O cisne verde-e-amarelo

31.05.2012

Vivemos o entusiasmo de passar de patinho feio a cisne no mercado internacional. Nas rodas de moda só se fala da chegada de grandes marcas internacionais ao Brasil. Prada, Gucci, Miu Miu, Burberry, Bottega Veneta, Balmain ou Balenciaga – o plano de negócios é ambicioso, algumas pretendem abrir mais de 10 lojas em menos de cinco anos por aqui. Finalmente estamos sendo bem tratados! A euforia chega ao consumidor, especialmente em São Paulo, onde sua marca preferida está agora no shopping center mais próximo de você. E embora as taxas de importação não ajudem, podemos parcelar nosso objeto de desejo no cartão de crédito.

É um grande sinal do amadurecimento da nossa economia e de nós como consumidores. Mas hoje, enquanto escrevo este artigo, fico sabendo que o setor têxtil e de confecção no Brasil registrou um déficit de US$ 1,45 bilhão apenas no 1º trimestre, enquanto as importações chegaram a US$ 2,19 bilhões no mesmo período. Ou seja, a conta na verdade não é muito boa… Quando a balança perde o equilíbrio desta maneira, é hora de parar pra rever tudo.

Sempre fui péssima em números, mas fiquei realmente preocupada. Porque o segundo “só se fala de” nas rodas de moda é sobre as dificuldades do mercado interno. Nossa indústria têxtil está à míngua e poucas marcas brasileiras têm um branding capaz de concorrer com as grandes marcas de luxo do mundo, agora suas cordiais vizinhas. Estávamos aqui aprendendo a fazer, a criar, a ter qualidade, quando fomos surpreendidos por “ataques inimigos”, vindos tanto da China quanto do tão sonhado mercado de luxo.

Marcas bacanas, de médio porte, que brilham nas semanas de moda nacionais, viraram recheio espremido de um sanduíche que leva uma fatia de luxo e uma fatia de fast-fashion. O desafio, que já é grande, vai ser ainda maior este ano. Em vez de duas temporadas de moda, teremos três: inverno 2012, verão 2012/13 e inverno 2013. Uau, pra que tantas, você pergunta! Para adequar suas datas aos prazos da cadeia produtiva, as semanas de moda do Rio e de São Paulo terão que antecipar suas datas. E para acertar o passo vai ser preciso concentrar três lançamentos este ano: janeiro, junho e novembro. Embora seja um problema passageiro – já que voltaremos a ter duas temporadas em 2013 -, ele chega num momento de fragilidade da nossa indústria.

Confira o balanço da temporada carioca de primavera-verão 2012/13

Diante de tantos desafios, deve haver um forte processo de seleção natural na moda no próximo ano. Mas independente de quem sai ou quem fica, é preocupante também o fato de não estarmos “produzindo” uma nova geração de estilistas, especialmente na nossa maior vitrine que é o São Paulo Fashion Week. Nos últimos 20 anos vimos surgir nomes como Alexandre Herchcovitch, André Lima, Neon, Isabela Capeto e João Pimenta, só para citar alguns. E claro, Pedro Lourenço, que adotou de cara uma estratégia internacional. Mas a verdade é que a lista de talentos que conseguiu se estabelecer não vai muito além, apesar das dezenas de cursos de moda espalhados pelo país.

Além disso, temos que nos preparar para a Copa do Mundo. Nenhum estilista vai entrar em campo, mas as atenções sobre nós serão ainda maiores e é uma ótima oportunidade de negócio. Um turista viajado pode encontrar em todo lugar do mundo uma Gucci ou Vuitton. Mas o que faz seu olho brilhar é a descoberta do novo. E aí entra o maior desafio de todos para a moda made in Brazil: ter identidade própria. Então pra frente, Brasil! Vamos mostrar que este cisne tem orgulho de ser verde-e-amarelo.

Lilian Pacce, especial para a revista “Wish”, ano 8, nº 54, maio de 2012

Tags:                                                        

Compartilhar