Hoje e amanhã teremos 8 desfiles para o verão 2002 na São Paulo Fashion Week que acontece na Fundação Bienal até terça-feira, dia que terá a moda praia para a conclusão da temporada. O 1º dia de coleções femininas começou com a calmaria da Equilíbrio, com sua silhueta leve em chifom arrematado por detalhes de frufru, costurado à peça ou caindo solto e esvoaçante.

A Ellus é quem traduz melhor o lado mais trendy da moda hoje. Mistura de Christian Dior com Imitation of Christ (a performance da grife americana pode ser vista até amanhã no Carlton Arts), ela pontua a coleção com peças garimpadas em brechós americanos e customizadas por sua equipe de estilo, formada em grande parte por talentos saídos da Faculdade Santa Marcelina. “São praticamente peças únicas, que estarão à venda apenas na loja da rua Oscar Freire”, avisa Nelson Alvarenga, que comemora 30 anos de Ellus em 2002.

O bom humor começa pelo convite: um sapato caindo do pé – referência ao desfile de inverno que foi um festival de sapatos caindo na passarela. Depois do furor provocado pela presença de Rodrigo Santoro na platéia, o desfile começa com as meninas de calcinha e sutiã dando risada num vestiário. Dali, elas saem livres e ingênuas prontas para brincar e realizar seus sonhos. Essas bonecas adoram tule em microssaias de babados, em blusas franzidas ou em manguinhas bufantes, com muito branco, rosa, laranja e azul. Elas misturam camisas militares com renda e brincam de pintar a perna igual à meia listrada que usam com o sapato de salto baixo ou stiletto (ufa, desta vez todos os sapatos entraram e saíram devidamente calçados). Os acessórios são importantes: dos brincos de fitas coloridas de 1m de comprimento às faixas de smoking e aos papagaios de paetê.

Alvarenga agora quer capitalizar e exportar a imagem da marca como bom fabricante de jeans e anuncia isso até nas estampas com “ellusjeansdeluxe”. O jeans em si vem escuro ou com faixas tão lavadas que ficam quase brancas. A jaquetinha de manga 7/8, a legging e a calcinha são hits. No final, acredite, aquela menina tão livre e desencanada mostra que seus sonhos são os mesmos da vovozinha: casar e ser feliz. Só que seu vestido de noiva é customizado, influenciado por Courtney Love, Madonna e Cindy Lauper. Ela descobre uma saiona de tule no baú e a veste com a calcinha e a jaqueta jeans que tinha no armário.

A M. Officer armou um cenário incrível com elementos de uma aldeia indígena. Do chão de palha, saíram os músicos do grupo de Marlui Miranda, que cantou ao vivo mantras tribais que ela conhece tão bem. A imagem era linda. Mas é uma imagem roubada, cujo valor e riqueza estética cabem unicamente aos índios que, mais uma vez, foram usados pelo homem branco cheio de “boas intenções”.

Apesar do discurso de Carlos Miele, dono da M. Officer, ser corretíssimo, a prática não se sustenta e não consegue estabelecer a ponte que ele pretendia entre a cultura indígena e a européia. Pelo contrário, só evidencia a distância e as diferenças entre as duas. Até a senhora de 91 anos, de origem indígena e avó de Suyane (a garota-propaganda da marca), ficou ali deslocada, com seu próprio vestido de domingo, sentada como um adereço na frente do pit dos fotógrafos. E a coleção em si não tinha nenhum link com a cultura indígena explorada em cena. As roupas eram o clássico da M. Officer, agora mais bem-acabadas: sensuais vestidos assimétricos de costas nuas em tecidos de última geração como o couro stretch (agora em versão avestruz), o couro-rendado a laser e a malha metálica, e também as rendas rebordadas. Tops-corset estruturam a silhueta.

