Gaspard Ulliel e Bonello falam sobre Saint Laurent

05.11.2014

Pausa cinematográfica em plena semana de desfiles de outono-inverno 2015. Paralelamente à semana de moda brasileira chegaram por aqui Gaspard Ulliel e Bertrand Bonello, ator e diretor, respectivamente, pra lançar seu novo trabalho, o filme “Saint Laurent“. Blog LP te explicou: este é o segundo longa do ano sobre a vida de Yves Saint Laurentconsiderado o não-oficial – e é o escolhido da França pra lista de concorrentes ao melhor filme estrangeiro do Oscar 2015.

Assista ao trailer de “Saint Laurent”

O filme retrata o período de 1967 a 1976 e mostra bastante da relação do estilista com Jacques de Bascher, namorado de Karl Lagerfeld, uma paixão cheia de abusos, drogas e noitadas contrastando com a fragilidade de Yves e o dia-a-dia do ateliê. Quem ama roupas vai adorar as cenas diurnas, que falam bastante sobre técnica e tecidos, mas este é um filme pra quem ama moda ou qualquer boa história!

Blog LP entrevistou a dupla durante a visita ao Brasil pra promover o longa e começamos com o papo com Gaspard Ulliel, o protagonista:

Você vem de uma família de moda (o pai é stylist e a mãe produtora de desfiles), certo? Como é sua relação com a moda?
Meus dois pais trabalham com moda, eu cresci em Paris e portanto há uma proximidade inevitável com esse mundo. A verdade é que a fronteira entre o cinema e a moda hoje em dia é bem sutil. Cada vez mais vemos as marcas de moda colaborarem com os atores de cinema. Eu mesmo trabalho há 5 anos com a Chanel pra um perfume.

Dizem que bons modelos devem ser um pouco atores. Qual é a grande diferença pra você trabalhando como ator e modelo?
A experiência que eu tenho com a moda é muito cinematográfica no fim das contas. A campanha que fiz pra Chanel por exemplo é um curta-metragem dirigido pelo Martin Scorsese. Agora vou voltar numa nova campanha pra eles substituindo essa com Scorsese, com um grande cineasta americano, cujo nome ainda não posso revelar, mas ainda é algo que se aproxima do cinema. Continuo tendo a impressão de fazer meu trabalho de ator, é meio que a mesma coisa. A grande diferença da moda pro cinema é o investimento que se faz pra rodar um filme. Quando vamos fazer um shooting de moda pode durar um dia e no máximo uma semana, mas no cinema isso representa 10 semanas, com pelo menos 6 meses de preparação, depois tem a divulgação do filme… Então um grande projeto cinematográfico chega a consumir 2 anos da vida de um ator de maneira muito intensa.

Essa relação te ajudou a entrar no personagem?
Não chegou a ajudar, porque é uma indústria que evoluiu muito e acho que a moda na época de YSL não era o que se tornou hoje.

Já tinha a referência de Saint Laurent?
Sim! Eu sabia que existia Saint Laurent, a parte mais famosa de sua obra, o Le Smoking, La Saharienne, a coleção russa, mas não ia muito mais longe do que isso. Descobri a faceta mais geral por conta do filme, sobretudo sobre o homem e sua intimidade.

O que você usou de base pra construir o personagem?
Li muitas biografias e depois comecei a procurar arquivos televisivos, mas não foi muito fácil, porque há muita, muita coisa dele mais velho, mas dos anos 70 temos pouco documentado. Estudei 4, 5 entrevistas que ele deu pra TV e de fato foi o suficiente pra captar certos gestuais, a forma como se mexia… O interessante é descobrir como funciona o personagem de uma forma geral, uma graça, uma presença, com uma certa flexibilidade pra que depois eu possa me apropriar e trabalhar em cima.

Descobriu alguma curiosidade neste processo de estudos?
Conhecia muito pouco de sua vida privada… Depois algo que me chamou a atenção é que ele mesmo dizia ter fobia, um verdadeiro pânico, de ficar careca. E ele sempre teve uma relação muito importante com seu cabelo. Mudou bastante a cor, estava sempre muito arrumado, com muitos cabeleireiros.

Você assistiu ao outro filme sobre Saint Laurent, vivido por Pierre Niney? Como se sentiu?
Na verdade eu fui assistir ao filme com Pierre Niney assim que terminei o trabalho com Bertrand Bonello e eu cheguei à sala de cinema com uma certa apreensão. E na verdade foi um alívio, porque percebi que eram dois filmes muito diferentes, duas propostas que não se encontram, dois projetos que têm mérito e podem coexistir naturalmente. E mesmo Pierre Niney, que é um ator excelente, propôs algo diferente do que eu fiz.

Leia também a entrevista com Jalil Lespert, de “Yves Saint Laurent”

. Bertrand Bonello, diretor e co-autor do roteiro:

Por que Yves Saint Laurent?
São muitas razões, mas a verdade é que acho que ele é um rockstar e também há uma aura do último grande couturier e eu gostei da possibilidade de mostrar o fim de uma época – e uma época que me interessa, por isso quis remontá-la -, que ele simboliza. É um personagem muito tocante: esse mix de força e fragilidade é muito interessante pra ficção.

O que descobriu no processo de pesquisas pra fazer o roteiro (feito com Thomas Bidegain) que mais te chamou atenção?
Eu voltaria ao que disse agora, esse mix de força e fragilidade – isso me impressionou muito. A fragilidade em si me interessa, porque há a melancolia, a depressão… E a força da mesma forma, porque o permitia criar as coisas.

O filme mostra o lado mais sombrio de Yves, com bastante espaço pras drogas e sua fragilidade psicológica. Você acha que seria possível a mesma abordagem com o apoio de Pierre Bergé?
Sim, eu acho, porque há muitas coisas que ele nunca escondeu. Nada no filme é secreto e Pierre Bergé é o primeiro a dizer que Yves era frágil, drogado, alcoólatra, que ele era promíscuo… Isso não era um problema. A questão é que o filme não passou pelo controle dele e ele gosta de ter o controle de tudo que envolve YSL. Eu queria ter liberdade.

Pierre viu o filme?
Sei que ele assistiu ao filme quando foi lançado na França. Ele me enviou uma mensagem.

Você assistiu ao filme de Jalil Lespert?
Não.

Uma das cenas remonta a famosa foto de Helmut Newton pro Le Smoking. Quais foram as grandes referências estéticas que você priorizou pra criar este universo pro filme?
Quis me aproximar ao máximo das referências estéticas de Saint Laurent. Então Proust, Maria Callas, Marlene Dietrich, o cinema dos anos 40… Tentei fazer com que essas referências aparecessem e isso me ajudou. Nós usamos uma expressão, “phantom esthétique” (algo como um simulador de estética), e eu passei 2 anos e meio usando a mesma phantom esthétique que ele.

Saint Laurent” estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 13/11. Não perca!

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