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Se joga na zona de conforto

07.05.2017

Você já deve ter ouvido isso: “Tem que sair da zona de conforto, se desafiar!” Mas a moda e as macrotendências mostram que não é bem assim. Da roupa à comida e até a forma de encarar a vida, cada vez mais a gente nota que a zona de conforto não é o inimigo, e por mais que ela possa ser uma bolha (e que por vezes seja necessário estourá-la), um mundo agressivo que nos deixa nervosos e ansiosos pede um ambiente neutro pra um descanso. É o caso da David Lloyd Club, uma academia do Reino Unido que oferece, por enquanto em caráter experimental, uma aula de uma hora com 15 minutos de alogamento seguidos por 45 minutos de um cochilo em sala climatizada com uma colcha macia… Queremos? Com certeza? E isso é apenas a ponta do iceberg!

Comfy fashion

Já reparou em quantas vezes a palavra “comfy”, que é um jeito fofinho de falar “confortável” em inglês, tem aparecido nos textos de moda – inclusive quando em teoria eles são em português?! Essa procura pelo look confortável gerou diversas tendências e peças específicas ao longo das últimas temporadas, sendo a mais forte o oversize – bem street no caso da Vetements, bem sofisticado no caso de Céline e Balenciaga. O oversize é a roupa de tamanho maior, simplesmente, que já teve uma encarnação recente no blazer do namorado e jeans do namorado, lembra? Agora ela é muito maior que isso – a menos que seu namorado seja enorme… O blazer ganha um comprimento pra além do comum (então não adianta comprar aquele blazer maior no brechó porque ele não vai ser comprido assim) e o moletom pode até ter ombreiras, pra ficar ainda mais gigantão. Essa nova proporção traz, além do aspecto óbvio de liberdade de movimentos sem nada que aperta, uma sensação de proteção inclusive por chegar a esconder as formas do corpo. 

Não é só: tem o chinelinho slipper (sendo que o mais confortável é o da Gucci, forrado de pelinho), o uso de tecidos gostosos (do moletom ao veludo, passando pelo liocel de fibra de celulose e a malharia em geral), o pijama como roupa casual ou até chic, a atração por peças esportivas mesmo fora do ambiente da academia só porque elas são confortáveis, a parte de cima alongada e minimal do tipo “vai com tudo”. E principalmente a necessidade de não ver o guarda-roupa como um desafio e sim como um aliado!

Não vai tão rápido que eu não te acompanho

Com a ascensão de movimentos pró-sustentabilidade, “compre do produtor local” e contra o consumismo desenfreado, uma tendência tem sido antecipada pelas próprias marcas de fast-fashion: a derrocada delas. Na lógica capitalista de “quanto mais, melhor”, elas já não conseguem manter o mesmo ritmo no seu crescimento, mesmo porque ele não é sustentável no sentido de recursos naturais do planeta. E existe uma geração que está crescendo, com poder de compra cada vez maior, mas que curte a experiência de compra, a descoberta de coisas novas e não é nem um pouco fiel pelo preço – ainda mais porque preço baixo existe em muito lugar. O brechó volta a crescer (Alessandro Michele e sua Gucci retrô correndo atrás) mas aqui nesse post o que mais importa é o movimento contrário: o slow-fashion! Além de não se conectar à sazonalidade dos lançamentos constantes, ele geralmente também tem o discurso do conforto em seu mix de produtos, além de valorizar essa tal experiência de compra como algo mais agradável e, olha aí: confortável. Feirinhas na qual você tem contato direto com o próprio criador, atendimento mais personalizado possível mesmo que virtual, um cuidado maior na embalagem. Devagar se vai longe, não é o que diziam?

Comfort food

Agora chamam de comfort food mas a gente sempre chamou de “comida de casa da vó”, mesmo. Gosto de comida de verdade e, sobretudo, a quebra desse conceito que pintou agora de que comida saudável só é a comida fitness. No começo desse ano, quem tomou essa bandeira pra si e deu muito o que falar foi a chef Rita Lobo: ela chama essa coisa toda de “alimento funcional” de “medicalização da comida”. Ela defendeu em um tuíte: “Alimentação saudável passa pela cozinha de casa, exclui os ultraprocessados, e leva em consideração um padrão tradicional.” E ainda comentou que a “medicalização da alimentação transforma a comida em inimigo e acaba com o prazer de comer.” Prazer esse que é o mais presente na comfort food, né? Prazer sem culpa, por favor!

Confortável em sua própria pele

Já deu pra reparar até agora que a zona de conforto apresenta respostas pra casos extremos de outras tendências, né? A da roupa supersexy ou superenfeitada, a do varejo supereficiente com volume gigante de vendas, a da alimentação superplanejada e cheia de substituições pra ficar “funcional”. E aí alguém pode dizer: “Poxa, mas cada um faz o que quer, né?” Claro que faz! O discurso da diversidade na moda, que finalmente chegou e a gente espera que fique, fala mais sobre respeitar as diferenças do que as acentuar. E ele também é muito importante no processo de empoderamento de cada um – palavrinha que já está ficando desgastada, coitada, mas que é importantíssima porque tem a ver com tomar as rédeas da própria vida e dos seus próprios valores, decidir o que é bom pra si, quebrar paradigmas que nos oprimem, valorizar outras belezas e realidades que não estão no mainstream. E o quanto isso é importante pra indústria de beleza? Muito! É por isso que produtos que realçam o que você já tem ganham cada vez mais espaço na prateleira: de tratamentos pra ajudar na transição capilar (na qual a cacheada deixa de usar produtos de alisamento) a marcas de maquiagem que, no lugar de prometer uma supercobertura da pele, sugerem justamente o contrário – a cobertura suave pra você ficar mais bonita e menos overmaquiada! É o caso da Glossier.

E aí, está sentado confortavelmente? Então é hora de você também contar pra gente o que te deixa mais confortável! Arrasa nos comentários! 😉

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