Vert, o tênis brasileiro mais francês do mundo

19.11.2013

Ela se chama Veja na Europa e Vert por aqui. A marca de tênis ecologicamente corretos de uma dupla de franceses é vendida definitivamente no Brasil a partir desse ano, apesar de ser fabricada por aqui desde o começo, e agora é vendida em diversas multimarcas no país e em e-commerce próprio. Blog LP conversou com François-Ghislain Morillion, um dos sócios (o outro é Sébastien Kopp, que fica mais em Paris), sobre a história da marca até agora e a chegada nas prateleiras tupiniquins. Confira!

Conta um pouco sobre o começo da marca!
Começamos com a marca em 2004. Mostramos os 1ºs produtos na feira Who’s Next, em Paris, que era bem pequena na época. E o conceito de sustentabilidade já existia desde o começo. Veio de uma viagem que fizemos, eu e Sébastien, em 2003 pra estudar projetos desse tipo. Foi algo que decepcionou muito a gente porque vimos muito marketing e pouco resultado concreto. Queríamos inovar e propor uma coisa sustentável a partir de um produto que carrega um impacto positivo tanto social quanto ecológico. E foi natural escolher fazer tênis porque a gente gosta muito, somos fissurados, tipo adolescente que coleciona. Mas sempre ficávamos com receio sobre como os tênis eram fabricados, com as histórias da Nike, da China, enfim. Gostávamos de tênis mas tínhamos esse pé atrás. E aí surgiu o desfio: “Vamos fazer um tênis diferente, que respeita as pessoas que fabricam?”.

E por que o Brasil pra essa produção, sendo que vocês só foram vender no Brasil depois?
Nessa viagem de 2003 fomos pra vários lugares, mas conhecemos a Amazônia e nos encantamos. Queríamos fazer algo relacionado com ela com esse princípio de usar a floresta pra não derrubá-la. Se a pessoa vive bem da floresta, ela não a derruba; se não vive bem, a pessoa corta árvores, bota gado e acabou. A gente não acredita no lado romântico da ecologia, esse “vou preservar a natureza só porque eu amo a natureza”. Por exemplo: se você consegue vender o seu algodão orgânico com preço melhor do que o do algodão convencional, aí sim você vai se interessar em plantar o orgânico. Fizemos isso com a borracha, em comércio justo com associação de seringueiros – assim a gente corta os intermediários e eles ganham mais. E se existe um mercado pros seringueiros que paga bem, e que inclusive valoriza o fato da borracha vir da Amazônia… Entende? Na viagem a gente também foi pra Índia, China… Mas o que você vê nesses lugares não te agrada. Na fábrica é até meio igual, na realidade, mas é o jeito que as pessoas vivem. Quando você vai visitar os dormitórios fica com nojo, não quer participar daquilo. Tem outros que fazem [produção com esses países], e não estou aqui pra criticar, mas no meu business quero envolver uma coisa mais legal.

Então quais são os lugares do Brasil que envolvem a produção da Vert hoje?
A fabricação é feita em Novo Hamburgo. É lá que ficam as melhores fábricas, o pessoal é bem remunerado e a lei trabalhista está sendo cumprida. A borracha vem da Amazônia, hoje de 3 associações com mais de 70 seringueiros envolvidos; o algodão orgânico certificado vem do plantio de 700 famílias do Nordeste; o fio é feito em SP; o tecido é em Americana [interior de SP]. E gostamos muito de acompanhar todo esse processo na medida do possível. Já a parte de estilo até agora é toda feita em Paris, no nosso estúdio.

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E no início como foi a aceitação?
Começamos no apartamento do Sebastian, uma empresa bem pequena, mas desde o início o “bicho pegou”. Já começamos a vender na Colette, no Le Bon Marché, na Galerie Laffayette, Printemps, desde a 1ª coleção. Então já nos demos conta que o lado moda da coisa era importante. Chegamos meio de paraquedas nesse mundo, sem saber nada, ambos do ramo da administração. Sempre tivemos um gosto pela moda mas nunca tínhamos experimentado o contato com o business antes. Fizemos um modelo de tênis em 7 cores, colocamos pra vender, todo mundo comprou… E aí corremos atrás do lado da criação.

