Tiffany chega ao Brasil

02.05.2001

Nada mais encantador do que a atriz Audrey Hepburn dizendo “eu sou louca pela Tiffany” no filme “Breakfast at Tiffany’s”, traduzido no português como “Bonequinha de Luxo”. Nele, ela conta que quando está deprimida pega um táxi até a principal loja da joalheria no mundo, na Quinta Avenida com rua 57 em NY, e pronto! Fica logo boa. “Nada de ruim pode acontecer quando você está lá”, diz Holly Golightly, sua personagem. E se ela está certa, não há mais motivo para se deprimir em SP. Depois de 7 anos procurando um ponto na América Latina, a famosa joalheria norte-americana escolheu a cidade para sediar sua 1ª loja, mais exatamente no shopping Iguatemi. “SP é o lugar perfeito para começarmos e o Brasil é o mercado mais importante da região”, afirmou o vice-presidente Jim Quinn em entrevista exclusiva ao Estado, em seu escritório em NY. A loja abre terça-feira (8/05) e terá a presença da designer Paloma Picasso, filha do grande pintor do século 20, que assina uma linha de jóias exclusiva para a Tiffany & Co.

Em tempos de marketing e merchandising explícitos como hoje, ver no cinema um apelo tão forte a uma marca não surpreende. O detalhe é que a joalheria não pagou nada pela propaganda mágica que ressoa até hoje no imaginário das mulheres principalmente. Naquela época (1961) esse tipo de merchandising não era nada comum e o filme, justiça seja feita, é baseado no livro homônimo do sofisticado escritor Truman Capote. Se Capote teve a sensibilidade para retratar os sentimentos que a joalheria inspira, a joalheria teve perspicácia suficiente para manter seu brilho até hoje, 164 anos após seu surgimento como papelaria de luxo. A cena, aliás, quase se repete no último filme de Robert Altman, “Dr. T e Suas Mulheres”, quando as mulheres do ator Richard Gere vão à Tiffany de Dallas fazer a lista de presentes de casamento – para o seu casamento, a filha do ministro José Serra, Verônica, também fez sua lista na loja de NY.

Ou seja, você pode montar sua casa na Tiffany com faqueiros, jogos de porcelana, cristais, cerâmicas, pratarias – inclusive objetos para bebês e crianças, como um utensílio de prata para soprar bolinhas de sabão. Mas o forte da Tiffany – e nisso consiste também uma de suas grandes apostas no Brasil – está nos anéis de noivado que podem custar de R$ 2 mil a R$ 2 milhões. Afinal, foi por causa do brilho especial de seus diamantes – graças a uma lapidação e cravação que valoriza mais o brilho do que o peso do diamante -, que a Tiffany ficou mais conhecida.

A lapidação é um ponto de honra tão forte que em 1999 eles patentearam um novo corte, chamado Lucida, que proporciona um brilho ainda mais intenso e cujas características não são divulgadas para evitar cópias.

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No final do século 19, a joalheria adquiriu o chamado Diamante Tiffany, encontrado na África do Sul. De cor amarela, tinha 287 quilates que foram lapidados até chegar a 128 quilates em 90 facetas (contra as 57 ou 58 habituais), intensificando, portanto, sua capacidade de brilhar. A pedra fica em exposição permanente na loja de NY, e ganhou design do francês Jean Schlumberger, que marcou com seu estilo a história da Tiffany entre os anos 50 e 80.

Antes de trabalhar na Tiffany, Schlumberger criou jóias para a estilista Elsa Schiaparelli na mesma época em que Verdura trabalhou com Chanel. Ele gostava de peças inspiradas na natureza, na forma de flores, peixes e pássaros, todas muito elaboradas e caríssimas, únicas como modelos de alta-costura, e revigorou as jóias de ouro esmaltado, como as pulseiras que Jacqueline Kennedy Onassis gostava tanto que ficaram conhecidas como “braceletes Jackie”.

