Biquíni novo pro verão: Marta Reis

29.01.2015

Biquíni é um assunto muito natural pra Marta Reis, mesmo antes dela passar 16 anos trabalhando na Blue Man. Rata de praia, ela procurou a marca exatamente por ter a ver com seu estilo de vida e, de vendedora da loja no Fashion Mall, passou a braço direito de David Azulay na criação das linhas feminina e masculina da etiqueta criada por ele. “Eu fazia marketing e estava a fim de ganhar um dinheiro, então comecei a trabalhar na loja e o David morava perto, sempre passava lá no fim do dia e a gente trocava uma ideia. Daí ele me chamou pra trabalhar na fábrica. Ele me ensinou muito. Eu era aquela cliente que comprava a marca, passava muito tempo na praia, tinha uma porção de biquínis. Era muito fácil pra mim olhar um biquíni e saber o que ia vender muito ou pouco. Fizemos uma dobradinha boa”.

Acompanhe a série “Biquíni novo pro verão” aqui no link!

Foi assim, meio sem querer, que ela se especializou em moda praia, mas com a morte de David em 2009 o fôlego mudou: “Quando ele morreu fiquei muito abalada. Fui pra direção criativa, a marca precisava continuar apesar de tudo… O desfile no teatro Glaucio Gill com o Ney Matogrosso foi a minha despedida daquilo tudo, a 1ª vez que entrei na passarela sem ele. Minha vida toda foi dedicada à Blue Man e eu era muito ligada no David. Saí e não queria mais saber de moda praia. Ia me sentir mal de ir trabalhar em outra marca, fiquei deslocada… O Evandro Mesquita foi assistir o desfile e no mesmo dia me convidou pra fazer o figurino de ‘Hedwig e o Centímetro Enfurecido‘”.

Começou então uma fase totalmente dedicada ao figurino, algo que nunca tinha feito. Fez teatro, cinema, balé (ela veste o bailarino Bruno Cezário) e shows, até que recebeu um convite pra voltar a fazer biquínis, quase 5 anos depois de se afastar deste mercado. E é sobre a etiqueta que leva seu nome, recém-saída do forno, o nosso papo seguindo a série de novas marcas de moda praia – olha só:

Como e quando a marca começou?
Estava fazendo figurino e a Daniela Peres, amiga de muitos anos, me procurou dizendo que estava a fim de abrir uma marca de moda praia e queria que eu fosse sócia. Ela entra como empreendedora, com o suporte da Multiplan (Daniela é filha de José Isaac Peres, o dono do grupo), e eu fico no estilo. Sentamos pra começar no final de 2013 e lançamos em agosto de 2014 com uma coleção que tem um ponto muito em comum entre eu e a Dani, que são pedras semipreciosas brasileiras, com ametista, quartzo… Agora pulamos o inverno pra desenvolver bem a 1ª coleção completa que vamos levar pras feiras, pra mapear bem o público e entrar com tudo na primavera-verão 2015/16.

Onde a marca é vendida hoje?
Na Via Flores e na Fabric & Co no Village Mall. A marca é muito bebê, mas já montamos o showroom no centro empresarial do Barrashopping. Em 6 meses a gente entra no e-commerce. Vamos mostrar as peças das pedras numa feira em Londres em março… Tenho recebido muito convite lá de fora. Milão, Londres… Estou atenta pra estar com o produto certo na hora certa.

Qual foi a maior dificuldade que você encontrou neste começo?
Vai ser pequeno quando você já foi grande pra ver como é! Na Blue Man eu escolhia o Pantone têxtil e mandava desenvolver a cor exclusiva. Quando fui ver o mínimo pra cada cor… O mínimo é sempre muito! Mas quando a gente ultrapassar essa fase é porque tem a moral pra sair com loja própria! Passei por todos os cargos dentro da Blue Man, então tenho uma visão do negócio boa. Vivi muitas situações lá que hoje me ajudam pra estruturar a marca. E tudo que aprendi em figurino fez com que eu ficasse mais detalhista, foquei muito em ajudar as pessoas a ficarem bem com o corpo delas.

Quem é o seu público?
Não quero fazer nada tachado, é algo pra mulheres. Recebi retorno de mulheres de 18 a 70 anos querendo comprar. Se a de 18 usar vou amar; é um público quente que vai à praia todo dia e ainda vai envelhecer comprando comigo. Se uma mulher madura colocar o biquíni de pedra poderosa no iate dela eu vou amar também! Sou mais minimalista, prefiro valorizar a mulher do que a minha peça.

Qual é a faixa de preço?
Os biquínis de pedra são mais caros, ficam entre R$ 320 e R$ 350. Os crochês e estampados, R$ 290. É um preço bacana pro trabalho que é feito. Adoro coisa que dá trabalho pra fazer! Pedra lapidada, bordado, pespontado, crochê… Tudo que alguém bota a mão eu gosto. Interagir artesanalmente tira a padronização.

