Comas primavera-verão 2017/18

24.11.2017

A história da Comas é muito interessante e sempre vale ser contada: começou na Daslu, onde Agustina Comas (ou Agus, que é como os amigos a chamam) trabalhava na linha masculina e percebia a quantidade de camisas que era descartada por ter defeitos mínimos. Foi em 2014 que a marca começou, depois de uma experimentação mais ousada chamada In.Use onde ela praticava o upcycling em moda bem conceitual. A Comas, desde o princípio, se preocupou em fazer um produto prático e ao mesmo tempo manteve elementos da camisaria nas suas reconstruções – isso deixa claro que a peça não é uma peça “comum”, e ao mesmo tempo dá um charme bem especial pras criações.

Quando a estilista recebeu o convite da Brasil Eco Fashion Week pra desfilar, ela se assustou: “Não faço desfile!”, explica, com seu sotaque (ela nasceu no Uruguai). Mas ela faz sim: os tempos da In.Use ficaram pra trás mas a roupa da Comas tem tudo a ver com o ideal de uma passarela eco fashion porque une o upcycling com ideias boas (e belas) de design. Pense, por exemplo, na camisa Escher, que ganha esse nome em homenagem ao artista M. C. Escher porque ela é cortada ao meio e ganha o pedaço de outra de ponta-cabeça, como se estivesse espelhada. Ou a já clássica saia que mantém o abotoamento da camisa na frente e a gola na cintura.

E se a Comas era muito centrada nas camisas, agora ela cada vez mais trabalha com a ourela do tecido – aquela faixa que fica na borda da fazenda e vira resto do corte. O que era lixo hoje é unido paralelamente e vira um material têxtil em faixas com uma textura meio franjada. Uma prévia apareceu no outono-inverno 2017 da Fernanda Yamamoto e, aqui, ele pinta em forma de quimoninho numa colaboração com a Japonique. A ideia de Agus é conseguir fazer isso em escala, com maquinário – imagina que incrível?

Em resumo, o trabalho de Agustina serve de norte pra outras marcas – ele mostra que o uso de técnicas e materiais sustentáveis por si só não se sustenta sem boas ideias de design, e o melhor dos mundos é quando a própria boa ideia está atrelada à boa prática. Aqui a gente vê personalidade pra além das intenções – coisa que não só estilistas eco-friendly deveriam procurar, como todos os outros também. (Jorge Wakabara)

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