Gloria Coelho e mais do SPFW outono-inverno 2005

22.01.2005

Hoje de manhã a moda para o inverno 2005 chega ao teatro Municipal. Em 10 anos de SPFW, esta é a 1ª vez que uma marca, a Raia de Goeye, desfila ali sua coleção. Pena que a numeração das belas poltronas de veludo não vai ser aproveitada para organizar os convidados. É que nesta edição, a SPFW resolveu abolir a numeração dos lugares/convites. Há indicação apenas do setor e tudo acaba ficando na base do “senta quem chega primeiro”. E quem chega primeiro não são os profissionais que acompanham todos os desfiles. Ou seja, com a sala já cheia, os profissionais encontram seu lugar ocupado e, a exemplo dos desfiles da Ellus e da Triton, muita gente importante acaba indo pro chão. Isto somado ao fato de que agora há ingressos à venda, o resultado é de retrocesso numa organização que funcionava tão bem.

Ontem o dia começou com Gloria Coelho trazendo a Idade Média para festas chiques e ruas cosmopolitas muito descoladas. A estética medieval se sobressai nos longos vestidos e casacos (trenchs, mantôs etc.), com misterioso capuz à “O Nome da Rosa“. Gloria trabalha extremos: vestido de cetim bordado com paetês, pedrarias e flores, jaquetas megautilitárias amarradas na cintura e, no pé, galochinhas de jardineiro. Shorts e calças vêm com preguinhas, as saias são fluidas. As cores escuras predominam: marinho, preto, marrom e oliva, com camelo e a luz do longo vermelho do final.

Em seguida, Reinaldo Lourenço deslocou o público para o prédio da Faap, onde mostrou sua coleção de inverno inspirada nos grandes teatros de ópera, de Manaus a Paris, segundo ele. Um ar rock impõe uma atitude mais forte e jovem no cenário inspirado no filmeDogville”, de Lars Von Trier, com perfume de Marcel Duchamp. Em veludo de seda, ele franze as cortinas do teatro em saias dramáticas e pendura seus pingentes em todo lugar: do vestido rosê de festa às calças masculinas pretas, de cavalo baixo.

Alexandre Herchcovitch repete o sucesso nesta temporada à frente do desfile da Cori. Blocos de gelo de oito toneladas viraram totens ao centro da passarela, num desfile inspirado no leste europeu, com releitura fresca de trajes típicos da Polônia, terra de seus avós. A marca vem mais jovem, com saias curtinhas e muito godê, até no trench-coat bordado. O preto serve de base pras estampas de flores, melhor ainda quando paetadas. Os vestidos longos, como o preto de cetim de Marcelle Bittar ou o de chamois com tricô multicor de Carol Ribeiro, devem chamar atenção nas noites mais glamourosas, enquanto as bermudas com jaquetinha perfecto devem agradar às mais jovens.

Se depender da Forum, o inverno não será nada rigoroso, com vestidos sem manga, leves e confortáveis. Com styling da descolada Camille Bidault Waddington, Tufi Duek mostra uma mulher com uma sensualidade mais suave, o que é bom, num equilíbrio de charme e elegância. O longo é a tendência nova da estação, mas os vestidos pelo joelho têm um ar mais romântico, em georgete ou jérsei de seda. Jaquetas, cardigãs e coletes fazem um papel coadjuvante, como se a mulher tivesse tomado emprestado do namorado naquela madrugada fria depois da festa.

Se a maior parte dos estilistas aposta em um inverno mais sóbrio, investindo em tons escuros, a Patachou, marca da estilista Terezinha Santos, tem no azul seu ponto de partida e nos bordados de correntes de ouro de 24 quilates o ponto alto. Destaque para os crepes de tricô e os cashmeres – novos na coleção.

A British Colony, do carioca Maxime Perelmuter, abre o desfile com uma imagem de impacto que chega a incomodar: seu homem veste uniforme militar com o ícone Smile bordado de botões ou silkado. Seus milicos fashion misturam a rigidez do uniforme (que passa também pelo navy como o trench marinho e vermelho do final) ao tropicalismo dos camuflados florais, e ele acaba criando a imagem de um novo safári. Apesar de tantas sarjas e lãs, o moletom continua peça forte, como nos casacos com capuz.

