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Lá vem a noiva de…

28.04.2011

Por mais que a modernidade torça o nariz pra pompa da monarquia, o assunto é puro entretenimento. Não sou das pessoas mais ligadas à família real britânica, mas também não me culpo. Afinal eles se esforçaram bastante pra se manter à sombra do noticiário desde a trágica morte da princesa Diana, em 1997. Mas agora tudo mudou. O mundo acompanha cada lance do casamento da jovem plebeia Kate Middleton com o príncipe William, que é o segundo na linha de sucessão ao trono.

E a Clarence House não poderia adotar melhor estratégia de marketing do que a de manter segredo absoluto sobre o vestido da noiva. Claro que eles atribuem isso à tradição de não estragar a surpresa do modelo para o noivo. Mas há algo mais envolvido nisso – e, by the way, o marido William vai ser mesmo o último a saber, pois até que Kate o encontre amanhã no altar da abadia de Westminster, o mundo terá visto todos os detalhes do tal vestido.

ReproduçãoKate Middleton

Se o modelo azul de jérsei drapeado, da estilista brasileira Daniella Helayel da marca Issa, usado por Kate no dia do anúncio do noivado já virou até vestido de boneca, imagine o vestido de noiva. E se um vestido de noiva já surta qualquer mulher, imagina uma futura rainha… E mais do que isso, o modelo escolhido vai ser de fato revelador. Vai simbolizar a princesa do novo milênio – seja lá o que isso representa de fato.

Em 1947, a rainha Elizabeth 2ª se casou com um modelo de Norman Hartnell (que já era estilista oficial da família real britânica). Ricamente bordado com pérolas e cristais, era inspirado na obra-prima “Primavera” de Botticelli e representava a esperança do pós-guerra. Detalhe: o New Look de Christian Dior é do mesmo ano. Ambos atendiam o apelo romântico da época. Já na década de 80, a opulência foi representada pelo vestidão volumoso que Lady Di usou, de mangas bufantes gigantes e cauda de absurdos 7.62 metros – uma criação do ex-casal David e Elizabeth Emanuel.

Corta pra 2011: Kate, por sua vez, já demonstrou várias vezes que é antiostentação. Dizem que o casal foi obrigado a escolher a cerimônia na abadia de Westminster – eles queriam algo menor, em uma capela, mas acabaram cedendo à pressão. Quanto ao lado fashion da futura princesa, a tradicional marca Burberry aparece lado a lado com a casual Issa, da niteroiense Daniella – tudo a ver com o estilo hi-lo promovido pelo ícone de moda atual Michelle Obama e com o zeitgeist de hoje.

ReproduçãoO mistério do vestido

O segredo em torno do criador do vestido está trancafiado sob a coroa da rainha. Mas boatos não faltam: Alice Temperley (que provavelmente assina o vestido de Carole, mãe da noiva), Sarah Burton para Alexander McQueen, Erdem, a desconhecida Sophie Cranston da marca espanhola Libélula e até… a própria Kate, que teria desenhado o modelo!

Mesmo tendo porte de top model, Kate tem que lidar com muitas questões na escolha do vestido. Ela deve escolher um jovem estilista ou um nome tradicional ligado à monarquia? Um modelo exuberante, digno do arquétipo de princesa, ou algo mais minimalista e discreto? Com ou sem cauda? A única coisa que se sabe é que será made in Britain. De qualquer jeito, o modelo em si pede uma bem calculada equação que concilie tradição e modernidade. É preciso também ser absolutamente impecável em 3-D para atender às necessidades de uma era onde a cerimônia vai ser transmitida ao vivo não só pelo rádio ou TV, mas também por toda mídia disponível online, do Twitter ao YouTube. No total, estima-se uma audiência de 2,5 bilhões de pessoas. Isso tudo sem falar nas joias… Como será a tiara de Kate? Algum exemplar guardado nos cofres da London Tower ou simplesmente uma singela coroa de flores? Ficou surpreso? Pois acredite, tudo pode acontecer. E isso tem tudo a ver com tradição: foi com flor de laranjeira no cabelo que a rainha Vitória se casou com seu amado Albert em 1840.

Lilian Pacce, especial para o jornal “O Estado de S.Paulo” em 28/04/2011

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