Como você se inspira?
Adoro viajar e trazer coisas de outros culturas. Sou fissurada em arte! Algumas situações nas artes plásticas indicam pra gente o que vem por aí, então sempre observo o que está rolando no Pompidou, no Met.. Começo a entender pra onde as pessoas estão olhando, vejo proporção, vejo traço, entendo mais ou menos a coisa… E balé! Não tem laboratório melhor pra lycra do que o balé.

E tem alguém especificamente que é referência pra você?
Se a Angelina Jolie botasse meu biquíni, poderia dizer que estou feliz! Admiro mulheres autênticas. Todo mundo fala da Brigitte Bardot e da Jacqueline Kennedy na praia. Mas o que é tão incrível é que elas eram elas mesmas, com biquínis simples, por isso que é chic. É saber o que te veste bem. Põe um lenço, um par de óculos que tem a ver com você… Não é só o biquíni.

Tem alguma marca de moda praia que você admira?
Gostava muito da Blue Man. Hoje acho que a Lenny [Niemeyer] faz um trabalho bonito, com linhas bem executadas. A Vix está agradando, principalmente a Sofia, linha que está pegando bem entre a garotada, acho isso muito legal. Detesto essa coisa de Brasil com gente fantasiada de arara vindo falar comigo. Você pode se comunicar com toda a exuberância da natureza do país na estampa de uma forma sutil, senão vira roupa pra turista.

Qual é o diferencial da sua marca?
Trabalhar sempre com o artesanal, com estamparia que vai por um caminho diferente. Convidei gente que trabalhou comigo na Blue Man e pessoas que admiro pra colaborar. Quero dar espaço pro quem é bom, colocar na ficha técnica o nome dos artistas pras pessoas conhecerem e saberem quem é bom pra contratar também. Estou fazendo tudo em linhas, pensando em idade e em todo tipo de corpo, encaminhando as estampas pras modelagens certas. As pedras, por exemplo, são mais valorizadas pela mulher mais madura, então a modelagem precisa ser maior… Mas o grande diferencial é que a cliente vai poder montar o biquíni dela, pegar um sutiã G e uma calcinha P, que é uma coisa que elas pedem muito.

O que as clientes querem?
Elas querem a bunda empinada e a liberdade de tamanhos! Comprar individualmente a calcinha e o sutiã. Não dá pra prender, tem que liberar tamanhos e modelos pra pessoa comprar feliz, nem que tenha que reduzir o tamanho da coleção pra isso, porque é uma questão de engenharia de produção. É um novo shape do corpo feminino. As meninas magrinhas com peitão, não sei se é porque elas estão colocando peito, mas a calcinha já é menor. Estamos estudando isso e acho que vai ser muito maneiro!

Qual é sua aposta?
Estou fazendo um trabalho de modelagem legal. Lembra aqueles biquínis de enrolar dos anos 80, que ficavam do tamanho que você queria? Estou reeditando isso com double face, com eles saindo do umbigo sem elástico e com franzido no bumbum. Estou pirando nesse lance da mulher adaptar e colocar do jeito dela. Vou com a coleção até um lugar, dali por diante é ela se valorizando.

Tem algum modelo que não pode faltar no catálogo de produtos? A gente vê muita gente fazendo calcinha maior – é uma tendência?
Nesta 1ª coleção completa estou montando uma estrutura básica de modelagem que uma moda praia tem que ter. É engraçado que essa calcinha é típica de calçola americana… As pessoas estão curtindo, achando o maior barato, mas bota pra vender uma menor e ela é engolida! Na realidade das vendas, o biquíni pequeno vende mais! As mulheres, principalmente a brasileira e a carioca, gostam de mostrar o corpo e ninguém quer ficar com a bunda e a barriga branca. Você quer a menor marca possível pra ficar mais bonita quando tira a roupa. O maior é bonito pra um fim de tarde… David [Azulay] dizia: “Você não pode reinventar a roda. Tem certas coisas que são maravilhosas e você nunca pode esquecer que elas são maravilhosas”. As coisas muito elaboradas, cheias de recortes, são legais, mas na praia não funciona.

O que vem por aí na Marta Reis?
Depois de estabelecer essa coleção completa fica mais tranquilo… Vai entrar sunga pros homens e, se Deus quiser, ano que vem entro com bermuda de surfe. Amo fazer masculino e estou trabalhando uma assinatura específica pra eles. É o público mais fiel: você acerta a modelagem do masculino e ele não te larga mais. Essa coleção vem num porte médio e ano que vem entra um mix bem forte. Estou feliz com a volta pra moda e de trabalhar com pessoas que admiro. Mas não vou deixar o figurino; agora tenho que me organizar pra não me enrolar! Assim que a coisa fluir volto pro teatro e pro balé correndo.

Marta Reis: (21) 2249-7909

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