma exposição. Aqui você confere detalhes sobre todo seu processo criativo e na galeria, as obras em si – clica na foto!

Como começou seu trabalho como artista?
Estava no final da faculdade quando tive a ideia de trabalhar com o jeans. Além de ser único tecido que eu me sentia confortável usando, notei sua variedade de cores quando vi uma pilha dele. Essa simples observação despertou a minha curiosidade em experimentar e me divertir com aquilo. Conforme desenvolvi meu trabalho, fui percebendo como eu e as pessoas em geral são muito conectadas com o jeans. Ou seja, o jeans também permite me aproximar de todo um universo de outras pessoas, e muitas delas nunca haviam se interessado por arte antes.

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Como é o seu processo de criação?
Pros quadros que são cenas, por exemplo, vou a lugares como Londres e NY em busca de inspiração. Não no Big Ben ou no Empire State, mas em locais que sei que vou encontrar cenas reais do dia-a-dia. Olho pra coisas que representam o estilo de vida urbano – acho que o jeans se tornou um tecido urbano de origens rurais. Essas cenas mostram uma cidade solitária, mesmo com muitas pessoas, e me interesso pelas camadas e pela profundidade das cidades, da vida, complementadas pela perspectiva dos ambientes. Encontrada essa cena, fotografo pra começar o trabalho no quadro.

Você também desenha antes de fazer o trabalho?
Antes desenhava, mas agora trabalho direto com a fotografia. Costumava deixar a foto azul, mas tenho trabalhado direto com a cor original de cada foto, o que acho mais fácil na hora de traduzir as sombras na minha cabeça, pois com os tons de azul você fica tentando achar cores parecidas no jeans e isso não funciona.

Quais as técnicas usadas pra desenvolver as obras?
Depois de feita a fotografia, vou atrás de diferentes tonalidades de jeans e as coloco à minha volta, como uma cartela de cores, do tom mais claro ao mais escuro. Tenho que ter certeza que os tecidos possuem um valor tonal semelhante – que se misturam bem. Começo com 7 ou 8 cores, mas sempre acabo adicionando mais durante o processo, corto o tecido com tesouras bem afiadas e colo as camadas. Só uso os retalhos de jeans e a tela de base, que também é no mesmo tecido. Aproveito as diferentes lavagens pra criar efeitos, como o bigode de gato pra criar um aspecto metálico, ou abrindo a bainha nos bolsos traseiros. O que faço agora acaba confundindo as pessoas e elas assumem que são pinturas ou uma fotografia, o que é um elogio, e ao mesmo tempo a maior surpresa é quando percebem que é tudo de tecido.

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Suas obras são grandes e precisam de muito tecido. Onde você consegue este material?
1º comecei com as minhas peças de roupa antigas, daí fui pegando dos meus amigos, dos amigos dos meus amigos… Quando isso não foi mais suficiente, comecei a achar peças em bazares de caridade e brechós. Passei a receber pilhas de jeans em casa e pacotes do mundo todo. Gosto de trabalhar com tecido usado, pois ele traz um efeito desgastado e desbotado que é muito útil nas criações. Atualmente, recebo muitas caixas da marca Pepe Jeans London, que me ajuda muito pois tenho vários modelos com as mesmas cores e isso facilita na hora de criar consistência na obra.

Quais são suas principais inspirações?
Tenho muitas. Começando por uma exposição do David Hockney que fui quando eu tinha 10 anos. Outra referência forte vem de quando eu morava em Londres cercado pelos primórdios do novo movimento de arte de rua, tipo o Banksy, que passou a ser um nome conhecido, e outros que surgiram por toda a cidade. Essa atitude de ‘podemos fazer o que queremos e não importa de onde viemos’ realmente me inspirou. O nome Denimu, em parte, foi porque pensei que fosse fazer mais arte de rua, mas eu nunca realmente fiz, rolou apenas um em Indiana, nos EUA. Ainda gosto deste movimento, e por isso estar no Brasil foi fantástico pois amo o trabalho d’Osgemeos, do Kobra e muitos outros que têm essa linguagem!

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