Nos looks da posse, o novo estilo do Planalto e da primeira-dama

05.01.2019

Recebi muitos pedidos para comentar os looks da posse do presidente Jair Bolsonaro em 1 de janeiro em Brasília, especialmente os da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Como eu já havia escrito para a revista Época, compartilho com vocês aqui o link da minha análise. E o texto abaixo:

A busca por um novo tom no Planalto

O tom rosê suave e delicado do vestido de zibeline de seda contrastou com o andar duro e desajeitado, pouco acostumado ao salto alto e escarpins, da nova primeira-dama Michelle Bolsonaro na cerimônia de posse de seu marido Jair neste 1º de janeiro de 2019 em Brasília. Michelle seguiu uma cartilha de elegância clássica que tem origem no estilo de Jacqueline Kennedy, que foi primeira-dama dos Estados Unidos e influencia até hoje a moda. Conhecido como estilo Jackie O. (O de Onassis, seu segundo marido após se tornar viúva do presidente John Kennedy), ele prega roupas discretas, tons suaves, bons tecidos — um porto seguro especialmente para quem precisa lapidar sua imagem, manter a simpatia dos 58 milhões de votos que a levaram a tal projeção e acima de tudo conquistar a aprovação de outras dezenas de milhões de brasileiros. Tudo em acordo com o modelo criado pelo ateliê de Marie Lafayette, no bairro de Botafogo no Rio de Janeiro, que já havia feito o vestido de noiva de Michelle em 2013 e a procurou se prontificando a vesti-la a partir de agora.

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Em contrapartida, Paula Mourão, mulher do vice-presidente, general Hamilton Mourão, optou por tom forte, um azulão chamando a atenção, que seria homenagem à cor da bandeira. Mais insegura diante do protocolo do que Michelle, ela no entanto caminhou com suavidade, assim como a agora ex-primeira-dama Marcela Temer. Marcela, que será lembrada para sempre como a “bela e recatada do lar”, seguiu a cartilha de outra Michelle, a Obama, repetindo o vestido de algodão branco da jovem estilista brasiliense Luísa Farani que já havia usado em seu primeiro compromisso público na cerimônia oficial do dia 7 de setembro de 2016. Em seu período na Casa Branca, a ex-primeira-dama americana adotou práticas contemporâneas nas escolhas de seus looks: combinação de peças hi-low (ou seja, mix de peças mais caras com mais baratas), roupas repetidas em compromissos oficiais etc.

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Mas tanto Marcela T quanto Michelle B mais se assemelham a Melania T, a atual primeira-dama americana: as três são loiras, mais de 20 anos mais jovens do que seus maridos, representam uma direita conservadora e chegaram ao “cargo” de maneira algo inesperada. Michelle B, antes mesmo da posse, viveu episódio polêmico semelhante ao de Melania T em visita a crianças imigrantes, quando vestia uma parka da Zara com a frase “I don’t care, do u?” (‘Eu não me importo, e você?”). No caso, Michelle usou uma camiseta com a frase “Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema” – alusão à fala da juíza Gabriela Hardt para o ex-presidente Lula em audiência e Curitiba sobre a operação Lava Jato.

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Entre a mensagem provocativa da camiseta e o delicado rosê do vestido da posse, Michelle terá que encontrar o tom que irá adotar como primeira-dama, atuante e influente na trajetória do marido. E entre um momento e outro de lágrimas e emoção, ela quebrou o protocolo algumas vezes: fez seu discurso em libras (sem antes não disfarçar seu encanto com o intérprete de libras durante o Hino Nacional no Parlatório) e, atendendo ao pedido de “beija, beija” do público, interrompeu seu discurso e se virou para trás para beijar o marido.
Se o vermelho associado ao PT (Partido dos Trabalhadores) virou cor-tabu non grata no novo governo, o azul se destacou como tom oficial na cerimônia. O presidente Jair Bolsonaro vestiu um costume marinho de lã fria Loro Piana confeccionado pelo até então desconhecido alfaiate mineiro radicado no Rio, Santino Gonçalves, da marca SantiBespoke, que criou um pequeno detalhe verde-amarelo na lapela esquerda do paletó anunciando que esta será “a” assinatura de estilo dele e de Bolsonaro.

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O marinho predominou em toda nova equipe de governo, seguido pela gravata majoritariamente azul, com um ou outro adotando o verde. Mas na foto oficial com os 22 ministros (e apenas duas mulheres), quem destoou foi o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo com sua gravata vinho (ou seria vermelha?). E confesso que morri de calor ao ver sua mulher Eduarda Seixas Correa com aquele casaco quase à Harry Potter circulando pela tórrida Brasília.

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