Quantos modelos a Vert tem hoje?
Fora do Brasil temos 6 modelos pra adulto. Pra nossa chegada no Brasil pegamos 3 desses 6.

E por que entrar no Brasil só agora?
Queríamos entrar direito, em termos de estrutura e disponibilidade. Sempre morei em Paris. Falo português porque já vim muito pra cá. Agora me mudei definitivamente pra SP faz alguns meses. Sempre estava querendo arrumar uma desculpa pra morar em SP, fiquei cansado de fazer esse bate e volta toda hora. Ao mesmo tempo sempre gostei de acompanhar essa cadeia produtiva, sempre me envolvi mais nisso, na parte fabril. Pra morar aqui só faltava bancar minha estadia de vez – então montamos a marca no Brasil. E foi uma combinação de fatores, acho que agora a empresa está pronta pra crescer.

Vocês também vendem na Europa inteira?
Sim, mas a França continua sendo o nosso carro-chefe, com 70%. Nos EUA ainda não tem. Preferimos priorizar o Brasil aos EUA, até porque acreditamos nessa coisa de produção local. E acho que hoje entendo mais do mercado brasileiro que do americano! Estamos em SP, Rio, Recife… as principais capitais. O plano é expandir mais, não vim aqui pra brincar, não… (Risos)

Vocês têm lojas próprias?
Em Paris temos duas, mas elas não são com o nome Veja ou Vert. Não queremos fazer nada como os outros. Centre Commercial é uma multimarcas que abrimos há dois anos e fica perto do canal Saint Martin, na área que está crescendo. A loja é grande e está bombando, com uma parte de moda, outra de móveis, livraria – e o foco dela é sustentabilidade, mas de maneira muito sutil, sem estar escrito em lugar algum, na curadoria de marcas que são fabricadas localmente, ou tem um viés de tradição na sua fabricação como a Church de Londres. Agora acabamos de abrir uma outra loja, infantil, a Centre Commercial Kids. Claro, nossos produtos ocupam um espaço legal dentro da loja, a gente também não é bobo! (Risos) Gostamos de crescer de um jeito mais orgânico, ganhando dinheiro e investindo. Não quero depender de fundo de investimento algum. A gente acompanha o que está acontecendo com quem fez desse jeito, sabe? E preferimos fazer devagar. Mas quando surgir a oportunidade, quando tiver dinheiro pra abrir uma loja da Vert, aí vamos abrir. Aqui no Brasil talvez possa até ser mais rápido que na França – depende das oportunidades, do mercado.

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E o nome vai continuar sendo diferente, aqui Vert e lá [na Europa] Veja?
Sim. Muito esquisito? (Risos) Vai ser o nosso charme. Talvez a Vert fique maior que a Veja, vai saber? Muitos gringos procuram nossos tênis quando vêm pro Brasil, e aqui eles vão ver o mesmo produto com marca diferente. Quando fizemos a feira do Fashion Rio [Salão Bossa Nova], que foi a 1ª vez que a marca apareceu nesse contexto nacional, tinha gente que passava pelo estande e se perguntava: “É uma cópia?”. E na loja do Copacabana Palace? As americanas pediam “Mas eu quero o tênis da Veja, o que está na Colette, na Merci!”.

Vocês não podem usar o nome Veja no Brasil, certo?
É, e no início a gente não queria falar muito sobre a Veja (a marca deles em Paris). Depois percebemos que não ia ter como. Os profissionais já conheciam a marca lá de fora, e tínhamos que divulgar a marca aqui, não tinha como esconder. Não podíamos aparecer sob a marca Veja aqui porque a Veja de produtos de limpeza podia impedir a gente de produzir. Segundo a lei, quando a marca é muito conhecida não se pode lançar um produto com o mesmo nome, Não dá pra lançar uma mostarda Nike, por exemplo. Judicialmente, a Veja dos produtos de limpeza já ganhou os registros em todas as classes de produto no Brasil. Mas tudo bem: no início foi um pouco chato não ter a mesma marca aqui e lá mas hoje essa questão já está superada!

E por que vocês escolheram Vert (verde em francês)?
A gente queria manter essa ligação com a França. E tinha que ser com “V”, também (por causa do V no design do tênis)!

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