Aquele auê com a designer de sapatos Luiza Perea

21.07.2016

A marca de calçados feitos à mão de Luiza Perea, inaugurada em 2007 num pequeno ateliê nos fundos de uma casa, tem a incrível qualidade de aliar a beleza do design ao conforto de quem usa. Embora muitos modelos contem com cores metálicas, seus calçados não sugerem qualquer tipo de exagero. Pelo contrário, o bem-estar e a praticidade entram em 1º lugar na hora de desenvolver um novo produto e, com isso, os tons metálicos ficam destinados ao dia a dia da mulher, “da festa à feira”, como ela afirma. Além disso, a marca preza pela produção artesanal, tem todo o cuidado com a escolha dos materiais, e pensa em como reaproveitar as matérias-primas. Uma das marcas de slow fashion mais bacanas do mercado!

De onde surgiu sua vontade de trabalhar com calçados? 
Foi uma oportunidade que surgiu, na verdade “uma vontade de continuar a trabalhar com calçados”. Me formei na Santa Marcelina e pro meu trabalho de conclusão de curso escolhi a joalheria. Pra mim na época era o mais próximo do manual, do artesanal, onde eu poderia me expressar. Meu trabalho recebeu um prêmio: participei durante um ano de um projeto – hoje extinto – que se chamava Fábrica Morumbi no qual desenvolvi dois desfiles. No 1º fiz apenas joias, mas pro 2º eles pediram que nos expressássemos no conjunto todo, e foi assim que me apaixonei pela arte de desenhar calçados. A proximidade com o artesão, o dia a dia numa fábrica, a criação – tudo isso me encantou. No final desse desfile vendi quase todos os sapatos, foi como um chamado. E desde então essa é a minha força motriz. Minhas criações partem disso e são fiéis a esse espaço que deixei crescer em mim. A vida me mostrou outra oportunidade e abracei.

E desde o começo você já trabalhou com o sapato baixo, mais confortável, né?
Ser fiel a essa linha do sapato baixo, criativo e elegante só me trouxe mais força e confiança pra continuar. Não haviam tantas opções de sapatos baixos e bonitos. O conforto é intrínseco à nossa marca – é o pré-requisito básico. Começa na escolha dos couros, que sempre são os mais macios. O ambiente de moda na época era um pouco mais tímido e mesmo atualmente sofre uma forte tendência a seguir o que já existe. Há 9 anos propor um assandalhado trançado, fechado e metalizado era tirar a mulher da sua zona de conforto, na verdade. Mas a beleza, o feminino e o conforto estavam todos juntos pra convidá-la a experimentar outra forma de vestir e sentir-se bonita.

Pra além das matérias-primas tradicionais, você busca artefatos que seriam descartados? Existe reutilização de materiais na sua produção?
Com as sobras de couro nós fazemos as alças das nossas sacolas de algodão, que ficaram lindíssimas. A ideia é que a nossa cliente a use depois, não foi feita apenas pra carregar o sapato após a compra. Além disso já usei muito couro de peixe, tecidos, e atualmente uso mais couro animal e o respeito pela cadeia sustentável. Não há desperdício, não há grande produção, são poucos pares por modelo e nos certificamos de comprar o material dos melhores curtumes. É por isso que além de desenhar há um respeito pelo uso. Não é um rótulo que faz uma marca consciente, é a aplicação real de conceitos e o respeito por essa vontade de um planeta melhor, livre do desperdício.

Para você, quais as vantagens e os impactos do slow fashion enquanto uma nova forma de pensar a moda?
É a liberdade de fazer e criar sem ter que respeitar uma agenda. Fica robótico ter que produzir para uma agenda imaginária e é aí que começam as cópias, a falta de originalidade. O desespero de ter que acompanhar uma agenda de lançamento mutila qualquer criatividade. Nós temos que respeitar a realidade, as temperaturas do ano. A nossa loja física fica na rua. Como posso lançar uma coleção de primavera-verão no inverno? Tá frio. Somos contra esse entorpecimento da indústria. Por isso que, mesmo que troquemos de coleção, que é uma forma de pontuar um novo começo, respeitamos o tempo.

Silvia Feola, do site “Os Novos Bárbaros“, infohunter do site Lilian Pacce

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