O modo de consumo mudou e a Heloisa Faria sabe disso

29.07.2018

O desfile da Heloisa Faria na Casa de Criadores possui duas pegadas e ambas têm tudo a ver com a estilista e com o que está rolando no mundo hoje. A primeira diz respeito ao feminismo: refletindo a respeito, Helô pensou na sororidade, na derrubada do mito machista que mulher sempre passa a perna em mulher; mas ao mesmo tempo a intensidade dessa luta unida e desse debate cansa. Ela mesma precisou descansar em um retiro. Então uma das coisas fortes da coleção são esses elementos da casa, pra lembrar daquele clima quando o lar está tranquilo, em silêncio, e a mulher pode ter um tempo só pra ela: cordas com tassel (feitas com um maquinário vintage); tecidos de tapeçaria; texturas que lembram telas de quadro. Esse processo recorte-cole de ressignificação de elementos tem uma inspiração, aliás, de discurso bem feminista: a artista Linder Sterling

A outra pegada é a da sustentabilidade, na qual Helo mergulha cada vez mais. Só que ela, como boa fashionista, quer imagem de moda na veia: é por isso que o upcycling e a própria revenda entram no jogo. Camisas masculinas são desmontadas e viram outras peças (numa deliciosa subversão de símbolos do homem relidos pra mulheres), e peças inteiras de arquivo simplesmente reaparecem porque fazem sentido no todo: o segredo está no olho cuidadoso da estilista e sua equipe, a curadoria que deixa tudo mais redondo. “O consumo mudou e eu acredito nesse vintage”, ela explica, inclusive misturando tudo na arara da sua loja própria. Experimentações na modelagem e assimetrias também se destacam. (Jorge Wakabara)

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