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João Pimenta – SPFW primavera-verão 2010/11

13.06.2010

A imagem de moda masculina criada pelo estreante João Pimenta talvez esteja muito à frente de seu tempo para que possa ser analisada apenas como mais uma coleção difícil no line-up do SPFW. Explico: num País onde a maioria dos homens ainda está esboçando um interesse por moda, onde o rosa ainda é tabu em algumas regiões e onde optar por uma silhueta skinny pode semear dúvidas sobre sua orientação sexual, mesclar Império com surfe, abusando de rendas e jabôs em peças com shape esportivo pode parecer insanidade. Mas não é. Quem acompanhava os desfiles de João na Casa de Criadores sabe que sua moda nunca foi de fácil digestão. Sua paixão por moda feminina – e ele já declarou que prefere fazer roupa para mulheres – vem fazendo com que explore a tênue linha entre os dois universos, de maneira sempre delicada e inteligente, o que nos faz olhar para ele como se enxerga um oásis no deserto criativo da moda masculina brasileira. Para o verão 2011, muitos macaquinhos (ou seriam short johns?) e macacões (long johns?), calças amplas, pregueadas, de cintura lá em cima, às vezes até de alma clochard. Paletós aqui são casacas, blazers podem virar fraques com desenhos da fauna e flora nacional, graças ao uso de jacquard para tapeçaria, que volta em bermudas de shape d´água.  São interessantes as construções que remetem às alças nadadoras das regatas, com recortes característicos das vestimentas mais radicais, adaptadas ao linho em cru e preto, basicamente. E que flertam perigosamente com figurino. A melhor peça do desfile é o macacão-paletó, uma sofisticada brincadeira que pode funcionar comercialmente. Sim, porque esse é o maior desafio de João nesta nova fase, na fila A da moda brasileira. Ao mesmo tempo em que se comemora o fato da nossa moda masculina conseguir produzir uma imagem tão forte, cobra-se uma maior relevância comercial do rapaz, sob o risco de acabar virando folclore. Mas tenhamos calma. É apenas a concretização de uma aposta que, num futuro próximo, esperamos, seja realidade. (Sylvain Justum)

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