De caso com… um Jabuti!

06.12.2016

“Ou a gente separa ou a gente faz um livro!”, disse o marido pra mulher. Por sorte, o casal, uma dupla talentosa de autores, ficou com a 2ª opção, e nasceu uma pequena obra-prima sobre o espinhoso tema da separação sob o ponto de vista da criança. “Lá e Aqui“, uma edição impecável da editora Pequena Zahar, acaba de receber o Prêmio Jabuti 2016, o mais importante da literatura brasileira, como o segundo melhor livro infantil. Os autores são Carolina Moreyra e Odilon Moraes, um colecionador de prêmios, entre eles dois Jabutis de melhor ilustração.

Minimalista, a obra tem poucas palavras (inclusive, uma página em branco num momento de disrupção da rotina do narrador) que, em parceria com ilustrações simples e comoventes, sugerem um mundo de significado. A casa de uma família (pai, mãe, filho, cachorros e muitas flores), alegre e iluminada, de repente é tomada por uma tempestade e começa a se afogar. A criança descreve o cenário: “Os peixinhos foram morar nos olhos úmidos da minha mãe. Os sapos levaram os ensopados pés de papai para longe”. Com essa delicadeza e poesia, o casal navega pelos momentos sofridos que emergem de uma separação.

Mas uma hora a chuva para e a água abaixa. E essa é a outra grandeza do livro: apontar pra criança, além de lembrar aos aturdidos pais, que as coisas sempre se ajeitam passada a tempestade. “Tem o momento muito difícil, mas cada um acha o seu caminho. O carinho do pai e o carinho da mãe continuam, mas em outra composição”, diz a autora.

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A inspiração da história também surgiu depois de uma tormenta, uma briga da pesada do casal. Carolina até se questionou se ali não seria o fim do casamento e sobre como ficaria a vida dos 3 filhos – João, de 10 anos, Francisco, 7, e Luísa, 5. Nesse momento, ela sentou e, de uma tacada, escreveu o texto. Mostrou pra Odilon, com quem assina outro título premiado (“O Guarda-Chuva do Vovô”), e foi quando ele soltou a frase do começo desse texto!

Experiência no assunto casa-descasa Carolina tem, digamos, no DNA. Numa época em que era impensável mulher não constituir família, a bisavó se negou a juntar as escovas duas vezes, com o pai do primeiro filho e depois com o pai do segundo. Já a avó fez o caminho contrário: casou duas vezes. Ela ainda foi “superada” pela mãe de Carolina, que casou 3! Na família de Odilon a situação é inversa: divórcio passa longe. Navegue por algumas páginas do livro aqui e compre-o na Livraria Cultura!

Bell Kranz, do blog “Casar, Descasar, Recasar”, infohunter do site Lilian Pacce

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