Para pintar o corpo

05.08.1997

Paulo von Poser já havia pintado suas rosas nas modelos da grife G para o verão do ano passado. Mas é no próximo verão que a pintura corporal vai aparecer com toda força. Um brilho dourado nos ombros, uma pincelada vermelha no braço ou um desenho espiralado no rosto provocam várias leituras e atendem a vários desejos – sensualidade, brincadeira, fantasia – sem o comprometimento eterno da tatuagem. Continuam a valer as tatuagens temporárias, mas a diversão é trocar a tela pelo corpo e fazer dele suporte para o seu pincel, como se você entrasse no filme “Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway.

Nos desfiles do último MorumbiFashion vários estilistas adotaram o make corporal: da pele perolada de Lino Villaventura aos pés vermelhos de Reinaldo Lourenço. Esta pintura pode substituir uma tatuagem (como o touro ou o motivo tribal usados pela Zapping), uma jóia (os colares da Alphorria) ou ser apenas um truque. Ou um toque, como o traço sobre os olhos das modelos de Renato Loureiro. “É tudo frescura fashion”, afirma Paulo Martinez, stylist dos desfiles de Loureiro e Alice Capella.

Lá fora, o inglês John Galliano deu o start em outubro passado com o look marroquino que criou com o “makeup artist” Stephane Marais para a grife Givenchy. Em março, foi a vez da belga Ann Demeulemeester pintar luvinhas pretas em suas modelos. Por aqui, os índios brasileiros sempre se expressaram com uma rica tradição de pintura corpórea: eles se pintam para a guerra, para a paz, para o rito de puberdade ou de morte, para a festa, para tudo. Usam basicamente pigmentos de areia escura (preto) e sementes de urucum (vermelho).

“Tatuar o corpo é realidade. Desenhar o rosto é fantasia”, diz o expert Mauro Freire. Com um simples lápis preto de olho, ele reproduziu desenhos dos índios cadiveus, do Mato Grosso, nas modelos do desfile de Alice Capella. “Para sair à noite, a mulher pode brincar com vários motivos. É uma atitude quase londrina”, acredita Freire. Quem tem pele clara, segundo ele, pode usar lápis colorido como vermelho e amarelo. Para as mulatas, branco. Para as morenas, vale qualquer cor.

Segundo Westerley Dornellas, autor do make do desfile da Zapping e dos comerciais do tênis Topper e da pinga Nega Fulô, a pintura corporal deve ser sempre feita por outra pessoa, evitando borrões e distorções. “Nessa uniformidade estética, a maquiagem acaba vestindo a pessoa”, afirma o ganhador do prêmio hors-concours da Avon. Como produtos, ele aconselha o Aquacolor, da Kryolan, uma espécie de guache para a pele que sai com água, ou uma mistura de óleo com pancake colorido da Payot, que sai com demaquiante. A M.A.C, marca top canadense, tem um linha de pós metalizados em tons de bronze, prata, safira, rubi e esmeralda, bons para brincar de jóia. “Pintar o corpo é como escolher uma jóia. É novo, é o que vai rolar”, aposta o estilista Reinaldo Lourenço.

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo

Tags:                                                            

Compartilhar