Com o tema Velocidade Sensual, a Iódice abre com vestidos azul-carbono fluidos que se desdobram em outras cores e estampas ao longo do desfile. Sua mulher tem pressa e pode pegar carona num jipe militar, como o look oliva de perfecto blusê com calça seca por dentro da bota alta. O couro é destaque, assim como os looks masculinos que inovam mais a imagem da marca.

A Zoomp começou sua apresentação com a roupa masculina, numa coleção aconchegante e confortável, sem deixar de lado uma estética atual. A cartela de cores é feliz em tons de cinza, rosa, menta e azul leves e lavados, assim como o jeans. Entre os destaques, a calça cinza soltinha, usada com sobreposição de regatas e camisão cinza bem molinho jogado por cima. Mais glamourosa, a coleção feminina não abre mão da fluidez e do brilho dos bordados e paetês. Mas o resultado é de conforto e não de uma sensualidade explícita e ostensiva. O balonê molengo, quase desestruturado, pontua desde o megacasaco de malha até as bermudas e saias, que são a coqueluche com seu balanço malemolente. A modelo Michelle Alves, que viajou ontem pra temporada de alta-costura de Paris, era uma das mais lindas.

Já na Ellus predomina a estética vintage-nômade, que transita entre o hippie e o cigano, com muita sobreposição: de estampas e cores diferentes nos muitos babados, e também de peças antes desconexas como o vestido de renda bem brechó com maxicanguru esportivo de malha e jaqueta militar de sarja – tudo junto. Aqui o jeans é escuro e pode brincar de patchwork camuflado em ótimos casacos. Entre florais e tons de rosê, verde, marrom e off-white, a coleção interpreta bem uma tendência forte que agrada em cheio a mocinhas como Daniella Cicarelli, a noiva de Ronaldinho, que é a estrela da Ellus.

Quem não conhece, estranha que um menino de 14 anos possa ter skill profissional de um adulto. Mas a prova da vocação inerente de Pedro Lourenço começa pelo poderoso time de modelos que desfilou para ele na recém-inaugurada galeria Leme: Isabeli Fontana, Jeísa Chiminazzo e Carol Trentini – todas com look bem natural, de cara lavada, exalando o mesmo frescor que Pedro pode proporcionar se mergulhar mais profundamente em seu próprio universo. Além de seu DNA fashion, herança genética dos pais Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, Pedro se alinha com a vanguarda hype da moda internacional, tendo Nicolas Ghesquière como norte. Influências à parte, ele impressiona pelo domínio da execução das peças e do desfile em si. Destacam-se as jaquetas de couro com amarração tipo corselet e os vestidos, como o sensual modelo azul com o qual Jeísa fechou o desfile.

A Rosa Chá procurou ver o inverno do ponto de vista de uma academia de ginástica: leggings e regatas de tela sobrepostos em looks multicoloridos. Já que faz frio, o top dos biquínis fica maior e o poncho de favo vira saída de praia com capuz. Mas a sensação final é a de que faltou suar um pouco mais a camisa e mostrar a roupa pós-malhação.

Para apresentar sua coleção masculina, Fause Haten desconstrói o smoking. O  look é mais jovem e desencanado, misturando jeans e moletom com elementos do black tie. A cintura é baixa e o cavalo, solto. Os looks têm o ar relaxado do fim de uma festa. A modelo Ana Hickmann faz uma entrada surpresa vestindo um terno preto com calça mais larguinha. O lado do glamour que Fause tanto gosta fica explícito na enorme cortina prata ao fundo da sala.

Jefferson Kulig quer questionar a estética e as tendências da moda e se inspirou no futurismo dos ciborgues para criar sua coleção. As meninas apáticas e a música hipnotizante tira a atenção de boas peças desta coleção como o casaco marrom.

Lilian Pacce – colaborou Camila Yahn

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