Antonio Slusarz: agora em Londres

27.01.2015

Os brasileiros continuam surpreendendo em Londres. Mariana Jungmann, por exemplo, um dos destaques do mestrado do London College of Fashion, agora desfila no calendário oficial na cidade – mas ela não é a única. O nome do momento é Antonio Slusarz: se não soa estranho, é porque o estilista era um dos nomes por trás da marca Antonio Bizarro, destaque do Rio Moda Hype. O formando do mestrado de moda masculina do LCF foi um dos doze alunos escolhidos pro 1º desfile de encerramento do curso, apresentado durante a Semana de Moda Masculina de Londres. Blog LP conversou com Antonio sobre a mudança de cidade e, claro, sobre a coleção. Confira abaixo!

Alessandro Michele é o novo estilista da Gucci

Você estudou em SC, SP, desfilou no Rio e, agora, em Londres. O que muda em cada cidade e como essas diferenças influenciam seu trabalho?
Tudo tem sido um longo processo de evolução e aperfeiçoamento. Não cresci em uma família vinculada à moda ou superinteressada nesse assunto, foi uma descoberta tardia para mim. Tenho uma vontade constante de entender e aprender, e cada cidade me deu uma visão diferente do que é moda, do que é ser criativo, do que é considerado masculino, de como o homem se relaciona com o design e arte, de como o homem se relaciona com o próprio corpo. Acho que o meu design tem se adaptado a isso tudo.

O que te fez escolher Londres pra estudar?
A cidade tem tradição e história na alfaiataria, foi o berço das mudanças do modo de vestir dos homens. Queria experimentar isso de perto. Foi muito interessante estudar com alfaiates que trabalham nos ateliês da Saville Row, aprendendo sobre a arte de construir roupas. Com certeza a minha atenção pra detalhes, modelagem e acabamentos melhorou muito, e o LCF é bastante rigoroso com todo o processo de design, então você é constantemente estimulado a melhorar. Outro fator interessante é a diversidade cultural da cidade, você é diariamente bombardeado com novas informações e tecnologias.

Você considera as marcas masculinas brasileiras “boring”. Por quê? O que você acha que falta no mercado masculino brasileiro?
Acredito que existem dois fatores no Brasil. 1º falta um comprometimento das nossas marcas em estimular novos pensamentos na moda masculina. São poucos os nomes que vejo desafiando a norma da camiseta + jeans + sneakers. E 2º, nosso mercado editorial não estimula a moda masculina, então as marcas e o consumidor não tem ao que recorrer pra alimentar a imaginação. Poucas publicações como a “Romeu Mag” e “Made in Brazil” fazem esse trabalho criativo. As revistas de lifestyle masculino ficam só no “como pegar mulher”, “o carro da hora” e “cure a ressaca de ontem com esse shake”. Não é o bastante. Em Londres, desafiar a norma e questionar o que nos categoriza como masculino é um exercício constante, porque o que é básico já foi feito, está saturado. Isso é um ponto positivo no Brasil, tem um mercado novo pra explorar.

David Beckham, agora vestido, pra H&M

Conta mais sobre a sua coleção.
Esse projeto envolve alguns desafios pessoais e outros propostos pelo LCF como parte do meu mestrado, como estimular meu uso de cores e padrões, e deixar a cor preta de lado. Começou como uma pesquisa em tecidos tradicionais da histórica rota da seda, e evoluiu pra comunicação urbana, tendo como referência paredes cheias de pôsteres rasgados. São como camadas culturais na mesma roupa. Todos os bordados são construídos com técnica de appliqué, com a sobreposição de tecidos. Os tecidos são sobrepostos, uma máquina grande de bordado reproduz todos os meus traços manuais, e depois tem muito trabalho para remover camadas sem arruinar tudo e encaixar as linhas nos moldes de alfaiataria. Foram quase dois meses de bordado pra terminar os casacos. O aspecto interessante pra mim foi usar os bordados como elemento de construção dos tecidos, e não somente decorativo.

Quais são suas influências e estilistas preferidos?
Gosto das escolas belgas e japonesas, e também posso dizer que os chineses têm uma estética promissora. Meu estilista favorito atualmente é Dries van Noten, mas existem outros nomes fortes no meu coração agora, como Craig Green e Agi & Sam. Minhas referências vem do folclore, filmes sci-fi, estudos de roupas tradicionais, minha curiosidade por estranhezas diárias. Carrego cadernos cheios de recortes de papel, polaróides e pedaços de tecidos.

Quais são os próximos passos?
Ainda estou analisando os caminhos possíveis, mas a minha preferência é continuar trabalhando com criação e desenvolvimento de imagem e produtos. Minha vontade é permanecer na Europa por mais um período.

Quer ver o trabalho dele de perto? Clica na galeria pra ver as fotos!

Yéssica Klein, infohunter do Blog LP direto de Londres

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