Além de Schlumberger, que morreu em 1987, a Tiffany trabalha com coleções assinadas por Paloma Picasso, a filha de Pablo Picasso que fez dos anéis de pedras grandes e coloridas sua marca registrada, e Elsa Peretti – que, infelizmente, só virão para o Brasil num segundo momento. Quem coordena as coleções é John Luring, um verdadeiro arquivo vivo e simpático, autor de dez livros sobre a Tiffany.

Sinônimo de anéis de diamante, a Tiffany no entanto nunca abandonou suas raízes. Até hoje, a papelaria é um item forte da loja, seja em cartões personalizados ou com desenhos de suas jóias – é da Tiffany o convite para a festa de inauguração da Estátua da Liberdade, em 1886. Seu fundador, Charles Lewis Tiffany, tinha o feeling exato para o marketing. Logo depois de começar a vender jóias e relógios, ele adquiriu toda a coleção de jóias da rainha da França Maria Antonieta – uma jogada que abriu definitivamente as portas da Europa para sua joalheria. A origem da caixinha azul também foi outra sacada de Charles Lewis: para agradar a imperatriz Eugênia, que usava a pedra turquesa porque sabia ser a preferida de Maria Antonieta, ele fez suas embalagens no mesmo tom de azul. Passos firmes e espertos como esses, ao longo de sua trajetória, mostram porque a Tiffany faturou no ano passado US$ 1,67 bilhão com suas vendas.

Graças ao filme “Breakfast at Tiffany’s” (Hepburn vai à loja, só tem US$ 10 para gastar e quer algo romântico), a empresa se orgulha por oferecer objetos que vão de R$ 100 a R$ 10 milhões, sempre com um serviço de atendimento muito receptivo. A loja, que está na Quinta Avenida desde 1940, é um ponto turístico de NY, orgulho dos americanos. Como diz seu presidente Michael Kowalski: “Tiffany é uma marca, mas mais do que isso, para muitas pessoas ela é um lugar.” Os balcões expõem o máximo de jóias possível, como se fosse um museu. A mesma política, aliás, será adotada no Brasil, dando oportunidade a cada visitante de ser dono, nem que seja por um minuto, de um belo colar de um milhão de dólares. Mas ele pode sair dali com a inconfundível caixinha azul embalando qualquer um de seus sonhos – pelo preço que realmente pode pagar.

Seis pequenos luxos da Tiffany & Co.:
*Caixa de 40 papéis de carta e 10 cartões: US$ 75
*Caneca e pratinhos de porcelana para bebê: US$ 80
*Canivete suíço de prata: US$ 125
*Cofrinho de porcelana: US$ 120
*Clássica flute de champanhe: US$ 50 (o par)
*Coleira de prata: US$ 170

Como comprar um bom diamante

Segundo a Tiffany, ao comprar um diamante é preciso avaliar a lapidação, a pureza, a cor e o peso da pedra. Esses 4 pontos são chamados internamente de “quatro Cs”, do inglês “cut, clarity, color and carat”.

A qualidade da pedra depende da boa combinação desses quatro Cs, mas para a Tiffany tamanho não é documento. Para eles, o que determina mesmo a beleza de uma pedra é a lapidação: no mínimo 57 facetas precisamente alinhadas. O diamante mais puro é chamado FL (flawless), ou seja, sem nenhuma imperfeição. A Tiffany só comercializa diamantes até o quarto grau de impureza, chamado VS1-VS2 (que tem inclusões muito leves).

A graduação de cor vai da letra D (a mais perfeita, portanto a mais rara e cara) até a Z, mas eles vendem apenas as pedras classificadas entre D e I, ou seja, com levíssimos traços de amarelo, marrom ou cinza. Vale lembrar que a natureza também “produz” diamantes coloridos – e muito valiosos – nas cores amarelo, rosa, azul, verde, vermelho e até preto, mas a cor também pode ser artificialmente alterada por calor ou radiação.

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo

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