SPFW primavera-verão 2005/06 – Segundo dia

29.06.2005

Em mais uma homenagem nesta temporada de lançamentos para o verão 2006, o mineiro Ronaldo Fraga coloca a costureira Nilza em primeiro plano em seu desfile no São Paulo Fashion Week, que vai até segunda-feira na Bienal, no parque do Ibirapuera. Fraga está mais leve sem abandonar os volumes que sempre caracterizaram seu trabalho. É linda a imagem de abertura com a top Carol Trentini usando longo de seda rosa e verde, em tons esmaecidos, entre as máquinas de costura do cenário. A maioria dos vestidos é evasê, de preferência levemente acinturada na frente e solta atrás. O paletozinho de laise branca é vestido do avesso, com seus debruns impecáveis, mostrando que d. Nilza sabe trabalhar bem o acabamento das peças.
O volume godê aparece mais nas saias, com aplicações de flores de tecido ou muitos corações. Entre os muitos bordados, impressiona o resultado das flores metalizadas feitas de latinha reciclada como o vestido verde do final. Na cabeça e nas sandálias, um porta-alfinetes de veludo vermelho. Um bom momento para Ronaldo.
Emocionante a participação especial do cantor Jamelão, de 92 anos, mangueirense tradicional, no final do desfile da Poko Pano. Com o espírito de customização, a estilista Paola Robba tirou a poeira dos biquínis da vovó e fez um desfile inspirado em modelagens dos anos 50 e 60. Mas o resultado não é retrô, e sim delicado, com lacinhos e calcinhas altas, e muita valorização de trabalhos manuais, como o ótimo modelo de crochê turquesa usado por Juliana Imai, ou o uso de cianinhas coloridas em biquínis e maiôs.
Os garotos investem no sungão. “Não tem como fugir, o sungão já é algo já estabelecido”, diz Paola. Pulseirinhas de bolas coloridas e munhequeiras de crochê são os acessórios da marca, que desfilou sua coleção em meio a 6 mil pratos de porcelana e o vozeirão de Jamelão.
O revival dos anos 70 e do flower power é inspiração de muitos estilistas para a próxima temporada. O carioca Carlos Tufvensson entrou de cabeça no psicodelismo e começou bem, explorando tons de pink e amarelo em longos fluidos de seda com top de lástex e manga sino. Linda a nova top Cíntia Dicker com coroa flores naturais em seu cabelo ruivo – enquanto girassóis esperavam os convidados em cada lugar da pacífica sala 4, toda branca, no último andar da Bienal. “O verão brasileiro é isso, cor e alegria”, diz o estilista, que explora também degradês de laranja e lilás. Mas infelizmente entre uma estampa floral e um patchwork de tiras de cetim, as modelagens ficam repetitivas e acabam brecando o que podia ser de fato um avanço.
Na Sais, segunda marca da festejada Rosa Chá, tudo é bem simplificado. Na trilha do dj Zé Pedro, só músicas com a palavra “flores” e a margarida foi a escolhida, em estampas ou vazados nos biquínis. Segundo Riva Slama, mulher de Amir, o romantismo dos laços pontua a coleção desde o início, com a onipresente Isabeli Fontana num biquíni de laço gigantesco. As cores são fortes e as estampas quase infantis, como o arco-íris ou a borboletinha aplicada. Aqui, como na maioria dos desfiles de moda praia até agora, a calcinha larga, tipo sunguinha, tem destaque. Parece que as meninas de hoje querem mais é conforto na hora de ir para a praia. Os modelos pequenininhos, como os da Cia. Marítima, ficam para as mais velhas.
Com Rappin’ Hood ao vivo, a Ellus fechou a noite de terça-feira reunindo seu masculino e feminino num mesmo desfile em nome de seu produto principal: o jeans, que aqui ganha o aposto deluxe – na trilha dos jeans premium que conquistam o mundo. As calças apostam na modelagem bem justa, com duas
variantes: o jeans escuro, puro, mais tradicional, e o detonado com lavagens e processos manuais, que faz surgir os fios brancos. Tingimentos e lavagens pontuam a coleção também nos tie-dyes de vestidos mais soltos – mas
sensuais- e camisetas podrinhas, como pedem esses tempos. “Ela é romântica sem ser bobinha – e sexy”, define Nelson Avarenga. A cor forte fica para os meninos, em total look limão, azulão, rosa, com bota idem. “É como se tivesse alguém gritando:‘Ei, olha aqui as cores’”, brinca ele que só usa preto, colocando o homem como objeto cenográfico de apoio à sensualidade feminina.

Lilian Pacce                                                                                                                                                                                                                                                                                           (colaboraram (Jade Augusto Gola e Ailton Pimentel)

 

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