Enquanto as vuvuzelas gritavam pela cidade, a pergunta ao final desta temporada do São Paulo Fashion Week era: o que vai pegar na primavera-verão 2010/2011? Os 39 desfiles apresentados na última semana apontam alguns caminhos que vão do primor da alta costura dos anos 60 à praticidade e ao conforto do esporte, num jogo amistoso entre luxo e performance.
Márcio Madeira/First ViewClima anos 60 de Reinaldo Lourenço
Dos anos 60 as grandes referências são o estilo e as técnicas de Cristóbal Balenciaga e as linhas retas de futuristas como André Courrèges e Pierre Cardin. Alexandre Herchcovitch apresenta um de seus desfiles mais impactantes, baseado na intensidade das cores, em edição irretocável. Os vestidos gravitam sobre o corpo e trabalham volumes nas costas e na construção das mangas. É uma silhueta confortável, que dispensa um corpo de top model, ao mesmo tempo que confere elegância. Reinaldo Lourenço também respira esses ares em vestidos que realçam a textura de lindas flores de fita de organza bordada somadas a recortes aerodinâmicos de automóveis.
Márcio Madeira/First ViewCamadas de organza de Gloria Coelho
Samuel Cirnansck trabalha modelos retos ou em A soltando a fantasia em bordados de pérolas e paetês com motivos de Halloween, tudo bem curtinho. Já André Lima prefere uma silhueta mais sereia, curvilínea, com incríveis babados orgânicos estruturados. E Gloria Coelho constrói seus vestidos como se fossem andares de um prédio rotatório inspirada na Dynamic Tower projetada para Dubai, misturando organza, cetim e elástico.
Márcio Madeira/First ViewTubinho neoprene da Neon
Enquanto esses nomes primam por materiais e técnicas de luxo, há quem prefira elementos bem esportivos com recortes anatômicos, tecidos-telas e neoprene. A Animale vem mais leve com trabalho interessante em telas, couro stretch e texturas. Já a Neon consegue fundir seu DNA de moda praia à roupa urbana tanto em estampas náuticas como em bodys e vestidos de neoprene como se fosse um Short John – uma ideia que pode se tornar um blockbuster e o perfeito substituto para os vestidos-bandagem, aqueles bem colados no corpo. Já Simone Nunes usa o neoprene floral, conferindo um certo romantismo a esta praia. Enquanto Oskar Metsavaht tinge a coleção de sua Osklen com toda a gama de azuis.
Márcio Madeira/First ViewA Ellus foi uma das marcas com cartela de cor linda para o verão
A sutileza das cores, aliás, deu o tom à temporada. Os fluos e neons começam a diminuir de tamanho e intensidade. Entram os tons pastel, tons de sorvete, tons de macarron. São suaves: rosa, azul, verde, amarelo, salmão e variações do nude, que vão do areia e rose até o cáqui e o camelo. E mais: vale o total look monocromático e colorido. Pra radicalizar, você pode usar os óculos da mesma cor (redondo de preferência), o cabelo (com aplique ou spray colorido), o delineador ou o batom (em azul, roxo, verde e cores inusitadas para boca).
Márcio Madeira/First ViewOrganza-jeans da Colcci
O jeans também pede total look. Sim, pode usar camisa e calça jeans, jaqueta e calça jeans e assim por diante. Desde que no mesmo tom e lavagem, tipo conjunto. O jeans vem com lavagens manchadas e a Colcci propõe até uma versão transparente que, na verdade, é uma organza com estampa do jeans. A cintura em geral está mais alta, especialmente nas modelagens secas, como a da calça capri ou cigarrete, shorts e saias retas.
Márcio Madeira/First ViewRenda de Ronaldo Fraga
Bacana ver como a renda pode ser interpretada: tem a versão laser no couro da Iódice, a versão bordada de algodão na Animale e o emocionante trabalho manual da renda renascença nos modelos de Ronaldo Fraga. Este passeio de Ronaldo pelo Nordeste, que ele chama de “turista aprendiz” em alusão a Mario de Andrade, trouxe uma leveza à sua roupa digna dos 15 anos que a marca está comemorando.
Lilian Pacce, especial para o “Estado de S.Paulo” em 16/06/10