SPFW primavera-verão 2002/03: frenesi com Gisele; Cordeiro de Deus com Ronaldo

16.07.2002

Frenesi e histeria marcam sempre a passagem de Gisele Bündchen por aqui. E em seu único desfile nesta temporada da SPFW não foi diferente. Pela 3ª vez, a supermodelo desfilou de biquíni para a Cia. Marítima garantindo as atenções para a marca de moda praia no 1º dia de lançamentos para a primavera-verão 2002/2003, que segue até sábado com 38 desfiles no prédio da Bienal, Ibirapuera, somente para convidados.

Gisele continua em ótima forma e preferiu aparecer com modelos de calcinhas mais largas ou microssaia de rumba em suas quatro entradas na passarela. No final, levantou a bandeira de Cuba com a estampa do líder Che Guevara em tons de azul. Depois do desfile, tinha ainda dois compromissos: o jantar de aniversário de sua empresária Mônica Monteiro e a festa de Carlos Carrasco, um de seus maquiadores preferidos.

A coleção inspirada na cultura latina traz também frases da artista Frida Khalo e faz da praia um grande jardim, com muitas estampas e bordados florais, de preferência com tops de bojo que empurram o peito para frente e para cima, bem sexy. Mas o principal modelo foi usado pela top Adriana Lima: o biquíni sem costura, leve e anatômico, que é lançamento mundial segundo o proprietário Benny Rosset.

O estilista mineiro Ronaldo Fraga abriu o primeiro dia da SPFW com a coleção batizada Cordeiro de Deus, inspirada no cotidiano dos presidiários apaixonados que esperam uma visita da amada – mesmo que a briga tenha sido feia e deixado fortes hematomas no rosto.

Ronaldo mostra como é rico esse universo iconográfico: além da estampa de cordeiros em relevo, explora tudo, das tatuagens corpulentas aos grafites das paredes, dos patuás dos orixás ao Sagrado Coração de Jesus, passando pelos espelhinhos baratos de moldura laranja, que aqui ganham ares high tech.

O estilista, que sabe explorar com uma sensibilidade rara elementos tão genuínos de um Brasil triste e miserável, faz um pingue-pongue romântico entre o mundo dentro da cela e o mundo que circunda os portões do lado de fora. A popular javanesa dos vestidos que vão à penitenciária no domingo fica chic em modelos de cetim e seda que trabalham formas fluídas, com drapeados, detalhes plissados e um ótimo trabalho de tressê, forte também no jeans. As moças misturam pink, turquesa, verde e vermelho, mas podem ser discretas em rosê e cinza.

No masculino, conjuntos de calça e camisa, tipo pijama, propõem uma alternativa aos ternos sisudos. Faz parte da brincadeira o efeito shorts sobre calça – esta quase sempre oversize, beirando o saruel – e os desfiados de peças tecnologicamente puídas, além dos tops esburacados no tricô.

Ente os novos nomes desta edição, o estilista Jum Nakao faz uma boa estréia trabalhando com o conceito de que “a idéia do tempo deve ser esquecida”. Ele mistura referências e detalhes dos anos 20 e 30 com elementos hi-tech, como as estampas computadorizadas em 3-D, na coleção chamada Future Kitsch. Casaquinhos de tricô e crochê vêm sobre vestidos de cintura baixa e saia plissada, com saiote. Ao contrário do austeridade japonista das últimas coleções, Jum cria um delicioso contraste entre tons desbotados e vibrantes cores fluo.

Enquanto um top azul plissado leva a coleção para um lado mais sofisticado, o jeans de inspiração streetwear, mas com proporções mais justas, garante o lado jovem. Nas estampas, pássaros coloridos se misturam a linhas de construção de ilustrações computadorizadas em 3-D, que depois se materializam em tops de redinha branca – como aquelas que envolvem a maçã em feiras públicas.

Os masculinos

As coleções masculinas predominaram no 1º dia da SPFW. Alexandre Herchcovitch traz o homem mais sensível e contemporâneo do dia, Ricardo Almeida confirma seu target de homem impecável e correto, e a Ellus propõe um pirata urbano que, na verdade, parece meio perdido na cidade.

Alexandre Herchcovitch partiu de uma curiosidade pelo guarda-roupa clássico masculino (em especial acessórios como a liga de meia, o suspensório e o chapéu) e desenvolveu uma mistura fresca de elementos de alfaiataria, streetwear e roupas esportivas numa coleção que toda a mulher vai querer usar – conseguindo, neste sentido, o feito do estilista Heidi Slimane para a Dior masculina, de atingir ambos os públicos de uma vez só.

Blazers e jaquetas bem sequinhos vêm com calças idem ou de inspiração punk-militar, com vários bolsos e amarração na perna. Vale o moletom goiaba, o tropical xadrez cinza/rosê/azul, a sarja tie-dye marrom/preto. Em outra versão, o blazer tem bolso canguru e ombros levemente mais amplos, usados sobre moletom esportivo. Ótimas também as calças de silhueta oversized no quadril e justas na parte inferior da perna. E depois de estações restrita apenas às camisetas da linha comercial, as caveirinhas do Alê estão de volta, na alfaiataria e nos tênis – que devem se tornar hit entre os garotos modernos.

A Ellus também aposta em caveiras para seu homem, um pouco chocho pra quem se pretende pirata. Elas vêm aplicadas em farto paetê colorido sobre camisetas. As regatas-arrastão sobrepostas dão bom efeito moiré e o melhor são os patchworks das calças jeans.

Encerrando a programação do 1º dia, Ricardo Almeida inaugurou sua era jeans com o estilo impecável e elegante que ele cultiva para seu homem, que agora vem com sapato branco. Para o público mais jovem, jaquetas variadas, em jeans ou algodão, e calças com proporção relaxada e cintura baixa. Os ternos vão dos tradicionais quatro botões até modelos mais despojados, de um botão –  como sempre, em ótimo Super 100.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo (colaborou Guto Barra)

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