O Rio de cima – e a SP-Arte/Foto chegando!

24.08.2016

A nova edição do SP-Arte/Foto que vai de 25 a 28/08 é uma boa ocasião pra descobrir o melhor da fotografia brasileira. Um dos grandes mestres do ramo é o carioca Cláudio Edinger, que aliás captura a beleza do Rio em sua exposição “Machina Mundi – Rio do Céu” em cartaz paralelamente, na Galeria Lume. Não deixe de conferir as 12 imagens clicadas por Edinger durante vôos de helicóptero em cartaz até sábado na galeria e também suas fotos no estande da Galeria Lume na SP-Arte/Foto! E, claro, dê uma olhada no bate-papo que tivemos com ele abaixo:

Você já fez uma série de fotos sobre o Rio. Por que você quis fotografar a cidade de novo?
O que me interessa na fotografia é a pesquisa. Até onde é possível ir quando se pesquisa um assunto? Onde está o limite? São questões fundamentais pra um artista. Acho que, no fundo, procuramos o eterno no efêmero, como dizia Cecilia Meireles. A mortalidade é muita chata. Será que em algum lugar não existe permanência? O tempo acaba com tudo. A fotografia é um alívio, um respiro, uma pausa para reflexão. O assunto Rio de Janeiro é vasto, e minha curiosidade também. Tenho uma relação complexa com a cidade onde nasci e onde tenho fotografado desde 1991, quando registrei o Carnaval carioca. No ano 2000, comecei a trabalhar com uma câmera de grande formato e foco seletivo. Fotografei o Rio em P&B, procurando sua essência como só o preto e branco consegue revelar. Aí, em 2012, comecei a usar uma câmera digital e resolvi revisitar o Rio. Agora, com “Machina Mundi”, descobri o Rio do céu. Em cada ensaio o Rio ganha nova dimensão no meu imaginário. Vou aos poucos descobrindo os limites: os meus e a absoluta falta de limites na arte!

Veja também: tem exposição do Alair Gomes em cartaz no Rio!

Qual foi a sua maior inspiração pra produzir essa série ? Houve a influência de algum artista ou obra carioca?
Adoro o trabalho do Marc Ferrez e dos paisagistas Taunay, Guinard e Debret, que usavam o Rio como inspiração. Mas me interesso pelo Rio que transcende a paisagem linda, que incorpora todos os cariocas, da praia ao morro e até o porto. Uma grande cidade é uma sinfonia que muitas vezes tem a harmonia de um Mozart e a desarmonia do John Cage ou Philip Glass. Lá de cima percebe-se isso melhor, e minha pesquisa tem ido nessa direção.

Como funciona o seu processo criativo em geral? Houve algo que você achou difícil no processo dessa última série?
Meu trabalho está interligado, como os andares de um prédio. Um andar vai levando ao outro, nada é predeterminado. Sigo o que me interessa. Minha pesquisa é baseada na busca de um identidade, problema que eu sempre tive. Fotografei pequenos universos, como judeus ortodoxos, Chelsea Hotel, Venice Beach, Asilo do Juquery… Aí minha pesquisa começou a se aprofundar nas minhas grandes cidades, meus grandes microcosmos: NY, Rio, SP, Paris, Veneza, Los Angeles, lugares que considero meus, em que poderia facilmente morar. Gosto de grandes metrópoles, não sou do tipo que moraria hoje numa fazenda ou numa pequena cidade do interior. Amanhã não sei! Mas sigo o fluxo da minha intuição. Pratico meditação há 40 anos procurando este acesso ao inconsciente tão misterioso e genial, que todos temos que ter. O processo é sempre difícil e complicado, e por isso me interessa.

Você é conhecido pelo seu foco, hoje popular graças ao Instagram, que virou sua marca registrada. Como um artista pode se reinventar quando já é conhecido por uma característica particular?
O foco seletivo começou no fim do século 19, quando tentavam provar que fotografia também era arte. Sempre me interessei por isso, pelas possibilidades transcendentes da fotografia, de ir além do que está diante da lente. O trabalho de um artista tem que estar em evolução constante, como a própria natureza. Hoje tem uma característica, amanhã quem sabe? O conforto me entedia, não gosto de fórmulas – gosto de aprofundar a pesquisa. E claro, existe uma linha tênue entre a fórmula e a pesquisa profunda. Se você comparar a fotografia com a medicina, procuro a cura pra alguma doença incurável. Não tem fim. Esse é o barato! Sou hoje conhecido pelo foco seletivo porque comecei a usá-lo há anos e até hoje não me canso do que tenho feito. Muita gente diz: “Mas você ainda continua fazendo as coisas em foco e desfocadas?” E eu pergunto “E você continua fazendo tudo em foco?” Nada disso é relevante, a questão é: as imagens funcionam? É vital? É universal? Reflete a perenidade e efemeridade do que vivemos todo dia? Leva à reflexão? A artista Sherrie Levine fez uma série de fotos de uma exposição de fotos de Walker Evans. As fotos eram uma cópia descarada. É um trabalho interessante? Levanta questões importantes?

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A SP-Arte/Foto está começando. Como artista, o que você acha das feiras de arte e as de fotografia em particular ?
Acho que hoje não temos como escapar das feiras. Por um lado ajudam muito os artistas, estimulando o espírito criativo de cada um. Elas têm também um caráter pedagógico fundamental, de educar o público. Por isso faço questão de estar lá, na medida do possível, todos os dias. Por outro lado, as feiras acabam pautando os artistas, o que pode ser bastante perigoso. Os artistas têm um ritmo próprio, em poucos anos Van Gogh criou toda sua obra. Sem nenhuma pressão a não ser a sua, interna: a necessidade de criar. Quando o mercado influencia este ritmo próprio de cada um, ele pode criar uma série de problemas. Mas pra isso existimos. Somos os caça-fantasmas. Resolvemos questões inexistentes. Tornamos o invisível visível.

Qual é o seu próximo projeto?
Estou trabalhando em vários livros ao mesmo tempo. Quero fazer um chamado “Fotografia e Impressionismo”, parte do curso que tenho ministrado na Casa do Saber. Tenho escrito um livro de memórias. Estou trabalhando num livro de fotos aéreas do Rio e SP. Também comecei um livro sobre a Amazônia. Temos que fazer cinco pra ver se um vinga!

Carolina Cataldi Pedrosa, infohunter do site Lilian Pacce

Machina Mundi – Rio do Céu
Até 28/08, segunda a sexta das 10h às 19h; sábado das 11h às 15h
Galeria Lume: r. Gumercindo Saraiva, 54, Jardim Europa, SP
(11) 4883-0351
Entrada gratuita

SP-Arte/Foto 2016
25 a 28/08, quinta e sexta das 15h às 21h; sábado das 14h às 21h; domingo das 14h às 20h
Shopping JK Iguatemi: av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, 3º piso, Vila Olímpia, SP
Entrada gratuita

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