Retroclubbing: a vida noturna na Gucci é artsy

25.09.2018

Sabe aquele tipo de filme que foi feito nos anos 60 e que, quando a gente assiste, é tão modernoso e instigante, até mais do que coisas feitas hoje? Pode ser qualquer um do Andy Warhol ou “Sedmikrásky” de 1966, um filme tcheco supervanguardista que você precisa ver se ainda não viu (e que já inspirou Marc Jacobs). Bom, os desfiles de Alessandro Michele pra Gucci também tem esse ar retrô-contemporâneo, uma contradição deliciosamente atraente. Esse de primavera-verão 2019, apresentado excepcionalmente na Semana de Moda de Paris, ocupa Le Palace, um teatro que foi uma boate babadeira entre os anos 70 e 80 com aquela turminha boa de Saint Laurent, Lagerfeld, Antonio Lopez e Kenzo Takada com suas musas. E a apresentação começa com um curta experimental da década de 70 de Leo de Berardinis e Perla Peragallo, da cena teatral vanguardista italiana. Os looks do curta são inesperadamente próximos do que Michele faz na Gucci – e não, o estilista não tinha visto a obra até recentemente. Coincidências exóticas, do tipo que Michele (e a sua clientela) adora. O curta é estranho, exótico, artístico. E sim, esses adjetivos também cabem pra moda apresentada.

As roupas em si são uma sequência, como já é de costume, das loucurinhas que nos acostumamos a ver na marca italiana, mas mais do que nunca em versão montação pra balada. Plumas e brilhos, volumões, chapéu de feltro à Janis Joplin, bolsinha de Mickey, plissado à Issey Miyake bem miudinho, estampa com o rosto de Dolly Parton. A sensualidade pinta de um jeito quase cômico, em meninos de cueca (por cima da calça ou só de cueca mesmo); ao mesmo tempo, um conjuntinho azul recebe a frase bordada bem burguesaDeux Pièces Pour La Côte d’Azur” (duas peças pra Côte d’Azur), sugerindo um guarda-roupa de madame. Crash de universos na noite democrática onde todos vão pra se divertir, pra dançar. Hedonismo é a resposta, fervo também é luta em tempos mais caretas? No meio do desfile, Jane Birkin levanta da plateia e começa a cantar “Baby Alone in Babylon”. “Afogada nas ondas da música eletrônica”, “afogada nas ondas das estrelas efêmeras”. Noite vazia.

Notas pra quem curte saber das tendências: é a vez da camisa ficar oversize; a estampa de moranguinhos é megafofa (a da bolsa tem cheiro forte de hit); o vermelho segue como cor importante no mar de tantas outras; idem pro xadrez com cara de brechó na alfaiataria; o animal print mais-mais é o da cobra. Anotado, amore? Veja mais na galeria.

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