Emos e emoções no desfile de Felipe Fanaia

25.07.2018

O próprio Felipe Fanaia explicou sua coleção apresentada na Casa de Criadores pra gente no backstage: “Parti do emo, que foi uma era que vivi. Aprendi muita coisa ali. E sempre achei que o emo é um apanhado de referências; tinha grunge, gótico, punk e até um pouco de clubber. Então tem tudo isso no desfile, mas com uma leitura minha, do oversize.” E realmente a coleção tem várias referências típicas do emo: o franjão e o olho preto (na beleza de Naira Chibbi), o listrado e o quadriculado em P&B, a calça skinny (que aqui, quando sobre pro quadril, fica gigante), e a presença de ninguém menos que Serginho Orgastic, figura-chave do Fotolog (o pré-Instagram!) muito antes de ser ex-BBB, fechando a apresentação. Ao mesmo tempo, aparece o harness sadomasô da Seteh como toque punk, os xadrezes do grunge, as cores do clubber (e a jaqueta cheia de apliques de cabelo usada pela musa Agatha Fabiano? Referência ao franjão mas também à montação). E entra até um tie-dye meio do reggae (ou do psytrance? Parada da Paz feelings!) e as botas country da parceria com a Corcel. Total 99-00, só faltou a MariMoon

Outros destaques fashionistas: as bolsas e pochetes da O Jambu de BH, bem bacanas, mais o laranja e as fitas refletivaschama o bombeiro que o laranja pega fogo, demos o toque em março e agora tem pra comprar em SP!

Mas agora é hora de olhar pro subtexto, onde está também a experiência de Felipe como adolescente, crescendo e absorvendo tantas coisas pra se transformar no criador e na pessoa que ele é hoje. Depois de um menino correndo no começo, representando um Felipinho, e uma coreografia com guarda-chuvas ao som de, claro, emocore, o primeiro modelo a entrar está com uma camiseta do uniforme do colégio que o estilista estudava em Cuiabá. Nas costas, um papel colado escrito “bicha”. O bullying não era tão falado e tão combatido na época. Existia um acordo tácito que isso até fortalecia o caráter… A letra do rap do Quebrada Queer (a gente falou deles recentemente, vem assistir ao clipe!) cantando ao vivo segue na mesma pegada: o emo, nas suas músicas e no seu apelo visual, não só batia forte no coração de qualquer teen envolvido com as dificuldades dessa fase mas especialmente em quem passava por isso e ainda sofria com a homofobia. Entre razões e emoções (é irresistível citar NX Zero!), o desfile é uma mistura de sensibilidade, contestação com leveza, revisão de uma tribo urbana que foi muito ridicularizada e imagens de moda fortes. Muito bonito e muito relevante pro público da marca – arrasou. (Jorge Wakabara)

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