Move!: Moda e arte na teoria e na prática

13.03.2013

Moda é arte? A pergunta que não quer calar voltou à tona no 1º dia de painel do Move!, mediado pela Lilian com a participação de Pamela Golbin, Cynthia Rowley, Dudu Bertholini e Ricardo de Castro. Pra começar, Golbin – diretora e curadora do Les Arts Décoratifs, do Louvre – lembra: “Essa relação começou em 1858 quando Charles Frederick Worth se colocou como um artista que assinava suas criações, como alguém que assina suas obras de arte. Desde então, moda e arte continuam andando juntas. Nos anos 30 isso se intensificou com as parcerias entre Schiaparelli e Dalí, por exemplo. Mas estamos falando de alta-costura, é muito diferente do que aconteceu depois. Marc Jacobs mudou a escala desse tipo de parceria na Louis Vuitton, hoje são muitas roupas vendidas, isso atinge muito mais gente”.

Veja quem foi na abertura do Move!

Um argumento comum de quem defende que moda não é arte é o fato de existir uma grande indústria por trás da primeira – portanto, o objetivo final de um estilista é vender. “Mas o artista também precisa vender, essa é a verdade”, questiona a estilista Cynthia Rowley, e continua: “Tenho formação em artes e escolhi a moda porque achei que era um jeito mais fácil de me bancar. Mas com minha mentalidade artística, não entendi por que um maiô com asas não vendia. Meu trabalho constante é me adaptar ao comercial“. E Pamela complementa: “O que é excitante na moda é ser algo muito criativo, mas onde existem regras, porque no fim temos uma cabeça, dois braços, duas pernas…”

E a parceria entre artistas e estilistas segue se fortalecendo, independente da discussão. Mas como o artista vê isso? A Lilian fez essa pergunta e o consenso é que ver sua obra em movimento é uma experiência interessante. “A marca gosta, porque ganha espaço na mídia e o artista faz coisas diferentes do que está acostumado e ganha dinheiro, é uma troca”, completa Pamela. Dudu e Rick trabalham muito juntos, por exemplo, e “um trabalho inspira o outro”, diz Dudu.

“Há algum tempo as grandes marcas contratavam estilistas pra trazer prestígio pra elas. Existe agora uma tendência de chamar artistas pra trazer esse lado cool pras etiquetas, que antes era papel dos estilistas. Acho que a tendência é isso aumentar. Mas você precisa entender os dois mundos pra dar certo, não dá pra querer só se beneficiar sem troca”, diz Cynthia. Ela é seguida por Golbin: “Murakami não disse sim pra Louis Vuitton [Takashi Murakami começou parceria com a etiqueta em 2002], ele disse sim pra Marc Jacobs. Trata-se de pessoas e não ‘a moda e a arte’, coisas impalpáveis. São duas mentes criativas que se encontram e dialogam – quando isso acontece dá pra perceber, é diferente e dá certo”.

Confira toda a programação do Move!

Dudu Bertholini gostou da definição de Riccardo Tisci pro assunto que ouviu durante o painel: “É isso, não sou um artista ou criador, porque tudo foi criado. Sou um criativo”. Mas afinal, moda é arte? “Depende, antes de tudo, de como cada estilista se define”, lembra Pamela, que cita Madeleine Vionnet (tema de uma das grandes exposições de moda do Louvre em 2009) numa boa frase pra fechar a conversa: “Os objetivos são diferentes. Se eu não vender, tenho muitos empregados que ficarão sem trabalho. Mas é tudo inspiração”.

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