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Retrô hi-tech, a nova onda

25.03.2010

Quem não sonha em ir a um desfile, especialmente se for em Paris, Milão, Londres ou NY? O problema é que não tem dinheiro que pague este sonho. Só vai quem é convidado. Tem sido assim durante as últimas décadas, quando o acesso ao glamuroso mundo da moda foi mantido fechado a sete chaves. Embora todos quisessem participar dele, a estratégia das maisons de luxo sempre foi restringir este acesso, garantindo a aura da exclusividade.

Mas nesta temporada internacional tudo mudou. As mesmas marcas que resistiram ao acesso irrestrito e em tempo real proporcionado pela internet transmitiram seus desfiles ao vivo pela rede. Da mesa do trabalho ou do sofá de casa foi possível assistir ao desfile da Louis Vuitton, Miu Miu, Dolce & Gabbana, Empório Armani, Jil Sander, Marc Jacobs, Rodarte e Alexander Wang entre tantos outros. Sinal rápido dos tempos: há apenas sete anos, em 2003, o fotógrafo brasileiro radicado em Paris Marcio Madeira, o primeiro a publicar fotos dos desfiles no site FirstView, chegou a ser preso durante uma temporada em nome dos direitos de imagem.

Reproduçãoprada-inv-11-lilianPrada outono-inverno 2010/11

É muito pouco tempo pra uma mudança tão radical. O sucesso dos desfiles via web foi comprovado em outubro passado, quando o estilista Alexander McQueen (1969-2010) fez a transmissão ao vivo em parceria com o site SHOWstudio. Lady Gaga avisou pelo Twitter que estaria lançando seu novo single “Bad Romance” ali. Foram tantos acessos, que o site despencou. Saiu do ar.

Outra inovação desta temporada foi orquestrada pela tradicional Burberry. Quem não estava em Londres, onde a marca desfilou, recebeu convite para ver o desfile em NY, Dubai, Tóquio e LA. Onde? Num cinema com direito a imagens em 3D, como no filme “Avatar”. E mais: com um clique, era possível comprar toda a coleção online.

Mas o grande paradoxo vem agora. Anos-luz dividem o meio e a mensagem. Enquanto o avanço tecnológico – e estratégico – é evidente, nas passarelas o clima era outro. Um caráter extremamente retrô pairou nas coleções para o outono-inverno 2010/2011, sendo os anos 50/60 os mais contemplados, haja vista as coleções criadas por Marc Jacobs e Miuccia Prada – dois nomes de grande influência hoje.

Na Vuitton, todo o clima começava com a fonte redonda construída especialmente no meio da passarela. As modelos pareciam novas Sophias Lorens passeando por Roma, num clima Cinecittá (influência do filme “Nine”?), com muito corselet apertado (haja peito!) e saião rodado. Parecia até revival de Dior. Para encarnar essas neodivas, o diretor de criação Marc Jacobs (que já havia demonstrado seu desejo pelo retrô na própria coleção em Nova York) convocou tops de hoje, ontem e anteontem como Laetitia Casta, Elle Macpherson, Karolina Kurkova e Adriana Lima. Mesmo na coleção que leva seu nome, Marc Jacobs olha para o passado, com direito à trilha com “Over the Rainbow”. E declarou: “Há um esforço tão grande hoje na busca pelo novo que o novo nem parece mais tão novo”.

Reproduçãolouis-vuitton-inv-11-lilianLouis Vuitton outono-inverno 2010/11

Miuccia Prada parece endossar Marc. Mais literal pra coleção da Prada e mais contemporânea na Miu Miu, mas sempre com uma dose sutil de provocação. A italiana entra num clima Brigitte Bardot e também convoca modelos consideradas mais “voluptuosas” como a “Angel” Alessandra Ambrósio na passarela da Prada. Coque no cabelo, óculos gatinho e muito frufru no decote, colocando também os seios em total evidência – final dos anos 50, começo dos 60. Já na Miu Miu, entram os anos 60 pré-hippie, meio Mary Quant meio Pierre Cardin – que aliás, aos 89 anos, está comemorando 60 de profissão… Cardin, ao lado de Paco Rabanne e André Courrèges, formou a “tríplice aliança” do futurismo na moda. Meio século depois, o futuro de alguma maneira chegou.

Lilian Pacce, especial para o “Estado de S.Paulo” em 24/03/10

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