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Alexandre Herchcovitch outono-inverno 2016

18.10.2015

A combinação sexo e poder é explosiva, e cada estilista tem sua leitura. A de Alexandre Herchcovitch aparece em meio à crise econômica brasileira reforçando a máxima que defende que, sempre que a economia está em baixa, o sexy vira moda porque “sexo vende”. Se as fórmulas fossem fáceis nada teria graça: o combo sexo-poder de Herchcovitch, com alta carga fetichista, é mais denso e complexo que o dos outros, com imagens de passarelas desafiadoras e roupas – todas em preto, branco e brilho de cristal – cheias de segredos. Podemos começar pelo mais importante: o papel das fitas de gorgurão que perpassam por quase toda coleção. Elas são costuradas sobre o tecido fazendo caminhos tortuosos, voltas e círculos que franzem e trazem texturas. Chegam a construir um look inteiro – o usado por Isis Bataglia, com body e saia que junta as fitas e ainda traz detalhes de miçangas de porcelana nas costuras. Outras fitas, de organza e de tule, também servem pra fazer desenhos – no look de Waleska, a de tule sobre a cashmere branca passeia por quase toda a extensão do vestido longo – vai pra trás, volta, desce… Sofisticadíssimo, e uma metáfora dos caminhos sombrios de paixões avassaladoras, talvez.

Quer um segredo mais escondido? O vestido de cetim duchese de seda com losangos em riscas brancas, por exemplo. Olhe outra vez: o tecido na verdade traz um quadriculado P&B, e cada quadrado branco recebeu um quadrado preto costurado por cima, deixando só uma risca branca aparecer. A mesma coisa com o poá e o listrado, ambos de crepe georgete. Já as argolas de metal preto fosco vêm forradas fazendo um vão redondo na roupa, ou como um “bojo” do sutiã formado apenas por elas em diversos tamanhos e as fitas, ou ainda escondida na barra da incrível manga com volume redondo.

Todos esses detalhes espalhados pela coleção enriquecem esse clima misterioso-noir, mas também existem propostas mais “visíveis” nas fotos como a mistura de xadrezes (pied-de-poule, tipo madras, vichy), os chemises-camisolões do começo em tricoline de cashmere, os looks em meia malha. Os sapatos desenvolvidos com a Arezzo não são um simples trompe l’oeil: a sandália preta e a “meia”, que surge em preto, branco ou xadrez, realmente se desgrudam. A gargantilha e os anéis de cristais redondos estonteantes, por sua vez, são parceria com Hector Albertazzi. E o resultado, gótica nada suave e sadomasô de luxo (segundo o próprio Alexandre, “uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder”), é muito, muito bom, acima da média até pro próprio estilista, que já costuma fazer boas coleções. Pras que são vamps e pras que foram abandonadas e querem dar a volta por cima – você pode, e um bom começo é um bom casaco fechado com uma fenda absurdamente vertiginosa que mostre a sua maravilhosa perna inteira… (Jorge Wakabara)

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