Sapato artesanal de uma marca com vida cigana!

29.05.2015

A gente gostou tanto da Louloux, uma marca gaúcha de sapatos artesanais feitos a partir de sobras da indústria de calçados, que foi atrás de seu criador, o designer Cris Bronzatto, pra te contar mais sobre ela. Natural de Porto Alegre, ele fez um curso técnico em design de sapatos e fundou a empresa em 2005. De lá pra cá muita coisa mudou: da loja própria em NY e a fábrica fechada por conta da crise mundial ao olhar artesanal que começou com retalhos de couro.

Hoje ele só vende os acessórios diretamente via e-commerce ou em lojas temporárias, num esquema meio cigano, mas com clientes fiéis que adoram o clima artsy e divertido da etiqueta. Confere nosso papo abaixo e as fotos e os processos na galeria aqui em cima – é só clicar na foto pra abrir!

Como e quando a Louloux começou?
Em 2005 vendendo pra lojistas, como geralmente ocorre no mercado. Conforme o tempo foi passando notei que o lojista tinha medo arriscar e comprar os sapatos mais diferentes. Levei muito calote e, quando ocorreu a crise mundial, acabamos fechando. Foi uma pena – tínhamos uma loja própria em NY que ia muito bem, mas não resistiu. Em 2010 fechamos a fábrica e tivemos que reestruturar o negócio. Após pagar todos os funcionários tudo que restou foi R$ 14 e uma prateleira cheia de couro, que representava todo o nosso desperdício de material (eram sobras mal-calculadas na produção). Fiquei horas olhando aquela prateleira até que me veio uma luz – e este foi um divisor de águas na nossa história: começamos do zero, cortando dois ou três pares dos nossos modelos usando somente aquela sobra. Chamamos clientes antigas, colocamos esses pares à venda em uma salinha nos fundos de um café em Porto Alegre e, pra nossa surpresa, o evento foi um sucesso. Percebemos sem querer que havíamos encontrado nossa salvação e de quebra seria um jeito de diminuirmos nosso impacto no meio-ambiente. Passamos a trabalhar somente com matéria-prima excedente de produção de outras marcas. Descobrimos que todas as empresas possuem esta mesma prateleira de desperdício e que poderíamos comprar esse excedente. É uma matéria de primeira qualidade, de empresas muito conceituadas, mas não teriam serventia pra elas por ser uma metragem pequena. Como nossa produção também é pequena (produzimos apenas 12 pares de cada modelo) e o sapato é muito recortado, pro nosso formato superfunciona. Conseguimos um preço um pouquinho melhor por um material de qualidade, e conseguimos repassar isso no produto, com um preço final justo.

Onde a marca é vendida hoje?
Temos nossa loja virtual que entrega pra todo Brasil. Tivemos experiências de lojas físicas, mas percebemos que não é o nosso chão. Nossa alma é cigana, levantamos o negócio fazendo as lojas temporárias. A gente enfia todo o nosso estoque dentro de uma van, cruzamos estados, alugamos um salão em um hotel, em uma boate, em um parque ou aonde for. Atendemos as clientes, conversamos, trocamos experiências, levantamos a lona e vamos embora. É vida de circo mesmo, mas esse contato humano não tem preço. A loja de shopping não tem isso. A ideia agora é focar nas vendas temporárias (que hoje rolam basicamente em Porto Alegre, Caxias do Sul, SP e Curitiba) e expandir pra outras cidades e estados.

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Qual foi a maior dificuldade que você encontrou neste recomeço?
Ser uma empresa pequena com grandes ideais é nossa maior batalha. Tudo nasceu de um sonho: fazer sapatos únicos que fizessem as pessoas se orgulharem por terem algo tão criativo e diferente aqui no Brasil – sem exploração de mão de obra e sem superfaturar o produto. Temos uma cultura tão incrível e rica, mas um complexo de inferioridade achando que tudo que é feito lá fora é mais legal. E quando fazemos algo legal, automaticamente achamos que tem que custar uma fortuna!

Quem é o seu público?
Qualquer pessoa que se sinta sensibilizada pelo nosso trabalho, independente de idade, classe ou gênero.

Qual é a faixa de preço?
As rasteiras ficam numa média de R$ 179, as botas uma média de R$ 249, depende muito do produto. Nosso sapato é extremamente difícil de fazer pela questão dos recortes e sobreposições, alguns possuem mais de 80 peças por par e levam cerca de 2 a 3 dias apenas no corte (que é todo feito à mão). Os altos impostos e encargos acabam não permitindo a gente trabalhar dentro daquela margem de preço que sonhávamos, mas fazemos o possível pra nos manter dentro disso sem grandes aumentos, pagando um salário digno pros nossos colaboradores.

Qual é o diferencial da Louloux em relação a outras marcas?
Acho que mais importante do que a parte visual é a questão humana. Temos uma proximidade muito grande com as clientes e procuramos sempre estar atentos ao que elas têm a dizer, valorizando isso. Elas têm um carinho muito grande pela marca pois nos viram crescer, tropeçar e levantar… O que mais poderíamos querer? Ah sim, e elas adoram quando alguém para elas na rua e pergunta “da onde é esse teu sapato?!” – isso acontece muito e nós adoramos também!

Como você se inspira?
Minha criação é livre e intuitiva. Às vezes estou fazendo algo totalmente aleatório e me vem um sapato na cabeça, totalmente pronto. Corro com um lápis na mão pra não esquecer! Procuro me distanciar de modismos; nossas formas mais vendidas até hoje são as mesmas de 5 anos atrás.

Tem alguma marca de sapatos que você admira?
Admiro muito o Fernando Pires pela sua trajetória, por chegar onde chegou se mantendo uma das pessoas mais simples que conheço.

Quais são os planos pro futuro?
Permanecer independente e livre, fazendo aquilo que acreditamos e mantendo o frescor sempre. Queremos inspirar outras pessoas e mostrar que é possível viver no mercado mantendo os seus ideais.

LouLoux: sac@louloux.com.br

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