Owen Gaster, uma figura que promete

07.04.1998

Um dos nomes mais consistentes da cena fashion inglesa, o estilista Owen Gaster abre dia 15 de maio o 2º Youth Arts Festival, promovido pela Cultura Inglesa, que reunirá atrações de teatro, música, fotografia e artes plásticas até 10 de junho, além do 14º Rock Fest, concurso que premiará músicas inéditas em inglês com a gravação de um CD. Para escolher o local do desfile, selecionar as modelos e acertar a produção do evento, Gaster esteve em São Paulo onde visitou lugares como a antiga fábrica da Alpargatas na Mooca, o restaurante Spot e o clube B.A.S.E., além de lojas como a de Reinaldo Lourenço, G e Alexandre Herchcovitch. Ficou impressionado com a arquitetura paulistana: “A cidade é feita de fortalezas cercadas por muros e grades”.

Pele de porcelana, temperamento típico britânico, Gaster tem 28 anos e começou há quatro na moda, sempre em carreira-solo. Depois de um frustrado teste para a business school, resolveu se profissionalizar no que fazia intuitivamente para aguentar as “intermináveis” aulas da escola: desenho. Enquanto a maioria prefere a badalada Saint Martins School, Gaster optou pelo Epsom College of Art & Design: “Lá eu pude me desenvolver melhor do que na St. Martins, onde o único objetivo é descobrir o próximo John Galliano”, diz Gaster, que fala pouco mas é cheio de opinião.

Para ele, a moda deve tornar o design acessível ao dia-a-dia. “Acabou a função de educar ou de tentar mudar o modo de vestir. Hoje, a pessoa quer se sentir confortável, sexy ou segura, e não apenas trendy”, afirma. Gaster considera Yves Saint-Laurent o grande gênio e a maior influência da moda contemporânea enquanto esbraveja contra a venerada Rei Kawakubo, da Comme des Garçons: “Ela é uma mentirosa. A coleção da barrigas e corcundas falsas (N.R. Usada como figurino do balé de Merce Cunningham) havia sido criada dez anos antes por Georgina Gogley (professora do Royal College)”, afirma.

Seu desfile de formatura no final de 1992 recebeu generosos elogios da mídia. “Para quem tem talento, é barato fazer um desfile. Todos topam colaborar sem altos cachês e a imprensa britânica nos incentiva muito”, conta. O apoio da imprensa atraiu para Gaster a atenção do mercado japonês que imediatamente lhe encomendou várias peças. Financiado pelos pais, bastou algumas estações de vendas no Japão para que se tornasse uma grife auto-sustentável e seu estilo, uma linguagem única. “Se não fosse o apoio financeiro e estrutural do Japão e da Itália, não haveria Alexander McQueen, Hussein Chalayan ou Antonio Berardi”, diz referindo-se à nova geração de estilistas ingleses que está imprimindo uma nova estética à moda internacional.

Desde o início, Gaster embala seus desfiles com drum’n’bass do amigo e dj Bluz. Nas roupas, têm prazer em reinventar clássicos, colocando forros coloridos em vestes e cortando blazers de alfaiataria em pele de carneiro tingida por cores diversas, como verde ou azulão – uma peça que o acompanha desde sempre. Em fevereiro, ele mostrou em Londres sua oitava coleção (outono-inverno 99), a mesma que vai apresentar no Circo Escola Picadeiro, em São Paulo. Nessa coleção, ele mistura tecidos tradicionalmente masculinos (príncipe-de-gales, risca-de-giz), chifon envernizado, chamalote e a popular renda de toalhinhas plastificadas em peças de corte elaborado. O resultado é  “clean, sexy e sharp”, como ele mesmo define.

Apesar de breve, seu curriculum denuncia a influência que tem exercido na moda contemporânea, como o uso de alças transparentes, que dão a ilusão de a roupa estar suspensa no corpo (primavera-verão 95), e a inspiração de insetos para estampas, devorês e recortes, como a calça com amplas pernas que imitavam um gafanhoto (outono-inverno 95/96). “Não vendi nada na época. Em compensação, se tivesse feito duas estações depois, teria faturado muito”, conta, colocando em discussão o dilema do estilista de vanguarda que vive o impasse de repetir uma idéia tempos depois, quando ela já foi assimilada pelo mainstream e, portanto, tornou-se comercial. “Acho importante evoluir uma idéia, mas repeti-la só pelo valor comercial não vale a pena”, conclui. Na mesma coleção, Gaster utilizou uma renda fluorescente baratíssima: “Era supervagabunda e acabou virando item de várias grifes”. Depois vieram ainda os dragões, os zíperes embutidos que se abrem como se a roupa tivesse sido navalhada e os novos godês.

Nascido em Beirute, no Líbano, Gaster mudou-se com a família para Sussex, no sul da Inglaterra, aos 5 anos. Lá vive tranquilo até hoje com a mulher e, a partir de junho, um bebê. Viaja a cada quinze dias para a Itália, onde acaba de fechar um acordo com a empresa Casor para produzir sua coleção. “Vamos poder crescer e fortalecer a coleção feminina”, diz. Suas roupas ainda não estão à venda no Brasil, mas podem ser encontradas nas lojas Joseph (Londres), Colette e Galeries Lafayette (Paris), entre outras. Além disso, desenvolve uma linha mais acessível para a rede de lojas inglesa Bh’s.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo

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