Handred traz tropicalidade na alfaiataria!

17.10.2016

O carioca André Namitala criou a Handred em 2012 do jeitinho que ela é porque gosta de criar roupas e não tendências. A marca preza pela alfaiataria de alta qualidade e durabilidade em tecidos 100% naturais, de clima supertropical e levinho. André diz que “muitas pessoas acham que algumas peças da Handred são de brechó”, enquanto outras são bem modernas mas com um toque vintage. A gente só sabe que a imagem de moda da Handred é incrível – tanto que ela é uma das escolhidas pra desfilar no Veste Rio que rola de 19 a 21/10 – e que você tem que acompanhar a entrevista que fizemos com ele abaixo!

Qual é o motivo da atemporalidade nas peças da Handred?
Sou uma pessoa de natureza bastante nostálgica, canceriano. Gosto das lembranças do passado, do imaginário e da imagética que cercam as memórias – mesmo algumas que nunca vivi, apenas imaginadas. Isso com certeza trouxe essa atemporalidade que coloco nas peças. Não gosto de datar um tempo certo, gosto do mistério que a roupa pode carregar. Além disso, comecei a trabalhar muito cedo. E logo no meu primeiro trabalho, em muitas ocasiões, tive que ficar à frente da fábrica onde trabalhava .Era uma empresa antiga, com funcionários muito mais velhos do que eu, alguns com 50, 60 anos.. Tive que adotar uma postura e uma roupa um pouco mais madura pra ser levado a sério por todos e me contextualizar com o ambiente. Tinha apenas 17 anos. Essa brincadeira do “se vestir mais velho” mas sendo bem novo me incentivou pra brincar com o tempo das roupas.

Por que a escolha do nome Handred?
Handred é um apelido meu em casa, dado pelo meu pai quando eu era bem criança. Ele brincava que era meu nome em alemão. E aí ficou, pros meus pais, primos e tios. Na verdade, tirando o H e o D final, é André!

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Como e quando você tomou gosto pela alfaiataria?
Desde criança sempre gostei de terno. Amava quando era pajem ou quando tinham que me vestir com algum blazer e calça social. Fui educado em colégio de padres, no Santo Inácio. Era cercado por batinas, camisas abotoadas e com certeza isso ficou marcado em mim de uma forma diferente. Quando cresci, comecei a imaginar como essas roupas ficariam no calor. Não queria me vestir menos pra ir à praia, por exemplo. Gostava da ideia da camisa social e short de banho. Gostava de imaginar calças brancas debaixo de um sol de 40 graus. E assim fui me moldando e exercitando essa alfaiataria tropical.

Quais matérias costumam ser usadas nas peças?
Na Handred só usamos matéria-prima natural, nada de sintéticos, nem o forro. Só trabalho com linho, algodão, seda e viscose, e tudo isso pode ser misturado entre si. O linho é com certeza meu carro-chefe.

Como é seu processo criativo? O que te inspira?
Costumo dizer que não tenho muito processo criativo. Andando na rua me vem uma ideia e pronto. É muito rápido o clique, parece que não tem muito processo. Depois é só correr atrás de colocar a ideia pro físico, e depois toda aquela burocracia pra produzir, vender… Crio muito em cima do tecido também. Se vejo a matéria-prima começo imaginar um milhão de coisas. Gosto de ter o toque, de sentir na mão. E gosto de imaginar histórias também, vestir personagens imaginários, criar uma época de ouro que não vivi como a Bossa Nova nos anos 50 e 60, por exemplo. E amo ficar imerso na natureza, sozinho e em silêncio. No Rio, vou muito à praia de manhã cedo, sem ninguém, vazia. Também vou muito ao Parque Laje. Gosto de praticar esse silêncio em qualquer lugar que vou. Amo parques, igrejas vazias, arquitetura colonial. O mar e cidades de praia com certeza são panos de fundo pra tudo o que faço.

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Em qual conceito você acha que a Handred se encaixa? Você a definiria como slow fashion?
Com certeza a considero slow fashion. Primeiro pela produção que é bem acurada, toda interna no meu ateliê e completamente controlada por mim. Não utilizo fábricas ou terceiros onde o único contato é feito por email ou telefone. Tenho relação com todas minhas costureiras. Adoro perguntar se elas estão com amor nas mãos. Outro ponto que é chave da marca é a aprovação das pilotos. A peça volta umas 4, 5 vezes até levar meu OK final. Se isso não é slow… (Risos) Além disso, todas peças da Handred tem um cuidado grande depois da produção. São todas lavadas, amaciadas, passadas, algumas vezes com partes costuradas a mão. Gosto de abrir meu ateliê e vender diretamente pros clientes. É muito bom explicar todos os processos que aquela peça envolveu. Quem fez, como fez, se foi lavada, amaciada, de onde vem aquele botão, o tecido, o por quê do viés ali, apontar os acabamentos. Esse exercício de vender e de conhecer o cliente me auxilia muito na criação, às vezes faço uma roupa e na hora grito “Felipe!”, por exemplo, e uma semana depois chega o Felipe comprando no ateliê.

Em um futuro distante, o que espera pra Handred?
Espero que cada vez mais a Handred transmita sensação de qualidade, de roupa boa, gostosa de usar. Quero expandir com muito cuidado pra dentro e fora do país. Conheço todos os donos de lojas pra quem vendo, faço questão de conhecer onde a Handred está e gosto dessa relação. Não tenho pretensão de virar algo muito grande, se não perco todo esse dia a dia de ateliê e costureira e passo a virar uma corporação, onde não respondo mais sobre a autenticidade das criações e serei obrigado a fazer coleções com 1.000 referências. Quero pequenas boutiques aconchegantes da Handred pelos balneários no mundo. Com certeza quero aprimorar minhas campanhas fotográficas, poder pirar e viajar mais com elas. Amo a equipe com quem trabalho e vou amar quando puder dar todo o suporte pra nossas ideias loucas e bonitas. Sonho em fazer figurinos pra filmes e fazer apresentações memoráveis e sensitivas com a marca também. E quero muito ter uma revista semestral da Handred pra expor todo esse trabalho. O set de fotos é com certeza meu segundo momento favorito com a roupa. E com certeza, ainda vou fazer algum trabalho que envolva os deficientes visuais!

Handred: 21 3495-1685

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