As ideias de Marie Rucki

28.07.1997

Estilista e diretora da escola de moda Studio Berçot, em Paris, Marie Rucki chegou domingo a São Paulo a convite da Coordenação Industrial Têxtil. Até o próximo dia 8 ela realiza workshops na Casa Rhodia sobre criação, estilo e modelagem. Anteontem pela manhã, ela falou sobre “Moda e Estilismo no Final do Século”, palestra que levará à Federação de Indústrias do Rio de Janeiro no próximo dia 11.

A volta da alta-costura ao foco de interesse fashion neste fim-de-século corresponde a um desejo de sonho que, segundo Rucki, nada tem a ver com a necessidade industrial. Assim, surgem as cisões entre os profissionais da moda, comparáveis ao que ocorreu com as artes na época do impressionismo: “Há cem anos os impressionistas eram herméticos demais para o público. Hoje é a moda que causa essa impressão. Só os verdadeiros profissionais falam e entendem a mesma linguagem, mas essa linguagem não corresponde à necessidade do público que quer saber qual a cor e o comprimento da próxima estação. E a resposta é: valem todos”, afirmou na palestra realizada no hotel Mofarrej Sheraton.

Para chegar ao final do século, Rucki pontua a moda em três períodos. Os anos 40 do pós-guerra viram o desejo e a necessidade do luxo frutificarem na alta-costura, que teve suas imagens amplamente difundidas pela imprensa americana e francesa da época. Os anos 60 assistem à explosão do prêt-à-porter (pronto para usar) que propõe uma moda universal, divertida e acessível à classe média. “Mas o prêt-à-porter também foi perigoso”, disse Rucki, “pois acabou com a hierarquia existente”. Os anos 80 produzem os chamados “criadores”, isto é, estilistas que desenvolvem um prêt-à-porter mais caro, mais bem feito, dirigido a um consumidor mais elitista do que o do prêt-à-porter dos anos 60. Em seguida, vem o período que Rucki chama de pós-modernista, voltado para os jovens, comercialmente mais fácil, detonado pela imprensa inglesa. Até que chegamos a 1997 ou ao final deste século que, segundo ela, “já está no ar mesmo que ainda faltem alguns anos”.

Segundo Rucki, a grande influência de hoje são os “excêntricos”, grupo cultural urbano anônimo que só existe nas grandes metrópoles e tem um look bastante gótico. “São os dândis deste final de século e a papisa da excentricidade é Diana Vreeland”, diz. Foi a eles que o poderoso Bernard Arnault, detentor do maior conglomerado de luxo do mundo, recorreu para reavivar a alta-costura: contratou os “excêntricos” ingleses John Galliano e Alexander McQueen como estilistas das maisons Dior e Givenchy. “É um marketing às avessas, mas muito sofisticado e eficaz”, concluiu Rucki.

Lilian Pacce para O Estado de S. Paulo

Tags:                          

Compartilhar