Pode acusar de oportunista e de clichê. O fato é que Weider Silveiro fez desse seu outono-inverno 2010 uma homenagem póstuma a Michael Jackson – e que o clima não é de alguém que simplesmente aproveitou esse momento pra que seu desfile fosse mais comentado. Permeando as referências militares dos ombros e debruns, os brilhos das tachas, os brincos de cortina com franja, o cabelo molhado e o rosto mais branco das modelos, dá pra sentir uma verdade ali: não é de hoje que o ícone pop é uma referência pro estilista. Esse movimento de se inspirar em MJ agora, portanto, não é artificial, e isso faz toda a diferença. Com a estética já naturalmente barroca do cantor, Weider acrescenta elementos: a legging de renda, a estampa com imagens do solo lunar (Moonwalk!)… Fitas adesivas beges viram elemento importante de styling – assinado pelo parceiro da marca de moda praia Purpure, Mark Greiner – e chegam a se transformar num vestido inteiro (o que abre o desfile e depois reaparece, sem o saco na cabeça, e todo mundo repara: “Ah, é de fita!”). A partir desse material, dá pra viajar e pensar no que Weider quis dizer: essa fita pode se referir tanto ao silêncio diante dos processos criminais que Michael sofreu (ela serve pra tampar a boca de gente sequestrada, por exemplo) ou à mudança (é com ela que geralmente se fecha caixas de papelão). O mais irônico: essa fita não deixa de ser um pouco nude! Mas a aparência grosseira e teoricamente tosca dela deixa tudo mais agressivo e mistura essa força com o glamour dos brilhos, o kitsch da cascata de franjas… Michael Jackson, enfim, em uma versão fashion e apaixonada.
Jorge Wakabara
