Se 2015 foi ocupado na mídia por questões de gênero, da transexualidade (Caitlyn Jenner) ao feminismo (discurso de Patricia Arquette no Oscar, edição da “Elle” Brasil sobre o tema) e o agênero em si chegando concretamente na moda enquanto tendência (via Alessandro Michele na Gucci, e depois passando até pelo próprio casting de modelos), 2016 dá sinais de que a diversidade continua em pauta, mas agora por outro viés. O 1º sinal veio da resposta às indicações do Oscar, com a hashtag #oscarsowhite: desde 2013, com Chiewetel Ejiofor, Lupita Nyong’o e Barkhad Abdi, não apareceram mais negros entre os candidatos ao Oscar de Melhor Ator, Atriz e Coadjuvantes. Nesse ano ficaram de fora, por exemplo, Samuel L. Jackson por “Os Oito Odiados” e Idris Elba por “Beasts of No Nation“. Muita gente já declarou boicote à premiação, incluindo o cineasta Spike Lee.
Enquanto isso, depois do poderoso discurso de Viola Davis no Emmy de 2015 sobre a situação da mulher negra na indústria, Taraji P. Henson dominou o Globo de Ouro de 2016: estava linda no tapete vermelho e, ao ganhar, distribuiu cookies pros colegas antes de subir no palco – uma referência à sua personagem na série “Empire“, a matriarca Cookie. A série em si é empoderadora: um drama com negros ricos da milionária indústria fonográfica. Tanto “How to Get Away With Murder” com Viola quanto “Empire” trazem personagens negros na TV que saem do clichê. Mas a mesma mulher que foi uma das responsáveis por inflar o discurso feminista na arena do entretenimento deu a guinada que faltava pro debate esquentar de vez: Beyoncé, com seu esperado novo single “Formation“, traz à baila as acusações contra a brutalidade da polícia americana ao matar negros inocentes.
O vídeo, lançado com o single, mostra mil referências, atuais e históricas, sobre racismo e empoderamento negro: do cenário distópico de Nova Orleans pós-furacão Katrina até a mistura de looks de antes e de agora, inversão escrava x sinhá à Xica da Silva. Na letra, mil reafirmações de orgulho. E aí… corta pro Super Bowl, que contou com show de Beyoncé (mais Coldplay e Bruno Mars): ela cantou “Formation” com look inspirado no que Michael Jackson usou em sua apresentação no mesmo show do intervalo, em 1993, e suas dançarinas usaram boinas e looks pretos, referência aos Panteras Negras. A cantora diz se conectar ao movimento “Black Lives Matter” (vidas negras importam) – inclusive existe uma versão dele no Brasil, “Jovem Negro Vivo”, da Anistia Internacional. Muita gente elogiou, mas a apresentação também despertou muitas críticas, tanto nos comentários a respeito da polícia quanto à citação aos Panteras Negras em si, que têm um histórico de violência.
E acaba de estrear a nova série de Ryan Murphy (de “Glee” e “American Horror Story“), “American Crime Story“, com dramatização de histórias de crimes reais que rolaram nos EUA. A 1ª temporada é sobre o caso de O.J. Simpson, acusado de matar a ex-mulher Nicole Brown Simpson e Ronald Goldman. Existe todo um lado da história que defende que o ex-atleta O.J. (interpretado por Cuba Gooding Jr), por ser negro, foi tratado de maneira diferente quando apontado como suspeito – e isso já começa a aparecer desde o 1º episódio.
Em suma, a discussão está apenas começando a aumentar – finalmente. Resta saber como a moda, que é bastante acusada de não abraçar e divulgar a diversidade, vai refleti-la. Um aviso: Alessandro Michele já está na crista da onda novamente, vestindo Bey em diversas ocasiões e no clipe. O que será que podemos esperar da temporada internacional de outono-inverno 2016/17, que começa agora? Enquanto isso, é bom ficar por dentro de todo esse contexto – e ouvir “Formation”, que também tem seu lado alta moda ao dizer “sou tão despreocupada quando eu arraso com meu vestido Givenchy“. Hit!