Os convidados da G tinham que vestir capas pretas, como as de barbeiro, para entrar no desfile, o que causou bastante tumulto e ficou sem sentido no contexto do desfile – todos saíram se perguntando qual era a função da platéia uniformizada. Na passarela, os looks vieram numa harmônica e forte composição de camadas históricas. A base é uma segunda pele com estampa cibernética. Depois vêm os volumes fartamente franzidos do século 19 em tecidos nobres como o georgete. E por último os acessórios de origem punk dos anos 70, em cintos e faixas arrematados com peças de metal como colchetes, tachas e botões. O efeito é muito contemporâneo, arrematado por minimochilas de neoprene.

FASHIONET

@ No urucum – A fórmula da pintura indígena vermelha do desfile da M. Officer pode ser encontrada em qualquer loja de produtos de beleza. Trata-se de um bom pancake vermelho.

@ Carioca-belga – Com o novo padrao de beleza, quem está com a bola toda é a carioca Mayana, 18 anos, que acaba de chegar da temporada de desfiles internacionais e vai aparecer em 18 desfiles da SPFW. Descoberta por Serginho Mattos, da Mega, ela nem desfilou na última temporada daqui, mas já fazia sucesso com seu estilo punk-rock nos tops customizados por ela – os mesmos que Carolina Dickmann usou para as fotos da revista “VIP“. Apadrinhada por Mario Testino, ela acaba de fazer a campanha da Chanel com Karl Lagerfeld e a de Salvatore Ferragamo com o próprio Testino, além de ser um dos destaques da edição brasileira da revista “V“.

@ Quem abriu a coleção feminina da Ellus, inspirada numa ninfeta sonhando uma vida de mulher, foi Cintia Dicker, com apenas 14 anos. Ela é a garota da campanha da Melissa e da do último inverno da G. Até hoje só fez
editorial para as revistas “Mundo Mix” e “Querida” e confessa que gelou na hora de ser a primeira a entrar: “Gelei e minha perna tremeu, mas só antes da passarela. Depois passou, acho que os 10 pai-nosso que rezei ajudou”. Ela
é da Marilyn.

@ A coleção de Carlota Joaquina para o verão 2001/02 que tem o alvo como símbolo, é inspirada na artista plástica japonesa Yayoi Kusama, aquela que faz instalações com bolas, bolas e mais bolas. Portanto podemos esperar muito grafismo e o universo de bolas da artista que acaba de expôr em Paris na casa do Japão. Lembra da estrela do inverno? Agora serão bolas.

@ Alguns assesssores de imprensa ainda não acertaram na hora de sentar as pessoas. Mapas confusos que muitas vezes não batem com os cartões magnéticos, sentam você e depois pedem para você sair e trocar de lugar, num evento para convidados, onde a grande maioria está trabalhando. Quem não teve paciência num troca-troca desses foi Marcelo Sommer, que no desfile da Ellus, depois de sair da primeira fila, não conseguir sentar no chão e ser mandado lá para trás, simplesmente pegou sua turma e foi embora.

@ E comprador internacional também briga por lugar bom. Os compradores da inglesa Kokonto Zai, das lojas de Paris e de Londres (Robin Schulié e Liliana Sanguino, respectivamente), da Onward, em Paris (Pascal Reveau) e da L’eclaireur também em Paris (Alix Maia), ficaram surpresos com a fileira F para o desfile de Carlota Joaquina. Aborrecidos, ponderavam se valeria a pena ir: “Para comprar, tem que olhar”, um deles reclamou.

@ A Anhembi Morumbi tem sido mais uma peça nessa engrenagem que está fazendo a moda brasileira crescer. Além dos cursos de moda já programados, algumas novidades estão aparecendo por aqui. Um dos cursos de setembro é de visual merchandising, tema que merece 4 anos de faculdade na América, como na FIT (Fashion Institute of Technology), por exemplo. o assunto é antigo para sociedades mais desenvolvidas e visuais, novo aqui onde a cultura de moda ainda está começando. Por isso, a faculdade montou uma aula aberta e gratuita para apresentar a aula, explicar melhor mais essa vertente do mercado. Essa aula será no dia 9/08, às 9h da manhã.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo (colaborou Emanuela Carvalho)

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